Enrico Mattei foi um político e empresário italiano ligado à Democracia Cristã e à resistência, fundador em 1953 da ENI (Ente Nazionale Idrocarburi), a grande companhia pública italiana de oil and gas.
Foi Mattei quem, no pós-guerra, quando nomeada responsável liquidatário da AGIP (Azienda Generale Italiana Petroli) fundada por Mussolini em 1926 se aplicou a criar uma política energética italiana independente, voltada para o Médio Oriente e o Norte de África. Daí que a sua morte – o seu jacto privado explodiu em voo, um voo da Sicília para Milão, em 27 de Outubro de 1962, no meio de uma tempestade – tivesse levantado muitas suspeitas, sendo objecto de anos de investigação; há filmes (Il Caso Mattei, de Francesco Rossi, 1972) e séries de televisão sobre a vida e morte de Mattei.
Giorgia Meloni, a chefe do Governo italiano e líder do partido Fratelli d’Italia, que chefia a coligação da direita nacional-conservadora que governa a Itália, decidiu pôr o nome desta personalidade da Resistência e da política industrial italiana a um programa muito original promovido por Roma para cooperar com África.
O plano Mattei de Meloni tem por objectivos declarados combater as causas da emigração africana para a Europa e contribuir para erradicar o radicalismo jihadista na África Subsaariana.
A filosofia por detrás do Plano Mattei é muito simples e clara: a melhor forma de travar a emigração africana para a Europa é procurar, com racionalidade, vontade e eficácia, criar condições nos países africanos para que aqueles que emigram não tenham de o fazer.
Isto é, desenvolver os países. A Itália foi o país europeu que, de certo modo, fracassou no final do ´seculo XIX no seu projecto africano, talvez porque escolheu como alvo a Etiópia, uma monarquia milenar independente. E que desde o século XVI manteve relações com Portugal, com quem trocou embaixadores em 1514. Em 1541, uma expedição militar de 400 homens comandada por Cristóvão da Gama ajudou os etíopes do rei Galawdewas na guerra contra os invasores muçulmanos de Al Ghazi, “o Canhoto”. Os Etíopes acabaram por vencer, mas Cristóvão da Gama, capturado em combate, morreu de forma cruel às mãos do “Canhoto”.
Os italianos foram derrotados em Adua pelos etíopes. E Mussolini, ao invadir a Etiópia para “corrigir” essa derrota, acabou por criar a situação que o levaria para os braços de Hitler. Para corrigir estes pouco felizes antecedentes, Meloni foi buscar o nome de Mattei para o Plano que anunciou em Outubro de 2022, logo a seguir a chegar ao Governo. Tinha alguns antecedentes recentes, este interesse por África, desde o primeiro-ministro Matteo Renzi, que fizera várias viagens de trabalho ao continente africano. E, claro, havia uma rede de contactos da própria ENI. Por outro lado, a balança comercial da Itália com a África é deficitária por causa da importação de energia da Argélia e da Líbia. Para além destes interesses político-económicos, a Itália, como país-base da Santa Sé e de muitas comunidades missionárias, como os Missionários Combonianos, tinha uma vasta rede institucional cooperativa.
Os fundos iniciais do Plano Mattei eram de 5,5 mil milhões de Euros. Mas a chefe do Governo italiano colheu um grande suporte na conferência Itália-África em Roma, em Janeiro de 2024, onde teve presentes 21 chefes de Estado e um total de 26 delegações ministeriais africanas. Para já, há projectos anunciados e aprovados com a Argélia, Marrocos, Tunísia, Egipto, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Etiópia, Quénia e Moçambique.
O importante do Plano Mattei é a sua filosofia de atacar o problema pela raiz e substituir a cada vez mais cara e cada vez mais difícil de executar política securitária de controlo, por uma racional promoção do desenvolvimento, procurando fixar as populações.

