Ainda há uns anos, o sector têxtil e do calçado era apelidado de “tradicional”, condenando-o a um sector sem futuro e incapaz de competir com os preços baixos dos produtos oriundos de outros países, nomeadamente da China. Hoje, o sector conseguiu modernizar-se, ao apostar na tecnologia, na incorporação de novas matérias-primas com elevado valor acrescentado e no design, conseguindo mesmo destacar-se entre as exportações nacionais e afirmando-se como uma área de negócio moderna e com futuro. A visão estratégica das empresas evoluiu, estando hoje absolutamente conscientes da importância fundamental da internacionalização para a sua sobrevivência no mundo actual, cada vez mais exigente e competitivo.
A actual indústria do calçado e vestuário é mais pequena, quer em número de empresas e de trabalhadores, quer em volume de negócios quando comparada com a dimensão no seu auge. Contudo, a forma como reagiu à crise económica, apostando na modernização e na internacionalização, faz com que esteja a recuperar rapidamente o terreno perdido. Igualmente importante é a procura de novos mercados que não os habituais, saindo da Europa e procurando entrar nas economias em expansão.
Trata-se, efectivamente, de uma indústria que tem vindo a bater recordes nas exportações todos os anos e é com orgulho que o sector apresenta resultados impressionantes: Portugal ocupa a 5ª posição como maior exportador de têxteis-lar a nível mundial e, embora as estatísticas relativamente a 2014 não estejam ainda divulgadas, prevê-se que as exportações de produtos têxteis tenham crescido cerca de 9,2%, para valores que ultrapassam os 4,5 mil milhões de euros e que as vendas de calçado ao exterior aumentem 8,8%, ultrapassando os 1,8 mil milhões de euros. São valores impressionantes e que traduzem um crescimento contínuo nos últimos anos.
Os segredos deste êxito podem ser encontrados num conjunto de factores. Contudo, o acreditar na etiqueta Made in Portugal, desenvolvida através do investimento em equipas de design próprias, parece ser o factor determinante. Outros aspectos também importantes são a grande flexibilidade existente para a satisfação das exigências dos clientes, aliadas à capacidade de satisfazer as encomendas com rapidez e eficiência. Destacam-se, ainda, a inovação com o uso de materiais diferentes, uma grande criatividade e uma aposta clara na qualidade.
Estes factores estão na origem da aposta feita pelo sector na gama média/alta, permitindo assim ultrapassar o desafio da concorrência dos produtos de gama baixa produzidos na China.
O sector interroga-se presentemente sobre a manutenção deste ritmo de crescimento no futuro, face às incertezas que este nos traz. No horizonte vislumbram-se oportunidades e desafios. Desde logo, a evolução dos preços do petróleo: a continuar, a actual baixa acentuada dos preços poderá criar problemas em alguns dos novos mercados de exportação, como Angola, os países produtores de petróleo do Médio Oriente e a Rússia - neste último caso ainda agravado pelas consequências do embargo.
O futuro apresenta também alguns aspectos positivos. Desde logo a desvalorização do euro face ao dólar que, a manter-se, tornará os nossos produtos muito mais competitivos, prevendo-se um aumento das exportações para países como os EUA. Por outro lado, a negociação da futura Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP na sigla inglesa por que é mais conhecida) abre perspectivas muito positivas para o futuro deste sector. De acordo com o estudo sobre o impacto do TTIP na economia portuguesa, que foi encomendado pelo Governo, com o patrocínio da Câmara de Comércio e da FLAD, os têxteis e o calçado nacionais poderão sofrer um impacto muito positivo com a abertura deste imenso mercado.

