50 Anos - O petróleo em duas guerras

Há cinquenta anos precisos, acontecia outra guerra no Médio Oriente; então foi uma guerra convencional, com regras, tanto quanto é possível impor regras à guerra. Mas desde os tratados de Westfalia e da Convenção de Genebra é que a guerra, pelo menos no mundo euroamericano, tem regras: regras que distinguem combatentes de não combatentes, militares de civis; regras que regulam a sorte dos prisioneiros de guerra, e outras.

Desta vez, na madrugada de Sábado, 7 de Outubro, os atacantes do movimento Hamas (Hamas em árabe quer dizer Zelo, Fervor, Entusiasmo, e é em parte um acrónimo de Harakat al-Muqawama al-Islamiya – HAMAS – Movimento de Resistência Islâmica) parece que quiseram, ostensivamente, mostrar o seu desprezo por essa lei da guerra, encarniçando-se contra crianças, mulheres e velhos indefesos, e registando essas acções em filmes que lançaram nas redes sociais, ufanos do que fizeram.

No outro Yom Kippur foram os exércitos do Egipto e da Síria que atacaram Israel em duas frentes, avançando os primeiros no Sinai e os segundos nas alturas do Golã. Israel foi apanhado de surpresa, com os fiéis a rezar e os reservistas em casa. Num primeiro momento tudo parecia perdido. O balanço desses primeiros dias de combates foi terrível para Israel, habituado a vencer depressa e com poucas baixas os exércitos árabes: perto de 3.000 militares mortos, 15.000 feridos, mais de 1.000 feitos prisioneiros.

Depois, passado o primeiro choque, reagiram, resistiram e ganharam. A primeira-ministra Golda Meir, mulher de ferro, e o ministro da Defesa, Moshe Dayan, conseguiram suster o medo, mobilizar as tropas, esperar a ajuda externa dos Estados Unidos de Nixon e Kissinger, e acabaram a ganhar.

Há cinquenta anos foi mais fácil, por todas as razões, lidar com uma ofensiva clássica de exércitos regulares contra um território considerado inimigo. Mais fácil no plano ético-jurídico, entenda-se. Israel mobilizou à pressão as suas forças, os Americanos, apesar das divergências dentro do Gabinete, expediram os recursos necessários, os combates aconteceram e chegou-se a um cessar-fogo. Curiosamente, o Presidente egípcio, Anwar Al-Sadat, seria, anos depois, o protagonista da negociação com Israel dos Acordos de Oslo, que lhe iria custar a vida às mãos de um paranóico radical.

Na ocasião, em represália, os países árabes da AOPEC cortaram os fornecimentos de oil and gas aos Estados Unidos, originando uma profunda crise energética no chamado Mundo Livre.

O dilema trágico de Israel

Desta vez o cenário de partida é diferente: o Hamas é um movimento activista radical sunita, que não hesitou em praticar e registar uma série de crimes de guerra. Para sublinhar a gravidade, vem a ostentação, com imagens de civis israelitas – mulheres, crianças e velhos – assassinados e raptados e a sua exibição como reféns. Haverá, com certeza, uma acumulação de agravos palestinianos, mas em todo o caso é uma longa casuística e, se pode dar algum desconto à barbárie cometida, não pode de modo algum servir de justificação ou equilíbrio moral. Nem de atenuante.

Israel fica na mão com uma alternativa diabólica: ou martela a faixa de Gaza com a aviação e artilharia, causando um rosário de “vítimas colaterais” – e pode esperar a censura e a reprovação, mesmo do campo dos seus apoiantes ocidentais – ou se autocontrola, procura negociar reféns versus represálias e pode ser julgado como tímido e fraco.

Mas quais as consequências para a economia mundial destes focos de violência e guerra no Médio Oriente, numa altura em que já a guerra da Ucrânia despertara, por toda a Europa, os espectros da carestia e da inflacção com a subida dos preços da energia e da alimentação? A perspectiva do conflito chegou aos dirigentes e funcionários do Banco Mundial e do FMI reunidos em Marraquexe, Marrocos, no fim de semana dos ataques do Hamas.

O diagnóstico do Fundo era no sentido, já sabido, que a recuperação estava atrasada; os participantes tinham as contas feitas com as consequências da guerra Ucrânia-Rússia, e os acontecimentos de Gaza só os surpreenderam e preocuparam mais.

Ajay Banga, de cidadania americana e indiana, o presidente do Banco Mundial, falando depois de conhecidos os ataques do Hamas, foi claro em afirmar que a guerra da Europa Oriental, ao tocar nos sectores da energia e alimentação, tivera esses efeitos negativos. E que, quanto à nova frente, registava a subida dos preços do crude, que se estavam a estabilizar depois da alta do Verão, terem subido cerca de 5% no fim da semana, mas estavam a voltar à estabilidade na Segunda-Feira, 9 de Outubro. Neste momento a opinião dominante entre os analistas era que, não sendo Israel nem Gaza produtores significativos, os aumentos do petróleo só viriam a verificar-se se um grande país produtor, como o Irão (próximo do Hezbolah que, apesar de xiita, nesta altura é solidário com o Hamas) viesse a envolver-se.

Ou então se, num gesto de neutralidade colaborante, se formasse uma frente comum anti-Estados Unidos-Israel, onde alinhassem os maiores exportadores mundiais – a Rússia, a Arábia Saudita e o Irão. Mas não parece que estejam reunidas as condições para tal, devido à velha inimizade Arábia Saudita-Irão, que apesar de mediada pela China de Pequim, subsiste. Como subsistem laços entre Israel e a Rússia, e princípio cd negociação estável entre Israel e os Sauditas.

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