
Japão. A 3ª maior economia mundial e 4º maior player comercial!
Neste artigo tem acesso a informação diversificada sobre este mercado que lhe permite ter uma visão geral sobre esta geografia e conhecer as relações que tem mantido com Portugal.
Ao longo das duas últimas décadas que o centro de gravidade da economia mundial se vem deslocando em direção ao que hoje chamamos Indo-Pacífico, com especial destaque para o Sudeste asiático, que assim se vem tornando uma das realidades económicas mais vivas e dinâmicas de todo o mundo. Não se trata, por isso, de uma realidade nova. Mas a crise provocada pela pandemia poderá ter acelerado esse processo, uma vez que a região está a recuperar mais rapidamente do que outras. Desde há muito uma economia desenvolvida e tecnologicamente avançada, o Japão permanece um dos pilares estruturantes da economia desta região.
Trata-se da 3ª maior economia mundial, com um PIB avaliado em USD 5 103,1 mil milhões (2021), do 4º maior player comercial, com trocas estimadas em USD 1,276 mil milhões (2020), do 1º emissor de IDE (2021), em virtude da aposta que o país vem fazendo em M&A em diversas geografias, da 6ª mais competitiva economia do mundo - 3ª na região onde é apenas ultrapassada por Singapura e por Hong Kong – e do mercado com o 6º maior poder de compra da região (PIB per capita de USD 40.704,3).
Mesmo não apresentando taxas de crescimento particularmente elevadas ao longo dos últimos anos – o que deve ser considerado normal em virtude da maturidade desta economia, ao contrário de muitos dos seus vizinhos que pela sua condição de economias emergentes tendem a apresentar taxas de crescimento mais significativas – o Japão permanece uma peça central na economia, no comércio e nos circuitos do investimento internacional.
A excelência das suas infraestruturas, o desenvolvimento, a sofisticação, o ambiente altamente inovador fruto de décadas de investimento em investigação ao mais alto nível, e os elevados níveis de competitividade, são outras das características deste mercado.
Para muitas empresas portuguesas este permanece um mercado distante, e não apenas por força da geografia. Mas o mesmo não pode ser dito no contexto mais vasto da Europa. Com cerca de € 55,208 mil milhões em bens exportados em 2020, o Japão surge como o 7º maior mercado de destino de bens produzidos na UE e o 2º mais importante consumidor na região asiática (Eurostat). Números que obrigam a repensar o Japão no quadro dos processos de internacionalização das nossas empresas.
A rápida expansão económica que o Japão registou no período que se seguiu à II GM, em grande parte impulsionada pela indústria automóvel e pela indústria de eletrónica – e que deu origem ao chamado “milagre japonês” –, perdeu vigor nos anos 90’s. Desde então a economia tem evoluído de forma lenta, com taxas de crescimento mais modestas, a uma média anual de cerca de 1% ao longo da última década.
O país foi fortemente atingido pelos efeitos económicos decorrentes da pandemia, levando à necessidade de três orçamentos suplementares para fazer face ao contexto de recessão, tendo 2020 encerrado com uma contração do PIB em - 4,6%. O último ano foi já de recuperação, com a economia nipónica a crescer 2,4%, em parte devido ao aumento da procura/consumo interno e do investimento, alimentados por um pacote de políticas e estímulos económicos de cerca de USD 1 trilião, o equivalente a 20% do PIB e o dobro do pacote de estímulos lançado durante a crise financeira de 2008.
A recuperação evidenciada em 2021 deverá consolidar-se ao longo deste ano, com perspetivas de expansão na ordem dos 3,2% (FMI) a 3,4% (Japan Centre for Economic Research).
Desde há muito que o Japão enfrenta fraquezas estruturais que veem impedindo um crescimento e desenvolvimento mais robustos. Sucessivos governos têm procurado avançar com algumas das reformas necessárias, no entanto a sua aplicação tem ficado aquém do exigido face aos objetivos traçados. O contexto de pandemia trouxe à superfície outras fragilidades da economia japonesa, evidenciando a necessidade de novas medidas e reforçando a urgência na sua implementação.
Transformação energética e cidades sustentáveis – Em dezembro de 2020, o governo apresentou um roteiro para a recuperação pós-covid onde assumem especial destaque as áreas do digital, da economia circular, da transformação energética e das cidades sustentáveis. Desígnios estratégicos que ocupam o topo da agenda económica japonesa e no âmbito dos quais as energias renováveis ocupam um papel central. Em 2019, estas já representavam 18,5% de toda a geração de energia no país, e o objetivo é ir mais longe.
A emissão de gases com efeito estufa não tem diminuído ao longo dos últimos anos, levando a que mais de ¾ da população se encontre exposta a níveis de poluição do ar considerados perigosos (Japan Centre for Economic Research). No plano nacional apresentado no final de 2020, o Japão assumiu o objetivo de atingir zero emissões até 2050. Decorrentes deste plano, há oportunidades de negócio para parcerias em projetos de H2 (hidrogénio verde), assim como em projetos que envolvam tecnologias ligadas à energia eólica, principalmente na vertente offshore. Tendo em conta a área marítima do Japão e a escassez de áreas adequadas para a instalação em terra de parques eólicos, as recentes alterações à legislação aplicável a projetos offshore e as previsões de crescimento do mercado abrem oportunidades de negócio a considerar.
No quadro geral, a indústria ambiental representa cerca de 10% de toda a indústria do país e emprega mais de 2,6 milhões de pessoas e a tendência é para um desenvolvimento crescente deste setor. Neste sentido, espera-se também um crescimento dos setores associados à energia solar e à biomassa, que deverão ser igualmente considerados pelas empresas portuguesas que neles operam.
A par da energia verde, poderão surgir oportunidades na área da eficiência energética: reciclagem, redução e gestão eficaz dos desperdícios, reparação, remanufactura e construção de longa duração, são algumas das áreas com potencial a analisar.
Tech e Hightech – automobilismo, robótica, biotecnologia, nanotecnologia são setores-chave desta economia. Este é um mercado de forte penetração tecnológica que já vem atraindo algumas empresas portuguesas, e que tem evidenciado crescente abertura e interesse em startups e na inteligência artificial, áreas que revelam especial potencial de crescimento. De notar, porém, que se trata de um mercado muito competitivo nestas áreas, e bastante rigoroso em termos de qualidade e segurança dos seus produtos.
Acordo UE-Japão - A 1 de fevereiro de 2019 entrou em vigor o novo Acordo de Parceria Económica entre a União Europeia (UE) e o Japão. Considerado o mais importante acordo comercial bilateral alguma vez celebrado pelo bloco comunitário, ele veio abrir o mercado japonês (mais de 125 milhões de consumidores) às principais exportações da UE, ao permitir que mais de 90% das exportações comunitárias ficassem isentas de taxas aduaneiras, o que se terá traduzido numa poupança de cerca de mil milhões de euros.
Do ponto de vista das empresas europeias, os setores mais beneficiados terão sido o agroalimentar (com destaque para produtos como o vinho, bebidas espirituosas e cervejas, a carne de bovino e de suíno e outros produtos à base de carne, os queijos e demais produtos lácteos), os têxteis, o vestuário e o calçado.
Foram muitas as empresas portuguesas que aproveitaram as oportunidades trazidas pelo novo acordo. Os nossos produtos têm ganho notoriedade no mercado, mas há fatores importantes a considerar para que esta trajetória seja consolidada:
- A aposta no mercado japonês deve ser feita a longo-prazo;
- A questão da qualidade dos produtos é essencial;
- Assim como a questão da imagem do produto, que se tem revelado central no impulsionar das vendas e no aumento da posição detida no mercado.
O Acordo veio ainda assegurar a abertura dos mercados de serviços, em especial dos serviços financeiros, das telecomunicações e dos transportes.
Há mais de 1000 empresas nacionais a exportar para o mercado nipónico; um mercado com ligações históricas a Portugal muito antigas e que devem ser potenciadas no quadro do desenvolvimento de uma diplomacia económica cada vez mais ativa, assim ajudando a aumentar aquele número.
Riscos
Solidez e sustentabilidade, são alguns dos adjetivos geralmente utilizados para caracterizar a trajetória de crescimento da economia japonesa nas últimas décadas. No entanto, ela não está isenta de riscos, entre os quais se destaca a sua dívida pública, uma das maiores entre as economias industrializadas. Antes mesmo da eclosão da crise pandémica e do enorme pacote de estímulos aprovado para amortecer o impacto da crise e relançar a economia - o que levou a um aumento muito significativo do déficit do governo, com aumento dos gastos sociais - a dívida pública japonesa atingia 235,5% do PIB (2019, FMI). Um valor que, de acordo com as estimativas do FMI, deverá ter aumentado nos dois anos seguintes, estimando-se atualmente em mais de 250% do PIB. A saúde das finanças públicas e a consolidação orçamental são, por isso, questões-chave que importa acompanhar.
Fator de risco também a monitorar é a forte dependência desta economia às exportações, tornando-a particularmente vulnerável às flutuações da economia internacional.
Existem problemas demográficos que devem ser incorporados na análise ao Outlook a longo prazo desta economia. Esta é uma sociedade em claro processo de envelhecimento onde, além de uma natalidade em declínio, as estimativas apontam para que 28,4% da população esteja acima dos 65 anos.
Do ponto de vista político e securitário, este é um país considerado de baixo risco, mas o seu posicionamento geográfico torna-o vulnerável a desastres naturais que podem ter impacto na sua performance económica. O Japão tem vindo a desenvolver sistemas de pré-aviso (early warning systems) e proteção de última geração para mitigar os riscos aos quais está exposto, ainda assim permanece algum grau de vulnerabilidade.
Não tanto um risco, mas, sobretudo, um desafio, existem diferenças importantes na cultura de negócios no Japão, que devem ser conhecidas pelas empresas que querem operar no país, a bem do sucesso dos seus negócios.
O comércio bilateral com o Japão atingiu € 899,344 milhões em 2021, o que faz do país o nosso 24º parceiro comercial a nível mundial e o 3º maior em toda a região do Indo-Pacífico, apenas atrás da China e da Índia. Um relacionamento comercial que paulatinamente tem vindo a intensificar-se ao longo dos anos, a uma média de 7,5% na última década, e onde o Japão assume maior preponderância como nosso fornecedor do que enquanto cliente, tendo ocupado o 18º e o 30º lugar nos respetivos rankings, relativos a 2021.
Nesta perspetiva, o relacionamento comercial com o país tem sido desfavorável a Portugal, com uma acumulação de sucessivos saldos negativos ao longo da última década. O ano de 2021 não fugiu à regra: somando pouco mais de € 297 milhões, as exportações ficaram muito aquém das importações que ultrapassaram os € 602 milhões, fruto de um aumento de quase 106% face a 2020.
Mas há indicadores positivos a destacar. Ainda que de forma menos expressiva, as exportações também subiram em 2021 (+22,4%). Mas mais do que isso, num ano de pandemia que levou a uma quebra generalizada das trocas, e que no caso concreto teve expressão numa queda das nossas importações oriundas do Japão (-26,6%), as exportações para o país surgiram em contraciclo, registando um aumento de 60,6% face a 2019. Uma evolução muito positiva que terá a sua explicação na entrada em vigor do novo acordo de comércio entre a União Europeia (UE) e o Japão que, refletindo-se numa maior facilidade de entrada de muitos dos nossos produtos no mercado nipónico em virtude da abolição ou redução muito significativa de taxas e direitos aduaneiros, ajudou a compensar uma conjuntura externa tendencialmente desfavorável às trocas.
Mas continuemos a analisar os números, pois eles permitem reforçar cenários encorajadores quanto à nossa performance exportadora.
Ao longo da última década, as vendas com destino ao Japão subiram em média 10,5% ao ano, contra um crescimento das importações de 8,6% no mesmo período considerado. Mais ainda, de 2010 para 2021, as exportações subiram quase 133%, ao passo que as importações apenas 66%. Por outras palavras, ainda que em ternos absolutos as importações venham predominando face às exportações, estas têm crescido a um ritmo médio superior àquelas, evidenciando maior dinamismo.
O número de empresas portuguesas a exportar para o mercado reflete esta trajetória. De 2010 para 2019 (último ano para o qual há dados oficias disponíveis) verificou-se um aumento de 70% para 1085 empresas. Assim era antes do acordo UE-Japão. Assim mais deverá ser dois anos depois da sua entrada em vigor.
No último ano as exportações portuguesas com destino ao Japão foram lideradas pelas vendas de materiais de transporte que representaram mais de metade (56,5%) do total exportado para o país. Embora a esmagadora maioria dos produtos vendidos no âmbito deste setor pertença ao grupo dos veículos automóveis (99,7%), destacamos também as exportações de embarcações e estruturas flutuantes pelo aumento superior a 25% registado face a 2020. Seguiram-se as exportações de produtos das indústrias alimentares e bebidas (14,8%), e a grande distância os produtos químicos (4,8%), os têxteis (3,7%) e as vendas de animais e produtos do reino animal (3,4%).
Uma estrutura que não sofreu alterações em relação a 2020, mas que evidencia diferenças importantes face a 2019, as quais não serão alheias à entrada em vigor do já referido Acordo Comercial entre o Japão e o bloco comunitário europeu. De notar a queda das exportações de máquinas e aparelhos, que tradicionalmente ocupavam uma posição de destaque – tendo por várias vezes liderado o ranking das exportações com destino ao país com quotas em torno do 80% – mas que a partir de 2019 vêm caindo substancialmente (-125% no acumulado dos anos seguintes), hoje não integrando sequer o top 5 das nossas vendas ao mercado nipónico. Em sentido contrário, certamente beneficiando das alterações pautais introduzidas, surgem as anteriormente mencionadas exportações de material de transporte que face ao período pré-acordo comercial subiram quase 4.500%. Ao top 5 subiram também as exportações de produtos do reino animal, onde se destacam as carnes e miudezas que registaram um crescimento exponencial (+24.000%), os animais vivos (+5.400%), e os peixes e crustáceos, principalmente tratando-se de peixes frescos ou refrigerados (+ 1.186%).
Fora destes lugares cimeiros, destacamos ainda pelo potencial exportador evidenciado as exportações:
- de metais, como o zinco (+3.500%), o cobre (+ 1.720%) e o alumínio (+856%);
- de objetos de arte, de coleção e antiguidades (+192%);
- de gorduras e óleos (+148%);
- de instrumentos musicais (+140%);
- de madeira e carvão vegetal (+86%);
- de pérolas naturais ou cultivadas (+43,5%).
Um conjunto de nichos de mercado onde a procura japonesa, em termos de necessidades de importação, pode encontrar resposta nas empresas portuguesas com capacidade de produção e exportação, assim ajudando a reposicionar Portugal no mercado japonês.
Localização geográfica: território insular no leste asiático entre o Pacífico Norte, o Mar do Japão e o leste da península coreana
Capital: Tóquio
Território: 364 485 km2 (área terrestre)
População: 125,34 milhões (est. fev 2022, Statistics Bureau of Japan)
Língua: japonês
Moeda: iene japonês (JPY)
Ranking Doing Business Report 2020: 29/190 (+10 posições)
World Competitiveness Ranking 2021 (IMD Business School): 31/64 (+ 3 posições)
Index of Economic Freedom – Heritage 2022: 35/177 (-4,2 pontos)
PIB taxa de crescimento real 2022: 3,2% (est. FMI)
A CCIP coloca à sua disposição três formas de abordar o mercado:
Peça a sua proposta através dos contactos internacional@ccip.pt | +351 213 224 067

