A indústria das conservas de peixe é tradicionalmente uma actividade muito voltada para a exportação e, portanto, com grande relevância para a economia nacional. Trata-se de uma indústria que, no nosso País, conta com mais de 160 anos e que desde cedo foi conquistando um mercado fiel e que aprecia a qualidade dos seus produtos, vendendo para mais de 70 países.
É também um sector que, depois de atravessar uma crise grande, soube reinventar-se e adaptar-se aos novos tempos, sendo hoje unanimemente reconhecido como de grande importância económica, seja do ponto de vista dos seus resultados económicos, seja pelo facto de constituir um grande sector empregador, seja ainda pelo enorme impacto que tem em diversas economias regionais e locais.
Quando se fala da forma como esta indústria se soube adaptar aos novos tempos e tornar-se altamente competitiva, tem de se referir que essa transformação se deu a diversos níveis. Se a qualidade foi sempre uma característica do sector, devido também à superior qualidade do peixe português, é inegável que a indústria aumentou ainda a sua exigência ao apostar na área da investigação e desenvolvimento, de forma a criar um ambiente de conservação ideal com recurso a bons óleos e azeites e sem a adição de corantes e conservantes.
Também a variedade da sua produção foi extraordinariamente diversificada, mantendo-se embora uma grande aposta na sardinha e no atum. Aparecem agora novos peixes como a cavala e o bacalhau, a lula e o polvo, entre outros. Variaram também os molhos e os sabores, cobrindo assim os mais variados gostos.
Tudo isto foi possível através de uma boa utilização dos fundos comunitários, o que permitiu uma enorme renovação das infraestruturas desta indústria, com a construção de novas e modernas fábricas, com grande capacidade de produção. Em 1938 existiam em Portugal 152 fábricas conserveiras que produziam cerca de 34 mil toneladas de conservas de peixe. Actualmente, o número de fábricas reduziu para 21 mas, em contrapartida, a produção aumentou para cerca de 55 mil toneladas”.
Mas, porventura, a adaptação mais relevante aos novos tempos deu-se ao nível do marketing. Hoje em dia a conserva portuguesa está na moda, tendo deixado de ser vista como solução de recurso e havendo mesmo lojas especializadas na sua comercialização e restaurantes que a ela recorrem com grande frequência nos seus menus. Chegou até ao mercado gourmet e é vendida pelas suas qualidades para a saúde, devido à ausência de corantes e conservantes, e à presença de produtos benéficos como o ómega 3.
Presentemente encontra-se numa nova fase, apostada na conquista do mercado nacional, já não para venda apenas aos turistas, mas de forma a introduzir o seu consumo generalizado pelas famílias portuguesas, sendo que este representa já 35% das vendas.
Para esta renovação da indústria conserveira foram disponibilizados grandes apoios financeiros, correspondendo a um investimento global de 75 milhões de euros para o período que vai de 2011 a 2015. Foram, assim, construídas ou renovadas em profundidade 17 fábricas de conservas e criados muitos postos de trabalho. Segundo a Ministra do Mar, Assunção Cristas, o “emprego azul”, como são designados os postos de trabalho relacionados com a actividade marítima, passou de 2,3% para 2,8% do total, devendo-se muito desse crescimento à indústria das conservas.
Fruto desta aposta na modernização, a indústria portuguesa de conservas conseguiu, no ano passado, exportar 207,3 milhões de euros, o que representa cerca de 65% da sua produção. Entre os principais clientes estão os países europeus, onde existe já um mercado fiel de há muitos anos, mas as nossas conservas estão a chegar a todos os continentes e a conquistar um número cada vez maior de adeptos.
Refira-se também que a indústria das conservas de peixe tem também um grande impacto em muitas outras actividades. Desde logo, as relacionadas com a produção de óleos e azeites, mas também as que produzem as latas de conserva, cada vez mais amigas do ambiente e mais fáceis de abrir e conservar; também sectores como o dos transportes e embalagens de cartão. Há ainda, fruto da aposta na I&D, alguns projectos, como é o caso do Valorpeixe, que apostam no aproveitamento dos subprodutos desta indústria, que conduz à produção de biodiesel, hidroxiapatite, colagénio, gelatina ou péptidos.
Embora se trate de uma indústria que está em plena expansão e com óptimos resultados a todos os níveis, enfrenta também alguns problemas. Um deles é o facto de a sardinha portuguesa, que se encontra certificada internacionalmente, estar a diminuir a sua presença na nossa costa (em 2014 a pesca da sardinha teve uma quebra de 42,8%). Sinal alarmante foi logo o facto de as capturas nas águas do Algarve terem revelado uma preocupante redução do número de petinga, o que poderá indiciar problemas para o futuro. Torna-se, portanto, cada vez mais importante o respeito das quotas pesqueiras e a protecção das espécies.
As últimas estatísticas do INE referem que as capturas pela frota nacional de peixe fresco e refrigerado em 2014 foram as menores dos últimos 45 anos. A diminuição relativamente a 2013 foi de 17,1%, facto que para a indústria só foi compensado por os preços terem subido 19,1%.
O total da pesca nacional no ano passado foi de apenas 119,8 mil toneladas de peixe, o que agravou a balança comercial em 44 milhões de euros, num total de 662,5 milhões de euros. Finalmente, também a frota licenciada totalizou apenas 4,3 mil embarcações, o valor mais baixo desde 2006.

