Japão – Exigência, Qualidade e Rigor
Se existem ideias preconcebidas sobre países e as suas características, que nos fazem sonhar e querer, um dia, conhecer em maior detalhe, o Japão é sem sombra de dúvidas um deles.
Sempre que estou com alguém e surge o tema das minhas viagens profissionais, quando digo que vou ao Japão é rara a pessoa que não comenta "Quero muito conhecer o Japão!".
É a minha terceira viagem de trabalho ao Japão, coincidente com a terceira Missão Empresarial da CCIP ao gigante nipónico.
Um total de aproximadamente 19 horas de viagem separa Portugal do Japão (neste caso, dois voos com escala em Paris), fazendo com que inevitavelmente cheguemos a Tóquio com a energia em níveis mais baixos do que esperávamos. São 09h30 de segunda-feira e reservámos este primeiro dia para a "aclimatização", pois encontramo-nos com +8h de diferença horária relativamente a Portugal.
As empresas portuguesas que compõem esta missão empresarial são dos setores agroalimentar, metalomecânica, automóvel, bebidas e máquinas e equipamentos. Apenas um dos representantes destas empresas já tinha estado anteriormente neste país.
Aproveitámos para dar uma volta pelo bairro do hotel onde ficamos, em Roppongi, local escolhido pela sua boa localização e acessibilidades. Organização, respeito e método são as palavras que ressaltam das primeiras observações que fazemos ao caminhar pelas ruas e avenidas de Tóquio. Tudo é pensado ao milímetro, meticulosamente cuidado e com uma atenção ao detalhe que surpreende sempre, mesmo os que já cá estiveram.
Voltamos ao hotel e temos a reunião de briefing entre as empresas portuguesas e o nosso parceiro local, onde são esclarecidas as últimas dúvidas e planificada a logística de deslocação para cada uma das reuniões individuais que irão ocorrer nos próximos dias.
Segue-se uma ida ao metro local para explicações detalhadas sobre a lógica de funcionamento, compra de bilhetes e navegação no extenso mapa de linhas infindáveis que percorrem a grande Tóquio. As deslocações são feitas, na sua maioria, de metro e comboio, utilizando-se também táxis quando necessário.
Tudo esclarecido e seguimos para jantar numa “tasca” tipicamente nipónica, onde o inglês é uma língua praticamente desconhecida e onde só graças ao nosso parceiro local é que conseguimos comer um conjunto de especialidades japonesas, com um ambiente claramente local e bastante animado.
Os próximos 3 dias são focados nas agendas individuais de cada uma das empresas, preparadas de acordo com o perfil pretendido pelos participantes portugueses. Muitas deslocações, não só em Tóquio, como também para Hiroshima, Osaka, Nagoya, Tochigi, Saitama e Aichi, onde estão situadas as sedes das empresas japonesas com quem agendámos as reuniões para cada uma das empresas portuguesas.
O empresário japonês, em geral, é muito cordial e prepara-se bem para receber as nossas empresas, sabendo em pormenor o que fazem e que produtos comercializam. Isto revela-se extremamente importante para o melhor aproveitamento de cada reunião e resultado posterior a alcançar. Aqui ninguém pretende perder tempo com reuniões de cortesia.
A título de exemplo, numa reunião com a Honda Motors, um dos interlocutores escolhidos esteve em Portugal na Universidade de Aveiro em 1990 e vem de vez em quando a Portugal, afirmando adorar o nosso país. Estes cuidados constituem, naturalmente, uma mais-valia para a geração de empatia inicial e para "quebrar o gelo".
Portugal não é de todo um país desconhecido por estas terras. A história de relações entre os dois países tem quase 500 anos e Portugal é a nação europeia com a mais longa história de intercâmbio com o Japão. Os recentes esforços diplomáticos de Portugal, por parte da Embaixada Portuguesa em Tóquio, em melhorar a imagem e o dinamismo de Portugal em diferentes domínios, ajudam definitivamente a que as nossas empresas tenham uma imagem de maior relevo quando abordam o mercado.
O facto de a moeda japonesa estar menos favorável ao Euro faz com que se analisem melhor as condições de importação, assim como a muito necessária avaliação dos critérios de qualidade e certificações das empresas portuguesas. O nível de exigência do consumidor japonês é muito elevado e isso obriga a um conjunto de medidas que os importadores locais impõem aos seus fornecedores internacionais.
O último dia revela uma satisfação generalizada de todas as empresas portuguesas, quanto à qualidade das reuniões e aos resultados que das mesmas poderão surgir a curto/médio prazo. Já se planeiam, para breve, ações de charme individuais aos contatos mais promissores, para intensificação das relações, com o objetivo de aumentar significativamente as probabilidades de fecho de negócios no futuro.
Saímos do Japão com a clara sensação de que estamos perante um dos mercados mais evoluídos do mundo, com um elevado poder de compra e com um nível de exigência e qualidade sem paralelo. E que muitas das nossas empresas têm todas as condições para poder entrar na rigorosa lista de fornecedores internacionais que querem entrar neste mercado. Assim tenham vontade para isso.