Japão
Neste artigo tem acesso a informação diversificada sobre este mercado que lhe permite ter uma visão geral sobre esta geografia e conhecer as relações que tem mantido com Portugal.
De 26 a 31 de maio, a CCIP realiza a Missão Empresarial ao Japão.
No Oceano Pacífico, a leste da China, das Coreias e da Rússia, estendendo-se desde o Mar de Okhotsk, a norte, ao Mar da China Oriental e Taiwan a sul, 6852 ilhas formam o Japão, a “Terra do sol nascente”. As quatro maiores ilhas do arquipélago são Honshu – onde se situa a capital, Tóquio –, Hokkaido, Kyushu e Shikoku.
O Japão é uma das maiores e mais desenvolvidas economias do mundo. Tem uma mão de obra qualificada e trabalhadora e a sua população, numerosa e com poder de compra, torna-o um dos maiores mercados de consumo do mundo. A economia do Japão foi a segunda maior do mundo (a seguir aos EUA) de 1968 a 2010, ano em que foi ultrapassado pela China; em 2023 perdeu o título de terceira maior economia mundial para a Alemanha, sobretudo devido à queda do iene e, pelas projeções do FMI, também deve ser ultrapassado pela Índia em 2026, caindo para a 5ª posição. A desvalorização da moeda, causa principal da recessão técnica declarada por dois trimestres consecutivos de contracção económica, pode, por outro lado, contribuir para ajudar a impulsionar os preços das acções de algumas das maiores empresas japonesas, ao fazer descer os preços de exportações de bens como os automóveis nos mercados estrangeiros.
Se o iene recuperar, o Japão poderá voltar a ocupar os primeiros lugares da economia global. Porém, o principal desafio que o país tem de enfrentar é o envelhecimento populacional. Tem uma das taxas de natalidade mais baixas do mundo e, segundo as Nações Unidas a população mais idosa do mundo, com 1 em cada 10 habitantes com mais de 80 anos, e quase um terço da população com mais de 65 anos. Já há um ano, em Janeiro de 2023, o primeiro-ministro Fumio Kishida advertia que o país estava perto de não ser capaz de funcionar como sociedade se se mantivesse a queda de natalidade.
Mas o Japão é uma potência industrial e exportadora e, apesar deste declínio, continua a ser uma força imensamente poderosa no comércio mundial e um parceiro comercial fundamental. Um mercado que se caracteriza por consumidores sofisticados, com grande apetência por produtos estrangeiros, e uma indústria que se encontra nos primeiros lugares em múltiplos sectores, como o sector automóvel e a robótica. Trata-se de um mercado francamente aberto às importações, e, portanto, muito concorrencial, sendo bastante rigoroso em termos da qualidade e segurança dos produtos.
Os comerciantes portugueses foram os primeiros europeus a chegar ao Japão em 1543, trazendo com eles o cristianismo e as armas de fogo. O comércio português, tal como o cristianismo, foram inicialmente bem recebidos e algumas cidades como Nagasaki tornaram-se movimentados centros comerciais, sob a protecção daqueles Daimios (grandes senhores feudais) que se tinham convertido ao cristianismo.
A partir de 1603 houve uma época de relativa estabilidade, paz e florescimento cultural no Japão, sob o domínio do Shogunato Tokugawa, nome da família que venceu a guerra civil. O Shogunato foi um sistema político do tipo feudal, dominante no Japão desde os finais do século XII até 1868. Um funcionário hereditário – o Shogum – exercia o poder político executivo do imperador e em seu nome; a sociedade japonesa estruturava-se num sistema de Daimios servidos por uma casta militar, os Samurais, que ocupavam os escalões do poder, enquanto o imperador em Kyoto permanecia uma figura simbólica, sem poder político. Mas perante uma crescente agitação social, o Shogunato fez tudo para a esmagar, aplicando penas desproporcionadas, até mesmo para delitos menores. Os cristãos foram particularmente visados, culminando na proibição total do cristianismo em 1638. O Japão foi-se então fechando à maior parte do mundo, limitando o comércio exterior aos holandeses, chineses e coreanos. Este isolacionismo ajudou os Tokugawa a manter o controlo do poder, embora também tenha isolado o Japão da maioria das influências externas por mais de dois séculos.
PERRY E A REVOLUÇÃO MEIJI
É famosa a chegada ao Japão, em 1853, do Comodoro Matthew C. Perry, da U. S. Navy, à frente de uma esquadrilha de quatro navios de guerra, que obrigou o Shogunato Tokugawa a abrir os portos do país ao comércio americano e internacional.
A visita de Perry e a sua diplomacia de canhoneira aguçaram as contradições daquela estrutura feudal tardia e, em 1867, depois de um período agitado de transição, os Daimios favoráveis ao imperador conseguiram que o Shogun Tokugawa Yoshinobu, o 15º da dinastia no poder desde o século XVII, renunciasse e se pusesse à disposição do imperador.
Foi a chamada revolução Meiji. Yoshinobu ainda se arrependeu e tentou resistir, mas foi vencido e, em 1869, o imperador Mutsuhito instalou-se definitivamente em Edo, que passou a chamar-se Tóquio.
A restauração Meiji (o subnome que Mutsuhito adoptou ao subir ao trono e que significa “governo esclarecido”) procedeu então à centralização, à modernização do Estado e à industrialização da Economia.
As reformas políticas encontraram resistências entre os Samurais, mas foram por diante. Os dirigentes japoneses estavam atentos ao que se passava no mundo: em 1873 estabeleceram o Serviço Militar Obrigatório e enviaram os oficiais das Forças Armadas a especializar-se na Europa – os do Exército na Alemanha, os da Marinha no Reino Unido. Graças à melhoria dessa formação, o Japão dotou-se de Forças Armadas de primeira de qualidade e venceu as guerras contra a China (1894-1895) e contra a Rússia (1904-1905).
Em 1889 entrou em vigor a primeira Constituição do país, instituindo uma monarquia constitucional e parlamentar, com uma Câmara Alta, Câmara dos Pares, de origem aristocrática, e uma Câmara dos Representantes, eleitos por sufrágio censitário que, para a primeira eleição de Julho de 1890, abrangia apenas 1% da população.
A política e a economia estão profundamente ligadas no processo de industrialização do Japão: trata-se em primeiro lugar de uma transposição dos modelos ocidentais, – norte-americano e europeu – para a Ásia; e este processo está muito ligado à expansão imperial e à preocupação militar, no sentido do fukoku kyohei (“país rico, exército forte”). E está – e vai estar – condicionado pela História do país e pelo seu feudalismo tardio.
Os governos “Meiji”, mostrando compreender a importância do progresso científico para o desenvolvimento económico, convidaram químicos ingleses e alemães, como R. W. Atkinson e T. E. Hoffman, para leccionar na Universidade de Tóquio.
Numa primeira fase, o governo criou um Banco Central do Japão, uma moeda única e um sistema bancário; seguiram-se linhas de transporte marítimo e ferroviário que ajudaram a desenvolver as indústrias têxteis e a mineração. Tudo sempre com uma grande abertura ao exterior em termos de ciência, tecnologia e maquinaria.
Desde o início do período Meiji, a expansão territorial esteve presente nas preocupações nos dirigentes japoneses, com a ocupação de Taiwan em 1874. A nação japonesa entendia-se como uma espécie de corpo orgânico, um povo unido pelo culto do Imperador, que tinha na liderança uma casta ou classe aristocrático-militar.
As tradições militares-feudais pesaram também na formação das indústrias e grupos industriais, com as zaibatsu (grandes estruturas empresariais verticais controladas por famílias com o controlo accionista) como a Mitsubishi (Banca, Indústria pesada, Automóvel, Petroquímica, Comércio) ou a Sumitomo (Banca, Metalurgia, Borracha, Construção).
Assim a modernização político-económica do Japão, a partir das estruturas sociais do país agrícola do Shogunato Tokugawa, foi sempre marcada por essa transição e adaptação do feudalismo tardio para os novos tempos. Entre 1890 e 1940 a população do país passou de 40 milhões para 73 milhões, mas a população nas cidades multiplicou-se de 4 milhões para 27 milhões, sobretudo devido ao crescimento das cidades portuárias – Tóquio, Yokohama, Nagoya, Osaka e Kobe.
Estes factos e as políticas de desenvolvimento não podem fazer esquecer os fortes sentimentos nacionalistas nas elites perante uma cena internacional dominada pelos poderes europeus e na qual o Japão se sentia menorizado e marginalizado ao ver-se, por exemplo, limitado em termos de desenvolvimento das suas Forças Armadas.
Os anos vinte e trinta foram teatro de fortes tensões entre civis e militares, ao mesmo tempo que os movimentos de nacionalismo radical ganhavam força nos círculos de jovens oficiais, oriundos dos meios rurais; estes eram nacionalistas conservadores e populistas, olhavam com desconfiança o sistema parlamentar e os políticos, que consideravam corruptos e ao serviço de grandes interesses capitalistas.
GUERRA NA ÁSIA E GUERRA MUNDIAL
A partir de 1931, do chamado incidente de Mukden, o exército japonês invadiu a Manchúria e estabeleceram ali um Estado-satélite, o Manchukuo. Depois de 1937 foi a vez da invasão da China onde os japoneses ocuparam grande parte do território incluindo Pequim, Xangai e Nanquim.
E depois de Dezembro de 1941 e do ataque japonês a Pearl Harbour, a guerra estendeu-se à Ásia do Sueste e ao Pacífico. O Alto Comando japonês promoveu uma série de operações-relâmpago e apoderou-se de grande parte dos territórios coloniais europeus na Indochina, culminando na tomada de Singapura aos Ingleses.
Mas as fáceis e rápidas vitórias eram enganadoras. Ao Japão faltavam os recursos energéticos e alimentares, e sobretudo a experiência para gerir pacificamente os grandes espaços que ocupara e onde iria encontrar grandes resistências.
O ataque a Pearl Harbour e à esquadra norte-americana ali estacionada veio, como se diria, “acordar o gigante adormecido” do outro lado do Pacífico. As grandes batalhas aeronavais do Pacífico mostraram a superioridade dos Estados-Unidos, consolidada na batalha de Midway. A máquina militar americana tinha uma base industrial consolidada muito superior e, em breve, apesar de toda a capacidade de unidade e autoridade, a frente interna japonesa foi duramente provada pela fome e pelos bombardeamentos norte-americanos. As rivalidades entre a Marinha e o Exército também não facilitaram o curso das operações.
Após a derrota da Alemanha em Maio de 1945, os Estados-Unidos concentraram-se contra o Japão. Temendo uma resistência encarniçada, acabaram por recorrer à bomba atómica, e Hiroshima e Nagasaki foram arrasadas em Agosto de 1945; a seguir o Japão rendeu-se, tendo, entretanto, conseguido que o Imperador se mantivesse à frente do país.
A OCUPAÇÃO AMERICANA E O "MILAGRA JAPONÊS"
Com o fim das hostilidades, os vencedores puseram o Japão sob ocupação militar. O general Douglas MacArthur foi o procônsul americano que presidiu a esta ocupação: houve processos públicos e execuções dos dirigentes acusados de crimes de guerra, como o Primeiro-Ministro Tojo, e os ocupantes empenharam-se em eliminar o que consideravam os factores do imperialismo nipónico e em democratizar o Estado e a sociedade japoneses.
Entretanto, o estalar da Guerra Fria entre os vencedores soviéticos e ocidentais, levou rapidamente a uma mudança de política, passando o Japão, de inimigo vencido, a um aliado a recuperar e mobilizar. Tóquio e Washington assinaram um Tratado de Paz e Aliança, que começou a operar logo durante a Guerra da Coreia.
E, no pós-guerra, veio o “milagre económico japonês”. É conhecida a frase de Milton Friedman “the best way to grow rapidly is to have the country bombarded”.
Foi o que aconteceu ao Japão. Depois de uma guerra em que perdeu três milhões de vidas e mais de um quarto da sua capacidade industrial, com o país devastado pelos ataques da aviação americana, a recuperação deu-se a um ritmo alucinante. Para tal contaram políticas públicas de “dinheiro barato” – garantindo acesso fácil da indústria a fundos financeiros significativos –, reduções de impostos e uma política geral de capitações baixas. E contou muito também o modo não punitivo da paz americana e o facto de, logo com a guerra da Coreia, a economia japonesa ser chamada a fornecer grande parte da logística militar e alimentar aos exércitos aliados.
Mais uma vez, na tradição da primeira industrialização, houve grandes investimentos nas manufacturas e uma elevada taxa de poupança pessoal. Mais uma vez também, na tradição nacional, surgiram os grandes conglomerados, os keiretsu que vieram substituir os antigos zaibatsu, dissolvidos sob a pressão das reformas de liberalização impostas pelo fim da Guerra e pela tutela norte-americana, dando origem a empresas como Matsushita, Sony, Honda, Takoda, Toyota, Nissan, Mazda, Suzuki, Toshiba, entre outras. Destes keiretsu, uns derivavam dos antigos zaibatsu, como a Mitsubishi e a Mitsui, mas também surgiram keiretsu financeiros, como a Fuji, e keiretsu industriais, como a Toyota e a Hitachi.
O “milagre económico” japonês prolongou-se por três décadas, desde os anos cinquenta aos anos oitenta do século XX, transformando o país derrotado e arrasado de 1945 na segunda potência económica mundial a seguir aos Estados Unidos. O país ultrapassara as nações europeias – a Alemanha, a Grã-Bretanha e a França – e a renda per capita chegou aos 30 mil dólares anuais. Tudo isto num país relativamente pequeno em território, sem recursos naturais, que reequilibrou a sua economia através da importação de matérias-primas e na sua transformação em produtos industriais. Tudo também graças à ciência e tecnologia, à disciplina no trabalho e a uma política fiscal encorajadora da inovação e da produtividade. Assim o Japão foi dos pouquíssimos países industriais que escapou à grande crise de 1987.
Entretanto, outros países – os “tigres asiáticos” – imitaram o modelo nipónico; e as crises na Europa e nos Estados Unidos acabaram por pôr em causa, à falta de clientes, as receitas japonesas da exportação.
O JAPÃO HOJE
O sistema político-partidário japonês é uma monarquia constitucional e parlamentar em que o poder legislativo, o verdadeiro poder político está no Parlamento. A história eleitoral e partidária do Japão tem sido dominada pelo Partido Liberal Democrata que, apesar do nome, é um partido essencialmente nacionalista e conservador que tem, com curtos intervalos, governado o país; só em 1993-1994 e 2009-2012 o PLD não esteve no poder. Foi o protagonista do milagre económico e sempre defendeu a aliança com os Estados Unidos e a política de rearmamento e defesa nacional, política em que se distinguiu o líder do partido e primeiro-ministro Shinzo Abe, assassinado em Julho de 2022.
O actual governo japonês é presidido por Fumio Kishida, presidente do Partido Liberal Democrata. A família de Kishida é de Hiroshima e uma parte morreu em 1945. Kishida serviu em anteriores gabinetes do seu partido como Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa. Neste sentido o Primeiro-Ministro tem insistido na consolidação do Quad – Quadrilateral Security Dialogue, uma iniciativa de conversação de defesa entre os Estados-Unidos, a Índia, o Japão e a Austrália, para segurança do Indo-Pacífico. É também um partidário do aumento dos gastos militares, muito atento à hegemonia progressiva da China na Ásia e preocupado em equilibrá-la.
Segundo os dados do INE, o Japão foi o 34º cliente das exportações portuguesas de bens em 2022, com uma quota de 0,3%, (28ª posição ao nível das importações). Desde 2018 até 2022 verificou-se um crescimento médio anual das exportações de 17,3% e de 20,7% nas importações. A balança comercial de bens foi desfavorável ao nosso país, tendo apresentado um défice de 341 milhões de euros em 2022.
Na estrutura das exportações destacam-se os Veículos e Outro Material de Transporte (36,3%), os Produtos Alimentares (22,8%), os Produtos Agrícolas (7,1%), os Produtos Químicos (5,1%) e os Instrumentos de Óptica e Precisão (4,5%). Os principais grupos de produtos importados foram os Veículos e Outro Material de Transporte (29,3%), as Máquinas e Aparelhos (28,5%), os Metais Comuns (17,9%), os Plásticos e Borracha (8,6%) e os Produtos Químicos (3,7%).
Em termos de oportunidades de negócio, o Japão poderá ser um mercado interessante, principalmente para os produtos alimentares, vinhos, produtos de cortiça, materiais de construção, indústria farmacêutica, energia eólica offshore e tecnologias de informação.
Nome oficial: Japão
Área: 377.930 Km2
Capital: Tóquio
Idioma: japonês
População: 126 044 581
Religiões: Xintoísmo e budismo (80%), cristianismo, outras.
Governo: Monarquia constitucional parlamentar
Imperador: Naruhito
Moeda: Iene japonês
PIB: 1.097,118 biliões USD (Dezembro 2023).
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) - 0.925
Index of Economic Freedom Heritage 2023: 67.5, 38ª no index de 2024
Ease of Doing Business Index: 84.1, 29ª de 150
A CCIP coloca à sua disposição três formas de abordar o mercado:
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