Artigo de Bruno Bobone, Presidente da CCIP, na sua rúbrica semanal no Diário de Notícias.
Entrámos num novo ciclo de quatro anos. Vamos ter um novo governo e muito dinheiro para relançar a nossa economia.
É o momento de aproveitar para fazer uma verdadeira reforma do aproveitamento dos nossos recursos e, protegendo o ambiente deste nosso mundo, investir naquilo que melhor nos pode fazer crescer e evoluir.
Há mais de uma década a Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa ofereceu a Portugal um trabalho realizado pelo professor Ernâni Lopes sobre o hypercluster da economia do mar, que definiu como o único recurso verdadeiramente identitário do nosso país.
Chamou-lhe hypercluster porque envolvia todas as áreas da atividade económica e, por isso mesmo, propôs que não fosse criado um ministério para o promover, pois seria redutor da sua capacidade de realização, mas que ficasse na dependência direta do primeiro-ministro, para que existisse uma coordenação da estratégia do mar com todos e cada um dos restantes ministérios e com a supervisão do topo do governo.
Portugal está hoje a começar a dar os primeiros passos no plano de recuperação e resiliência. Já está claro que não será à custa das soluções antigas que o país poderá sair desta crise com a capacidade de competir internacionalmente.
Temos de deixar de pensar na economia de salários baixos e indústria de pequena mais-valia e seguir todos os que já se lançaram nos projetos do amanhã, em que, como sabemos, têm tido sucesso alguns nossos compatriotas.
E dentro destes projetos do amanhã está o mar.
O mar que nos deve levar a ser uma plataforma de comércio internacional através do aproveitamento das condições logísticas e geográficas extraordinárias que detemos e que, associadas às nossas qualidades de mediadores, poderá levar-nos a uma posição de destaque nas trocas comerciais a nível mundial.
Um mar com condições naturais para a criação de bom pescado, de qualidade reconhecida mundialmente e que pode tornar-se uma riqueza enorme para o nosso país.
Um mar com recursos energéticos que devem ser estudados e aproveitados em prol do desenvolvimento de novas tecnologias de utilização de recursos mais amigos do ambiente.
Um mar onde o estudo e a produção de projetos no campo das biotecnologias trarão novas oportunidades para encontrar produtos destinados ao tratamento de doenças e à prevenção de muitas outras.
Um mar que nos trará a descoberta de muitas outras oportunidades que nem sonhámos vir a conhecer e que permitirão dar ao mundo novas formas de viver e de sobreviver.
E tudo isto está aqui à nossa porta.
O grande óbice foi sempre a capacidade financeira para se lançar este desenvolvimento. Mas agora teremos dinheiro.
E temos pessoas capazes, por isso devemos aproveitá-las e criar condições para manter em Portugal todos os jovens que daqui saem à procura de novos desafios e de condições mínimas de vida.
Temos de criar um caminho de investimento para podermos ter sucesso.
Temos uma visão e temos uma estratégia. Temos gente e temos meios.
É urgente apostar numa cultura do mar. Trazer à nossa população o conhecimento e a proximidade com os temas do mar. Habituar os portugueses a olhar o mar como o amigo que lhes traz a vida.
Precisamos de investir no conhecimento e criar uma universidade do mar que albergue todos os campos do saber e que nos dê as competências para cuidarmos bem deste recurso.
Temos o tempo, a estabilidade e a necessidade.
Não percamos mais uma vez a oportunidade.