Donald Trump e a nova economia dos EUA

Há uma característica importante da vitória, em 5 de Novembro, de Trump e do Partido Republicano – a Política passa à frente da Economia. Isso ficou claro, não só na plataforma económica do GOP, como em declarações da nova equipa em Washington.

Marco Rubio, descendente de emigrados cubanos que, como Secretário de Estado, vai ser o responsável pela Política Externa, afirmou muito claramente que “às vezes o que é bom para os mercados não é o que é melhor para o povo americano”.

Esta é uma das características da nova política económica, do “new conservative economic populism”, ligado aos vencedores das eleições de 5 de Novembro: a política, o interesse nacional e o bem comum dos americanos vão sempre ser determinantes nas decisões económicas.

Quem se lembra da tradição republicana no século passado, não tem razões para ficar tão surpreendido como isso: embora desde o New Deal a ideia fosse, para os democratas, classe operária e trabalhadores fabris, mais Estado na Economia, e para os republicanos, classe média e empresários, menos Estado, a verdade é que, quer Nixon, quer Reagan tiveram grande apoio dos blue-collars nas maiores vitórias da história eleitoral americana, ambas em reeleições, Nixon em 1972 e Reagan em 1984, que venceram em 49 dos 50 Estados. E esse voto veio do patriotismo da “maioria silenciosa” e dos nacionais conservadores. E também foi um presidente republicano, Eisenhower quem, no seu “Farewell Adress” em 17 de Janeiro de 1961, avisou sobre os riscos do “misplaced power” “by the militar-industrial complex”.

Deslumbrados pela vitória na Guerra Fria, uma vitória que teve a ver com a Administração Reagan e o seu realismo, e que George H. Bush soube também realisticamente concluir, procurando não desesperar nem humilhar os russos, os democratas de Clinton procuraram impôr as instituições americanas ao resto do mundo. As elites euroamericanas globalistas apostaram nesse processo, cometendo grandes erros de interpretação, como a ideia de que a adopção do capitalismo, mesmo vigiado, levaria à democratização da China comunista. Os neoconservadores como George W. Bush e Dick Cheney puseram em causa os equilíbrios no Médio Oriente. Obama derrotou John McCain, que sofreu as consequências de a crise de 2008 vir numa Administração republicana; e reelegeu-se facilmente contra o candidato republicano, o empresário mórmon Mitt Romney.

Trump e o trumpismo mudaram numa década o partido republicano e trouxeram para o GOP, em resultado da desindustrialização, do globalismo e wokismo dos Clinton e das elites democratas, a maioria da classe trabalhadora ou do que dela resta na América.

Trump tem no seu programa económico-financeiro baixar os impostos, subir direitos de importação e desenvolver a produção de petróleo e gás. Baixar impostos é uma medida clássica dos Republicanos, desde Reagan; taxar os produtos estrangeiros entre 10% e 20% para europeus, mas até aos 60% para os chineses, é uma forma de estimular os produtos e as indústrias americanas; quanto aos “combustíveis fósseis” e seu incremento não é de estranhar para um moderadamente céptico climático, como é o 47º presidente.

A equipa levanta mixed thoughts e mixed feelings. O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, um bilionário criador do Key Square Group, tem a fórmula 3/3/3 – reduzir o déficit federal (que anda pelos 7% do PNB) para 3%; e 3% é a meta para o crescimento da economia em 2025; o outro 3 são 3 milhões de barris/dia de petróleo, a acrescentar à produção actual. O indicado Secretário do Comércio, Howard Lutnick, é um protecionista, tem servido como responsável da equipa de transição de Trump, sendo muito próximo do Presidente. Lutnick é presidente da Cantor Fitzgerald, uma empresa de serviços financeiros. Kevin Hassett e Russell Vought, dois nomes da anterior Administração Trump, voltam respectivamente aos lugares de direcção do Office of Management and Budget, e do White House National Economic Council. Outra figura importante é Doug Burgum, ex governador do Dakota Norte e novo Secretário do Interior e “Energy Czar”.

A guerra comercial com a China, começada em 2018 na primeira Administração Trump e continuada por Joe Biden, vai ter uma escalada com a promessa de Trump de elevar os direitos alfandegários. Resta saber no que acabará.

Ser Associado da Câmara de Comércio significa fazer parte de uma instituição que foi pioneira do associativismo em Portugal.

 

Os nossos Associados dispõem do acesso, em exclusividade, a um conjunto de ferramentas facilitadoras da gestão e organização das respectivas empresas.