Ao longo dos anos mais recentes tornou-se clara, sobretudo no contexto das relações económicas internacionais, a intensificação das relações Norte-Sul e Sul-Sul, duas tendências que marcam o início do século XXI e que, na perspectiva portuguesa, se desenvolveram ao longo do eixo atlântico. Se, por um lado, a Aliança Atlântica entre os Estados Unidos e a Europa se mantém relevante do ponto de vista estratégico, por outro, é necessária uma actualização do espaço e das parcerias atlânticas mais a Sul. Neste contexto, o Brasil tem surgido como alvo preferencial das empresas e investidores portugueses. No entanto, é hoje imperativo alargar esse espaço de referência a outras economias sul-americanas, onde o Chile não é necessariamente o fim do mundo. Pelo contrário, pode ser o começo para alternativas de negócio e investimento.
Depois de uma trajectória económica menos positiva iniciada ainda durante a governação de Salvador Allende (1970-73) e continuada nos primeiros anos da ditadura de Pinochet (1973-90), o Chile iniciou um caminho de crescimento que perdura até hoje.
Sob a liderança de Augusto Pinochet, o país viveu um dos piores momentos da sua história. No entanto, a performance económica do país no mesmo período foi notória, fruto da implementação de reformas orientadas para o liberalismo económico, dando início ao que mais tarde seria chamado “o milagre chileno.” Assistiu-se a uma total reversão da política económica antes seguida por Salvador Allende, colocando-se em prática medidas inicialmente muito dolorosas, mas que que lançariam as bases para um crescimento económico que hoje sabemos sustentável e uma melhoria das condições de vida da população. A economia voltou a crescer como resultado do novo programa económico, de combate à inflação, abertura do mercado, promoção do empreendorismo privado, estabilidade jurídica no plano dos contractos empresariais negociados, estabilidade no modo de organização da economia e cumprimento dos compromissos económicos assumidos com credores internacionais.
Todas estas mudanças geraram um enorme clima de confiança e levaram ao surgimento de um novo ambiente de negócios no país. O investimento estrangeiro voltou à medida que o Estado reduzia o seu peso na economia, os níveis de pobreza diminuíram, a mobilidade social aumentou e as bases da actual sociedade chilena foram construídas.
Foi assim que, no Chile, o motor de um novo regime de liberdades políticas acabaria por ser gerado pela liberdade económica e pelo sucesso por ela criado, levando ao referendo de 1988 que abriu portas à introdução de um regime político democrático, num processo de transição política reconhecido como pacífico.
Desde então, sob um regime fortemente presidencialista – actualmente liderado por Michelle Bachelet Jeria – o Chile tem crescido num clima de estabilidade política e macroeconómica, sendo hoje encarado como uma das nações mais estáveis e prósperas da América Latina.

