O sector da iluminação em Portugal tem sofrido profundas alterações e a sua internacionalização está no centro desta mudança.
Depois de ter sofrido dias muito difíceis, a iluminação portuguesa está em franca expansão dando novas luzes ao mundo. No final dos anos 90 a cota de exportação do sector no conjunto das exportações nacionais era residual, mas tem vindo a aumentar desde então. A exportação de candeeiros – o grande pilar do sector – era muito pouco significativa, mas hoje em dia representa cerca de 60% do volume total de facturação. O valor é ainda mais expressivo no plano macro, onde a indústria da iluminação, no seu conjunto, coloca nos mercados externos 70% daquilo que produz. Existem mesmo empresas que conseguem exportar, directa ou indirectamente, mais de 90% da sua produção.
Trata-se de um sector relativamente pequeno, mas que tem dado passos de gigante na conquista de mercados internacionais.
Composto por pouco mais de duas centenas de empresas e cerca de 3.000 trabalhadores, o sector exportou, em 2016, para mais de 130 destinos, entre os quais se destacam a Espanha, França, Reino Unido, Alemanha e, fora do espaço europeu, Angola, Estados Unidos e Rússia. Mercados cada vez mais adeptos da iluminação 100% lusitana.
A presença em feiras internacionais foi determinante para esta viragem do sector. A venda a retalho para Portugal tinha quase deixado de existir e a solução encontrada para sobreviver foi a internacionalização – hoje uma obrigatoriedade para ganhar escala e garantir o progresso da indústria.
Mas esta internacionalização tem sido feita de forma particularmente inovadora quando comparada com outros sectores da economia portuguesa e o seu sucesso passa pela participação colectiva das empresas, e não de forma individual, nas maiores feiras europeias e mundiais de iluminação e da fileira casa. Tratando-se de um sector relativamente pequeno e dominado por micro-empresas, os fabricantes de iluminação precisam deste tipo de associação para sobreviver e apresentar os seus produtos pelo mundo fora. No domínio da iluminação, os empresários são cada vez menos concorrentes e muito mais parceiros, compreendendo que, num mercado global, sem escala, não conseguiriam projectar-se internacionalmente de outra forma. Muitas vezes ainda com falta de recursos orientados para o marketing, para a divulgação, para a prospecção de mercados internacionais, a internacionalização da iluminação portuguesa não poderia ter sido feita de outro modo. Pensada nestes moldes, a internacionalização tem sido o principal instrumento de venda e via privilegiada para obter novos contactos e novos clientes.
O sucesso das vendas ao exterior está também no design e na customização. Longe de estratégias do passado, de produção em massa com base em modelos standard, hoje os fabricantes do sector assumem-se como uma espécie de “alfaiates da iluminação”, personalizando o produto, trabalhando o projecto em função das necessidades e gostos do cliente. O importante é criar cada peça para cada cliente. O objectivo é a criação de produtos originais, sofisticados mas versáteis, sempre com elevados padrões de qualidade, dando forma e vida ao que o cliente quer.
À semelhança do vestuário e do calçado, também a iluminação aposta cada vez mais na concepção de colecções, numa permanente busca de novos produtos a cada estação, criando novas tendências numa constante reinvenção de artigos, formas, cores e materiais. Isto porque, a empresas de linhas mais tradicionais e clássicas, hoje juntam-se outras mais jovens e mais ousadas, na sua maioria muito ligadas a estúdios e gabinetes de design, que tanto privilegiam conceitos vintage, inspirados em modelos com dezenas de anos, como peças mais vanguardistas, num mix criativo entre o antigo e o moderno, o passado e o futuro.
É assim que, aliando design, personalização, criação e recriação de novas tendências, os candeeiros portugueses podem agora ser vistos em quase todo o mundo e é a diferença que faz o sucesso.
Mas o universo da iluminação não se cinge ao sector dos candeeiros. Ele é mais vasto e heterogéneo e inclui também o nicho das “soluções de iluminação”. Um nicho que apresenta um potencial exportador que pode e deve ser explorado: projectores mais eficientes, com índices de reprodução cromática cada vez mais elevados ou com chips transformados e ajustados, destinados a iluminar locais específicos, desde mercados (talhos, peixarias, padarias) a restaurantes, passando por lojas, montras, e vitrines, chegando mesmo ao mundo das artes, em museus, exposições , teatros e espetáculos musicais.
Outro factor de sucesso da internacionalização do sector tem sido a aposta em parcerias. Dependendo cada vez menos dos grandes retalhistas europeus, o foco é cada vez mais a integração em “projectos completos” de engenharia, arquitectura, mobiliário e decoração, em hotéis, no sector da restauração e no imobiliário de luxo. Os fabricantes de iluminação têm de se aliar a parceiros fortes noutros sectores do mercado que lhes sejam complementares, e que lhes permitam colocar o seu produto incorporado em ambientes e universos específicos. Assim é no mercado interno, assim será nos mercados internacionais.
O esforço começa a ser recompensado e os resultados são visíveis, com a indústria da iluminação a exportar anualmente mais de 100 milhões de euros. O sector cresce quando reforça a sua presença em mercados mais tradicionais e conquista outros, mais distantes, mais exóticos, dando resposta às exuberâncias de Miami, Singapura ou Japão. O sector cresce quando se conquistam montras de renome internacional que dão uma nova exposição à arte de fazer em Portugal. O sector cresce quando se aposta na diferença, quando se aposta no que é português.