Um dos mais graves problemas do México e do governo mexicano é a existência no país de organizações criminosas muito poderosas ligadas ao narcotráfico. As drogas encaminhadas para o mercado norte-americano são cocaína, heroína, marijuana, metanfetamina e fentanil.
Actualmente, os cartéis mais importantes são o Cartel de Sinaloa e o Cartel de Jalisco Nova geração (CJNG). Jalisco resultou de uma secessão do Sinaloa em 2010 e está envolvido noutros negócios criminosos, como extorsão e tráfico de pessoas. Outros cartéis são Beltrán-Lovya, Los Zetas, Guerreros Unidos, Cartel do Golfo, Cartel Juarez, Los Rojos e La Familia Michoacana.
Inicialmente, os cartéis mexicanos serviam de transportadores das drogas dos seus congéneres colombianos, como os Cartéis de Medellin e de Cali, para os Estados Unidos.
Porque o incentivo e causa de todo este tráfico criminoso é o mercado da população norte-americana, viciada e consumidora. O papel destes cartéis é a grande distribuição, com a passagem clandestina fronteiriça das drogas. E uma vez em solo americano, a distribuição passa para bandos locais nas cidades.
O problema principal do combate ao narcotráfico é que é um comércio em que a escala do custo entre a produção e o consumidor final é tão grande, que deixa fundos vultuosos para a corrupção, tornando cúmplices, as mais das vezes, aqueles que a deviam reprimir – juízes, polícias, políticos. Além disso, os cartéis têm o seu núcleo de operacionais, que eliminam ou chantageiam os que os combatem e resistem a ser corrompidos.
O problema é muito sério para o governo mexicano e tem merecido a atenção prioritária dos governantes: assim, o presidente Felipe Calderón, eleito em 2006, lançou uma violenta campanha em que empenhou forças militares, partindo do princípio de que as forças de segurança local estavam ou podiam estar infiltradas e corrompidas pelos cartéis. Nestas operações foi apoiado pelos Estados Unidos numa campanha de localização e neutralização, por liquidação ou captura, de “barões” narcos. Ao longo do mandato de Calderón, seis anos entre 2006 e 2012, houve no México 120.000 homicídios. Crê-se que entre metade a um terço destes números se referem a casos ligados ao narcotráfico.
Os seus sucessores imediatos na presidência, Enrique Peña Nieto e Andrés Lopez Obrador, seguiram políticas mais apaziguadoras com os cartéis da droga. Que também não resultaram e levaram a críticas de corrupção e acusações à própria classe política a alto nível. Ao mesmo tempo, na presidência de Obrador, tornaram-se frequentes os desaparecimentos de pessoas que Karla Quintana, presidente da Comissão Nacional de Procura, indicou como 110.000.
O governo dos Estados Unidos, cuja população consumidora de droga é, ao mesmo tempo, a principal causadora e vítima do narcotráfico, tem estado desde sempre muito activo na luta contra os cartéis. E a Administração Trump, perante o flagelo que drogas baratas como o fentanil têm significado (nos anos de 2022 e 2023 ultrapassaram os 70 000 mortos nos EUA por overdose), está disposta a ir mais longe na escalada de meios. Donald Trump já fez declarar os cartéis como organizações terroristas. Conseguiu, para já, que o México reforçasse o controlo das fronteiras, mas, segundo o NY Times, poderia estar a considerar uma escalada no combate contra os cartéis mexicanos, que incluísse raids de forças especiais norte-americanas dentro do próprio México. Contra tal, em nome da soberania nacional, falou a presidente Claudia Sheinbaum
Isto poderia significar uma “invasão” de um país vizinho e as autoridades mexicanas reagiram mal às notícias. No passado, houve envolvimentos deste tipo, como a operação “causa justa”, em 1989 no tempo de George H.W. Bush, ao Panamá, que levou à captura sob acusação de narcotraficante do presidente Manuel Noriega. Além disso, os Estados Unidos e as suas agências têm cooperado activamente com os governos da Colômbia e do Peru em operações anti-droga.
Actualmente, de declarações de Trump e do Secretário de Estado Marco Rubio, pode pensar-se em medidas mais vastas. As acusações neste momento envolvem o próprio presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que teria ligações ao Cartel de Los Soles, tendo a US Navy deslocado navios e fuzileiros navais para as zonas costeiras do país. O problema de intervenções em países soberanos, mesmo sob a justa causa do combate ao crime organizado, é permitir que os ameaçados, neste caso Maduro, recobrem algum apoio popular, argumentando a agressão do vizinho do Norte.
Já é diferente a questão do México, mas as intervenções devem sempre ser coordenadas com o governo do país. Mesmo correndo o risco, em caso de operações especiais, de haver uma “fuga” de informação que afecte o resultado.
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