Paulo Portas considera que se 2024 “tiver menos imprevisibilidade, será um progresso”
No tradicional pequeno-almoço “Geoestratégia do Mundo”, realizado a 25 de janeiro e organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, o Vice-Presidente da CCIP, Paulo Portas, lançou o ano que agora começa afirmando que é necessário “aprender a navegar na imprevisibilidade”, considerando que, se 2024 “tiver menos imprevisibilidade do que 2023, já é um progresso”.
Começando por analisar a evolução da economia global em 2023, Paulo Portas afirmou que “houve recuperação, mas não foi espetacular”, destacando os EUA “como a grande lição do ano” com um crescimento que pode chegar aos 2,5%, o que classificou como “absolutamente extraordinário” tendo em conta que a maioria das previsões davam conta de que o país poderia entrar em estagflação.
A China teve um crescimento a rondar os 5,2% o que, no contexto chinês, é fraco, atendendo a que este é um país que se acostumou a registar crescimentos na ordem dos dois dígitos nas últimas décadas.
Apesar disso, Paulo Portas considerou que desconsiderar a China dos mercados internacionais que servem de destino às empresas portuguesas “não é boa ideia”. “Mas, atenção, há um problema sério com o imobiliário, com a empregabilidade jovem nas grandes cidades, com a dívida pública e com a atração de investimento estrangeiro”, alertou ainda.
No ano passado houve também a projeção de cenários de recessão em três das cinco maiores economias europeias – Alemanha, Itália e Reino Unidos sendo que apenas se confirmou a recessão na Alemanha e “quando a Alemanha contrai é difícil que a Europa tenha um ano luminoso”.
Perante o crescimento modesto registado na Zona Euro, o Vice-Presidente da CCIP defendeu que “o nosso modelo de competitividade está a fraquejar”, defendendo que “não estamos só a viver num continente a envelhecer demograficamente, mas também a envelhecer tecnologicamente”.
Portugal e Espanha acabaram por crescer acima da média europeia em 2023, e, no caso português, apontou quatro fatores principais para tal ter acontecido:
- O “impressionante” crescimento do Turismo, setor que já representa 20% do PIB nacional;
- Um mix energético que não está dependente da Rússia, nem da Ucrânia;
- O dinheiro que entrou na economia através de compras de ativos por parte de estrangeiros em setores como o agrícola, indústria ou imobiliário;
- E o fator “bazuca”, mostrando-se “contido” nesta análise pois Portugal tem apenas uma opção: executar os fundos. Paulo Portas lembrou com preocupação o último relatório de execução do PRR o qual mostra que os dez principais beneficiários são apenas institutos e empresas públicas. “Não é isto que nos vai dar valor acrescentado na economia”, avisa.
Para 2024 deixa duas preocupações: o “risco real” de fragmentação na geoeconomia com a aceitação da ideia, especialmente no setor tecnológico, de que “não se pode fazer negócios com os clientes e só se pode fazer negócios com os nossos aliados”. Além disso, a influência da Inteligência Artificial no ano eleitoral é também um motivo de alerta: “O poder do algoritmo é colocar todos contra todos”.
Além disso, avisou que o “sistema internacional colapsa se tiver de gerir quatro conflitos”, referindo-se aos principais focos de conflito ou de tensão existentes atualmente: Ucrânia, Médio Oriente, Mar Vermelho e Taiwan.
Por fim, destacou três economias que estão em ascensão “supersónica”: Índia, México e Indonésia, acrescentando que se prevê um ano melhor para os PALOP, aconselhando os empresários portugueses a permanecerem atentos a África, especialmente no que respeita à transição energética.