O Mercosul e a Europa. A Itália vai decidir

Neste fim de ano ensombrado pelos ventos de guerra na Europa Oriental e no Médio Oriente, com a Euro América sob os efeitos da inflacção e o tema seríssimo da imigração ilegal, o anúncio do Acordo Europa Mercosul e a Presidente da Comissão posando em Montevideu com os presidentes do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai, foi uma espécie de momento alto e feliz para os optimistas que pensam que a Europa, a União Europeia a 27, continua e continuará, apesar das contradições, dos populismos, dos nacionalismos, de Trump.

As negociações vinham-se arrastando há um quarto de século e finalmente, a 6 de Dezembro, Ursula Von der Leyen chegou a um acordo com os quatro países fundadores do Mercosul. A Venezuela, que entrara como membro em 2012, foi suspensa indefinidamente por “déficit democrático” em 2016. A Bolívia está em vias de concluir o processo de passagem de associado a membro de pleno direito.
O objectivo do Acordo é criar um mercado de mais de 700 milhões de pessoas. Atualmente o comércio entre os dois blocos está, no conjunto, relativamente equilibrado com valores que, para os dez primeiros países europeus, rondam os 50 mil milhões de euros de parte a parte, segundo números de 2023. O Acordo para suprimir direitos de importação seria sobre os produtos agrícolas do Mercosul e os carros, máquinas e produtos farmacêuticos da Europa

Mas já visto caso a caso, a situação é diferente: a Alemanha exporta 9,6 mil milhões e importa 6,9 mil milhões de Euros; já a Holanda exportou 6,2 mil milhões e importou 13,3 mil milhões; Portugal, o nono na lista, exportou 1,1 mil milhões e importou 3,9 mil milhões.

Falta ainda, entretanto, a tradução do Acordo para a língua de cada um dos 27 e a ratificação final pelos países. De um modo geral, o apoio ou não apoio à ratificação tem a ver com a pressão interna dos críticos que se queixam que uma grande quantidade de produtos agrícolas baratos e de baixa qualidade vai inundar os mercados europeus, sublinhando que os agricultores sul-americanos não têm de seguir as caras regras de “protecção climática” que os europeus têm de cumprir.

Segundo as grandes confederações de agricultores franceses, os produtos a chegar vão desde 100 mil toneladas de bife, a 180 mil toneladas de galináceos, 80 mil toneladas de açúcar e 3.400 000 toneladas de milho.
Os agricultores austríacos estão também muito alarmados e revoltados, e rejeitaram uma oferta da Comissão Europeia de os compensar, considerando-a um “suborno”. Em 2019, o acordo alcançado foi bloqueado por países como a França, a Áustria e a Irlanda, em defesa do seu sector agrícola. Mas neste momento a França, sozinha, não tem capacidade para bloquear o Acordo, precisando para o fazer de encontrar pelo menos três Estados que com ela representem 35% da população europeia. Aqui pode contar com a Polónia, que já se declarou contra, além da Áustria e da Irlanda.

Quais são as novidades do Acordo? Há uma que pode levantar problemas, como a cláusula relativa ao respeito pelos acordos do Clima de Paris. Entretanto, Javier Milei, presidente da Argentina, depois de Trump ganhar as eleições já disse que a Argentina também podia sair dos Acordos de Paris.

O mercado automóvel é também importante e os signatários preveem que entre 18 e 30 anos os direitos sobre os veículos serão reduzidos a zero. E desaparecem os impostos sobre as exportações brasileiras de níquel, cobre, alumínio e minérios para o aço.

A maioria dos países europeus estão prontos a apoiar, mas a decisão vai acabar por ir parar à Itália. Contra estão a França, a Polónia, a Áustria e a Irlanda, mas não chegam aos 35% da população para bloquear o negócio. Ficam-se pelos 30%. Na Itália há uma divisão das forças económicas – a indústria representada pela Confindústria, logicamente apoia. O Lobby Coldiretti dos agricultores contraria. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, da Forza Italia, apoia; mas o líder da Lega, Matteo Salvini, está contra.

Meloni tem oscilado, mas será ela, a presidente do Conselho, e hoje a europeia mais influente, segundo o Politico, a decidir. O seu ministro da Agricultura, Francesco Lollobrigida, é quem tem o dossier. E se, por um lado, a Itália tem fortes laços históricos e culturais com a Argentina e o Brasil, por outro, a agricultura é, para o governo italiano, de importância estratégica. No fim será Meloni a decidir.

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