França, a economia da política

O processo político francês recente foi rápido, mas as consequências vão ser demoradas: perante a vitória do Rassemblement National (RN) de Marine Le Pen e Jordan Bardella nas eleições europeias de 9 de junho, o presidente Macron tomou a iniciativa de alterar o calendário político e dissolver o Parlamento francês. Na lógica desta decisão estava precipitar os acontecimentos, cortando a espera de crescimento continuado dos nacionalistas; Macron temia ficar à mercê de uma “convergência de extremos” no Parlamento que viesse a pôr em causa a maioria relativa da “Macronia”.

Por outro lado, e dada a experiência histórica das coabitações, o presidente, na pior hipótese para ele – o caso de uma maioria absoluta do RN – prestar-se-ia a uma coabitação com um governo chefiado pelo jovem Bardella. Nessa hipótese, Macron confiava nas experiências anteriores de coabitações, geralmente mais bem-sucedidas para os inquilinos do Eliseu que para os de Matignon.

Só que, embora o RN fosse, de longe, o primeiro partido em votos populares, o medo nos partidos do centro e da esquerda do sucesso da direita nacionalista radical levou, à pressão, a duas coisas: primeiro, logo a seguir ao anúncio pelo Presidente das eleições legislativas antecipadas, à formação de uma coligação de esquerda e extrema-esquerda, o Nouveau Front Populaire (NFP). Ali, sob esta ressuscitada etiqueta de 1936, juntaram-se o La France Insoumise (LFI) de Mélenchon, o partido comunista francês, os verdes e os socialistas. 

A segunda medida – in extremis, logo a seguir ao conhecimento dos resultados da primeira volta – foi o cruzar de votos da extrema-esquerda do LFI ao centro-direita do Ensemble macroniano para impedir a vitória do RN que, com mais de dez milhões de sufrágios populares, ficara à frente na maioria das circunscrições. Como alguns disseram, foi uma espécie de “geringonça republicana” para barrar o caminho à temida “extrema-direita”.

O sistema funcionou e, para espanto de alguns que desejavam ou temiam uma maioria absoluta, ou pelo menos relativa, do RN, foi a coligação de esquerda NFP, o primeiro bloco com 182 deputados e o Ensemble macroniano o segundo com 163; o RN, embora com a maioria dos votos populares, ficou em terceiro lugar, com 143 deputados.

Se os mercados tinham mostrado alguma apreensão perante o programa económico-social do Rassemblement Nacional, não parece que tivessem muito a celebrar com a vitória do NFP. E mesmo considerando a recusa de Macron em aceitar as pressões da esquerda para nomear um chefe de governo a partir das indicações da coligação esquerdista NFP, uma coisa subsiste e está por agora na mesa: a instabilidade crónica por não aparecer qualquer solução à vista.

Ainda por cima, as eleições vêm em cima de uma situação económico-financeira que não é famosa; a França tem uma das maiores dívidas públicas da União Europeia, equivalente a 110% do PNB. A vitória da esquerda, embora limitada e sem aparente possibilidade de formar governo estável, não pode também ser esquecida. O programa comum tem medidas como a passagem do salário mínimo para 1600 euros e da reforma para os 60 anos, que a maioria dos observadores e comentadores económicos vê como incomportáveis para o país. Um aumento de 10% nos salários da função pública está também previsto, bem como subsídios generosos de renda de casa. Daqui, destas medidas a curto prazo, calcula-se o aumento do gasto público entre 150 e 225 mil milhões de euros. Segundo os responsáveis da coligação NFP, os aumentos fiscais para os ricos financiarão, do lado da receita, esse aumento da despesa.

Durante o mês de junho, o índice bolsista principal francês, o CAC 40, já fora descendo 6%, adiantando um resultado que, então, era mais a pensar na vitória do RN, também visto como socialmente “despesista”. Assim, em junho, três grandes bancos franceses, o BPN Paribas, a Societé Générale e o Crédit Agricole, que tinham caído cerca de 10% desde o anúncio da dissolução, tiveram na segunda-feira uma ligeira recuperação, mas depois caíram.

Sobre os riscos da crise financeira, o ainda ministro da economia e finanças, Bruno Le Maire, manifestou a sua opinião sobre um possível governo da esquerda unida. Acrescentou que para manter o déficit orçamental da França em 5,1%, é necessária grande contenção da despesa, de 25 mil milhões de euros. Ao mesmo tempo, em 11 de julho, avisou que quanto mais durar o período de incerteza política, mais grave será o impacto económico.

No mesmo dia, um inquérito do grupo de sondagens Odoxa-Backbone para Le Figaro, 73% dos franceses são contra um governo exclusivamente da esquerda unida. Que, entretanto, até terça-feira 16 de julho, não conseguia pôr-se de acordo sob o nome do primeiro ministro a indicar e encontrava-se à beira da ruptura entre socialistas, verdes e comunistas por um lado e “insubmissos” por outro.

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