Numa altura em que muitos fazem o balanço do ano que passou, escolhemos olhar para o que agora começa, procurando sinais que possam sugerir a emergência de novos perfis do consumidor. Tentando fornecer algumas pistas sobre as necessidades e prioridades por eles assumidas, analisando as mudanças nos seus comportamentos e tentando perceber as motivações subjacentes, para que produtores e exportadores se adaptem e respondam eficazmente às rápidas alterações nas tendências de consumo que se espera ganharem força no ano corrente. Esforço que julgamos pertinente para ajudar a pensar estratégias de produção, comunicação e colocação dos produtos nos mercados visados, incluindo, nos diferentes mercados externos, seja em economicas emergentes ou desenvolvidas.
“Top 10 Global Consumer Trends 2019” é o título do estudo desenvolvido pela Euromonitor International – especialista em intelligence e consultoria estratégica de mercado – que se propõe a abordar estas questões, avançando dez grandes novas tendências de consumo à escala global para 2019.
De acordo com o referido estudo, a existir um fio condutor que ligue as dez tendências identificadas, ele será a utilização de informação associada às escolhas de consumo. O modo como se vive está de tal forma dependente das escolhas que têm de se fazer, que a primeira grande questão com a qual o consumidor se depara é: como fazer sentido de tudo o que o rodeia? Uma questão cuja resposta poderá simplificar as suas opões de consumo, permitir-lhe estar mais consciente das implicações dessas escolhas, proporcionar-lhe experiências de compra mais equilibradas e satisfatórias, podendo até, em última análise, levá-lo a optar, pura e simplesmente, por não consumir.
Uma mudança na percepção da idade é a primeira das tendências identificadas. Hoje, as pessoas vivem mais e melhor e esta alteração reflecte-se no estilo de vida e nos hábitos dos consumidores mais velhos. Conceitos como “velhice” ou “terceira idade” estão a ser revistos, uma vez que este público-alvo se auto-posiciona de forma diferente do que no passado. São consumidores que procuram cuidar cada vez mais de si, fazendo outro tipo de escolhas em matéria de saúde, alimentação, desporto e actividades físicas, beleza, cosmética, viagens etc. Um segmento da população onde a procura está a mudar, com a necessidade daí decorrente de adaptação do lado da oferta.
Uma outra tendência que deverá marcar este ano e os próximos é a procura por produtos e, mais ainda, por experiências autênticas, afastando-se do materialismo excessivo e dos produtos genéricos, privilegiando a simplicidade e a qualidade daquilo que se compra, muitas vezes optando por ter menos mas melhor e mais marcante – o minimalismo está em alta.
Consumo consciente – o que antes era uma espécie de posicionamento “ético” exclusivo de empresas de nicho, tem tendência para se tornar cada vez mais a regra e não a excepção. Os consumidores estão reestruturar a sua escala de valores – equacionando factores como a sustentabilidade ambiental, o bem-estar animal, a sobrevivência das espécies etc. - e as empresas ditas “convencionais” deverão responder adequadamente.
A tendência do consumo consciente passa também por dizer “não ao plástico.” Alcançar uma sociedade livre de plásticos é um objectivo cada vez mais generalizado, dando origem a um círculo virtuoso onde também as empresas ganharão ao melhorar as suas práticas de sustentabilidade, colocando no mercado produtos à base de outro tipo de materiais.
JOMO – “joy of missing out” - é mais uma das tendências identificadas. A exclusão, o medo de ficar de fora, de não participar de algo, o “fear of missing out” ou FOMO, vai sendo paulatinamente substituído pela alegria de dizer “não”. São muitos os consumidores que começam a optar por não participar em tudo, de forma indiscriminada, irracional; que escolhem não compartilhar tudo, a toda a hora, protegendo o seu bem-estar mental, desconectando-se, priorizando outras necessidades, consumindo o tempo de outra forma, fazendo o que realmente gostam de fazer.
Mas as tecnologias e o digital não têm necessariamente que estar em contra-ciclo com estas novas tendências. A capacidade e conforto em usar novos instrumentos e soluções digitais deverão continuar a aumentar, e com isso também o potencial do que pode ser produzido, experimentado em conjunto, ainda que remotamente. A partilha de experiências (aquelas que os consumidores escolhem de forma consciente, pensada, informada) surge, assim, como outra das grandes tendências a considerar.
Consumidores mais e melhor informados, traduz-se no aparecimento da figura do “consumidor-especialista” – aquele que conhece em profundidade aquilo que quer comprar. Num mundo e numa economia em mudança acelerada, todos são especialistas, dependendo cada vez menos de uma determinada marca ou fonte de informação. Produtores e exportadores precisam, por isso, de inovar constantemente para conquistar e/ou alargar a sua cota de mercado, atraindo estes novos especialistas.
O consumidor de hoje tende, também, a tornar-se cada vez mais auto-suficiente, procurando tomar conta de si mesmo. Há novos hábitos de consumo que assim o sugerem. O consumidor actual toma medidas preventivas contra doenças, vários tipos de mal-estar ou desconforto físico e/ou psicológico, sem consultar um profissional, ou antes de o fazer.
Eu quero agora! – os mercados diferem consoante o produto pensado de acordo com as características de cada grupo de consumidores, e muitos sentem cada vez mais a necessidade de ter uma gratificação instantânea, um resultado imediato e experiências simples, que lhes permitam dedicar mais tempo às suas vidas profissionais, sociais e familiares.
Finalmente, o querer e saber estar sozinho. São mais as pessoas, de ambos os sexos, de várias faixas etárias mas, especialmente, entre os consumidores mais velhos, dispostas a quebrar o estigma de viver sozinho, abraçando os seus estilos de vida independentes. Também por isso tenderão a consumir de forma diferente.
Vemos, pois, como muitas das tendências de consumo que deverão marcar o ano de 2019 se relacionam, sobretudo, com a necessidade de reassumir o controlo sobre o modo como queremos viver – com tudo o que aqui subjaz em termos de escolhas de consumo – afirmando-nos como consumidores cada vez mais informados e conscientes. Depois de um período de grande incerteza económico-financeira que caracterizou os últimos anos e perante o actual quadro de turbulência política vivido em diversas geografias um pouco por todo o mundo, há sinais que sugerem que o consumidor se sente mais seguro e empoderado quando percebe que regressar às origens não só é uma opção, como não é sinónimo de regressão mas, antes, de capacidade de avançar e progredir de forma mais saudável e sustentável.
Uma tomada de consciência com tradução directa em novos padrões de consumo, dos quais podemos destacar, a título meramente exemplificativo: 1) a escolha por produtos alimentares biológicos; 2) a preferência por moda sustentável (vestuário, calçado e acessórios), onde começam a surgir nichos de negócio explorados já por muitas marcas de renome; 3) novos hábitos de transporte, que poderão ir do “car sharing” à compra de veículos automóveis eléctricos, ou com outras soluções que impliquem um menor recurso a combustíveis fósseis, passando pela cada vez maior utilização de bicicletas, sector onde o “public bike-sharing” ganha um número crescente de adeptos nas cidades, com múltiplas oportunidades de negócio a explorar; 4) a utilização de novos materiais, na construção, na arquitectura e no design, etc.
São já muitos os consumidores que, procurando estar mais informados, mostram uma certa ruptura com tendências anteriores, consumindo diferente, comprando com mais atenção, cuidando de si. Restará aguardar a resposta do lado das empresas, nomeadamente das empresas portuguesas.