2024 – Um ano decisivo e perigoso

O ano de 2024 iniciou-se com vários conflitos quentes em pontos vitais para a segurança mundial – na Europa Oriental, a guerra da Ucrânia, no Médio Oriente, Israel versus o Hamas. Esta última guerra agravou-se com os Huthis a perturbarem a navegação no Mar Vermelho. Isto para além de outros conflitos menores e crónicos na Ásia e África.

Estes conflitos principais agravaram-se nos últimos tempos: na Ucrânia confirmou-se o fracasso da ofensiva de Kiev e a consolidação das posições russas, uma realidade que pode surpreender a opinião pública euroamericana até agora informada por uma narrativa mediática unilateral e optimista; no Médio-Oriente, a juntar-se aos combates e bombardeamentos em Gaza e na Cisjordânia, há também a ameaça às comunicações Mar-Vermelho - Suez, uma ameaça a todos os títulos inédita, mas que está a acontecer, prejudicando seriamente o comércio mundial.

Estes acontecimentos e o seu desenrolar confirmaram a crise profunda da ordem internacional liberal, deixando-nos frente a uma situação em que o Ocidente euro-americano se encontra mais ou menos isolado face a um “Sul Global”, também ele com muita flutuação e indeterminação. Além disso, dentro desse mesmo Ocidente, quer na Europa, quer nos Estados-Unidos, as forças políticas e a sociedade estão muito divididas quanto às políticas a seguir, seja no conflito ucraniano, seja no Médio-Oriente.y

 

Europa e Estados-Unidos – divisões

Essa divisão na Europa irá apurar-se nas eleições parlamentares europeias do próximo mês de Junho; nos Estados-Unidos a decisão será em Novembro, na repetição, pelos vistos, do duelo Biden-Trump. Na Europa, o novo Parlamento Europeu deve traduzir os equilíbrios entre uma Esquerda de sociais-democratas, socialistas, comunistas e esquerdistas radicais; um centro-direita com centristas, populares e democratas-cristãos; e uma direita identitária e soberanista que, tudo indica deve continuar a crescer nos países principais – na França, na Itália e na Alemanha.

A divisão nos Estados-Unidos, entre Democratas e Republicanos é grande em matéria de valores e política interna. Em política externa é significativa quanto à Ucrânia – os republicanos são mais isolacionistas e sobretudo mais realistas e inclinados para uma negociação que ponha fim ao conflito. Assim uma sondagem do respeitável e respeitado Pew Research Center, dirigida à generalidade dos americanos, 31% acham que os Estados-Unidos estão a dar demasiado apoio à Ucrânia, enquanto 47% acham que dão o necessário ou deviam ainda dar mais. Mas no Partido Republicano é a maioria, 48%, que acha que o apoio é demasiado enquanto 33% acham que é o necessário ou menos que o necessário. Já entre os democratas só 16% acham que é demasiado e 63% acham que é suficiente ou que devia ser maior.

As posições dos dois partidos aproximam-se quanto ao Médio-Oriente, embora o inquérito Pew Research Center (5203 eleitores em princípio de Dezembro passado) mostre que uma maioria de Republicanos e Independentes (73%) e de Democratas (62%) considere que o Hamas tem muita responsabilidade no conflito. Mas 50% dos Democratas acha que o governo de Israel tem também responsabilidade, opinião só partilhada por 21% dos Republicanos. Uma proporção idêntica dos dois partidos (50%) está preocupada com a possibilidade de violência contra os judeus nos Estados-Unidos. Já a percepção da possibilidade de violência contra os muçulmanos é muito diferente: 53% dos Democratas preocupa-se com tal possibilidade, enquanto apenas 22% dos Republicanos, a considera.

Quanto à política da Administração Biden em relação ao conflito, há uma maioria de desaprovação, 41%, contra 35% a favor e 24% indecisos.

Existe a consciência que o ataque do Hamas em 7 de Outubro, pôs ao governo de Netanyahu um dilema trágico e que o tempo está a apertar a política de Tel-Aviv.

 

Unidade quanto à China-Taiwan

Talvez o único ponto de política externa em que Democratas e Republicanos estejam hoje unidos seja em relação à China e Taiwan. Isto pode ver-se uma vez mais nas vésperas de eleição presidencial em Taiwan que teve lugar no passado Sábado, 13 de Janeiro.

Há desde logo as iniciativas quer no Senado, quer na Câmara dos Representantes no sentido de afirmar e confirmar o apoio a Taiwan face a uma teórica tentativa de Pequim de usar da força para a integração.

“O Senado está decidido a apoiar a política de autodefesa de Taiwan e a liberdade do seu povo, através de uma dissuasão efectiva e usando todos os meios do poder dos Estados-Unidos”; salvaguardar as “instituições democráticas” de Taiwan nas vésperas da oitava eleição presidencial da ilha, foi assim uma preocupação no Congresso. A iniciativa a partir de 36 Senadores republicanos e democratas foi aprovada por unanimidade. No Congresso houve uma iniciativa paralela.

A eleição em Taiwan tinha três candidatos fortes: Lai-Ching-te do (Partido Democrático Progressista, PDP) um partido fundado em 1986 e rival do velho Kuomintang, (KMT) o partido nacionalista de Chiang-Kai-Shek. O PDP é um partido liberal em economia e costumes, mas focado na defesa e promoção da identidade de Taiwan, no confronto com a República Popular da China (RPC). O Kuomintang (KMT) é mais conciliador com Pequim. O candidato do KMT era o actual presidente da Câmara de Taipé, Hou Yu-ih, um velho routier da Administração e da política de Taiwan; finalmente estava na corrida Ko-Wen-je, um médico, líder do recém-formado (Agosto de 2019) Partido do Povo de Taiwan. A vitória contra, com 40,1% do voto popular a Lai-Ching-Te do PDP, seguido do candidato do KMT com 33,5%; o terceiro lugar coube a Ko-Wen-je com 26,5%.

Esta vitória do candidato do PDP, um partido pró-independência, que já tinha a presidência e o governo não agradou à RPC. Lai é conhecido por considerar a soberania de Taiwan como “um facto”, não sendo necessária uma declaração unilateral de independência.

O que, naturalmente, provoca grande irritação em Pequim, que não deixou de tentar influenciar por vários processos a eleição, tendo cerca de 200 pessoas sido detidas em Taiwan, sob acusação de pretensa intervenção no processo eleitoral a mando de Pequim. A Voz da América deu amplas referências destas intervenções chinesas para influenciar o resultado eleitoral.

Cauteloso, Joe Biden teve o cuidado de afirmar, depois da eleição, que os Estados-Unidos não apoiam a independência de Taiwan, enquanto o Secretário de Estado Blinken sublinhava a “robustez democrática” do país e dos seus 23 milhões e meio de habitantes.

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