Os números começam a ser divulgados e comprovam o que muitos já sabiam ser verdade: a indústria das conservas conheceu no último ano um importante impulso. A procura de conservas de peixe subiu 16% e a produção nacional respondeu, com um aumento de 11 mil toneladas (correspondentes a 40 milhões de euros) para um total de 72 mil, atingindo um valor total produzido de 365 milhões de euros.
A subida não se cingiu ao mercado interno, com as exportações a seguirem a mesma tendência de crescimento. Foram 193,3 milhões de euros o valor atingido em exportações de conservas de peixe, o que significou um aumento de 14% em valor e uma subida próxima dos 20% em volume. Naquele que foi considerado um annus horribilis para muitos, 2020 pode ter sido um verdadeiro ano de viragem para a indústria portuguesa de conservas e para a sua internacionalização.
Naturalmente que as condições excecionais vividas ao longo de 2020, e que levaram a uma necessária adaptação dos hábitos de consumo, impulsionaram este quadro. Correndo aos supermercados, ou já depois com as entregas ao domicílio, as despensas das famílias portuguesas encheram-se de produtos enlatados, e as conservas de peixe dominaram, especialmente as conservas de especialidade, que foram aquelas que mais beneficiaram deste aumento da procura do consumidor nacional. Mas um olhar mais atento nota que as transformações que se tornaram evidentes em 2020 são fruto de um trabalho mais profundo, e que o esforço pela revitalização e modernização da indústria há muito que vem sendo operado.
A face mais visível deste esforço foi a campanha “Vamos Conservar o que é Nosso”. Uma campanha levada a cabo ao longo do ano, apoiada pelo ministério do Mar e envolvendo toda a indústria conserveira portuguesa, e que se propôs a dinamizar e valorizar as conservas produzidas em Portugal, diversificar a oferta e promover o consumo de conservas nacionais. Do tradicional atum e sardinha, chegam cada vez mais às mesas dos portugueses a cavala, o bacalhau, o polvo e as lulas, preservados numa variedade de óleos e azeites, com múltiplos sabores e temperos. Já não se trata apenas de conservas tradicionais consumidas como produtos básicos. O paradigma está a mudar, com nichos cada vez mais bem posicionados como de elevada qualidade e sofisticação, conquistando o mercado dos produtos “gourmet”. Assim é dentro e além-fronteiras.
A internacionalização do setor – números que falam por si
Ao longo da última década, economia do mar cresceu a um ritmo acima da média da economia nacional, quer em ternos de valor acrescentado, quer em termos de emprego. Na vertente internacional, as exportações de produtos provenientes da economia do mar, que representaram perto de 5% do total das exportações, cresceram 21,8% (mais 2,9% do que as exportações nacionais) até 2019. Dados provisórios relativos a 2020 apontam para que as exportações da fileira agroalimentar tenham sido as únicas a registar aumentos, com o sector do pescado a ultrapassar o vinho, o azeite e as frutas.
Com cerca de 150 anos de história, e de vocação tradicionalmente exportadora, a indústria das conservas de peixe acompanhou esta trajetória. Os números relativos a 2020, ponto de partida da nossa análise, assim o comprovam e são o culminar de uma transformação que a indústria vem sofrendo. Mas voltemos aos números.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, das 72 mil toneladas produzidas, mais de 71% (51,3 mil toneladas) seguiram para o mercado externo, uma subida de 17,4% face às 43,7 mil toneladas exportadas em 2019, o que representou a entrada de 256,5 milhões de euros, mais 13,2% do que em relação aos 226,7 milhões obtidos no ano anterior. Números encorajadores e que revelam o enorme potencial exportador desta indústria. São muitos, aliás, os que defendem ser precisamente na sua dimensão internacional que reside o maior interesse estratégico do setor.
França, Itália, Reino Unido, Bélgica, Holanda Luxemburgo, Grécia, Suécia, Dinamarca, Polónia, Suíça, EUA, Canadá, África do Sul, Israel, Japão, Brasil, China, Singapura, Austrália, Angola, Filipinas, Peru…. As conservas portuguesas chegam a dezenas de países e podem chegar a muitos mais. Retomando as palavras de outros, lançamos novo mote: “Vamos conservar o que é nosso. Vamos conservar para exportar.”