No passado dia 13 de Março, um telegrama da Reuters divulgava uma notícia altamente positiva para a economia de Moçambique: a aprovação pela Administração Trump um empréstimo pelo Export-Import Bank of the United States de cerca de cinco mil milhões de US Dólares para o projecto LNG da Total Energies no norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado.
A exploração do gás natural situado off-shore, a cerca de 50 milhas da costa é, há mais de uma década, considerada a grande esperança para o desenvolvimento do país. Infelizmente, a partir de Outubro de 2017, a região foi assolada por guerrilheiros jihadistas que causaram muitas baixas entre a população e perturbaram os trabalhos de instalação das estruturas em terra para a operação do gás natural. Em 2021, depois do ataque terrorista a Afungi quer a Total Energies, francesa, quer a norte-americana ExxonMobil, pararam as actividades.
Perante a incapacidade das forças militares e de segurança moçambicanas controlarem os grupos radicais, houve que recorrer primeiro a uma força interafricana, depois a uma companhia russa de mercenários. Mas sem grande sucesso. Os Jihadistas do Ansar al-Sunna, também às vezes denominado Al-Shabaab, infiltravam-se a partir da região sueste da República Democrática do Congo, área mais ou menos caótica em termos de poder do Estado, ordem e lei. Também o Daesh ou Estado Islâmico reivindicou, em Março de 2020, o ataque e ocupação temporária da cidade de Mocímboa da Praia. Os grupos terroristas semeavam o medo entre as populações, procedendo à decapitação de civis, especialmente de cristãos.
No Verão de 2021, perante o crescente caos no Norte de Moçambique, o governo de Maputo recorreu ao governo do Ruanda numa diligência possivelmente mediada pelo presidente francês, Emmanuel Macron. O primeiro contingente de mil homens da RDF (Rwandan Defense Force) ocupou pontos estratégicos dos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, onde coincidiram com forças da SAMIM (Southern African Development Community Mission).
Quase cinco anos depois do envolvimento dos ruandeses, o seu contingente foi sendo progressivamente aumentado, estando já hoje nos 2500 homens. O seu papel foi decisivo para a contenção dos grupos terroristas, mas estes não foram extintos, embora tivessem sido afastados das áreas contíguas ao projecto LNG.
Mas por ora, toda a informação vai no sentido da disposição do presidente Kagame do Ruanda de manter as tropas do seu país em Moçambique. A União Europeia e a França têm contribuído financeiramente para a força militar de Kigali.
Entretanto, a opinião dos analistas mais próximos é que se os ruandeses retirarem, será difícil manter a segurança na província. Moçambique passa por ter, depois da Rússia e do Catar, as maiores reservas de gás natural do mundo.
Outro ponto positivo na situação de Moçambique foi o encontro entre Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, no dia 23 de Março. Venâncio, apesar de ter sido marginalizado pelo seu partido Podemos, continua a ser o líder popular da oposição moçambicana. Viu-se como os seus apelos mobilizaram a população das grandes cidades, nos protestos pós-eleitorais, não há dúvida que ele, com a sua oratória, mobilizou; e qualquer solução pacífica tinha de passar por ele.
E, verdade seja dita, as semanas de violência pós-eleitoral deixaram muita destruição e deram cabo de muitas empresas, sobretudo pequenas e médias, que foram saqueadas e que não voltarão a abrir. Também os preços da alimentação dispararam internacionalmente. E os distúrbios agudizaram ainda mais a crise. Por exemplo, o saco de 25 quilos de arroz, um produto essencial da cesta básica das famílias, que antes da crise custava 1500 meticais, passou para mais de 3000.
De qualquer forma, entre a abertura norte-americana para o projecto de gás natural e a reconciliação simbolizada pelo encontro Chapo-Mondlane, há alguns sinais de esperança em Moçambique.

