As Expectativas de Crescimento das Economias Lusófonas

Ao longo do último ano, muito se debateu sobre o quadro político-económico de importantes parceiros comerciais de Portugal no espaço da lusofonia, na maior parte dos casos focando as dificuldades económicas e financeiras com as quais essas economias se debatiam (e debatem) e os seus reflexos no comércio internacional português, especialmente ao nível das exportações.

Angola

Este quadro de dificuldades foi especialmente visível em Angola. A queda vertiginosa do preço do petróleo nos mercados internacionais abalou fortemente a economia angolana – excessivamente dependente deste sector tanto ao nível da formação do PIB, como ao nível das receitas do Estado – contaminando milhares de empresas portuguesas presentes no país ou com operações comerciais e financeiras com Angola. O país deixou de ser o principal destino das exportações portuguesas extra-UE, cedendo esse lugar aos EUA.

Embora o governo continue a esforçar-se para se adaptar ao novo contexto, é expectável que os factores que desencadearam a crise se mantenham em 2016 pelo que, no curto prazo, as perspectivas não serão as melhores.

O ritmo de crescimento da economia angolana é hoje significativamente menor quando comparado com níveis atingidos ao longo da última década. Ainda assim, Angola deverá continuar a crescer a uma média de 3,8% nos próximos anos podendo mesmo ultrapassar a meta dos 4% já em 2018. A diversificação da economia tenderá a tornar-se uma realidade a médio e longo prazo, promovendo o crescimento de outros sectores com potencial como agro-indústria e a indústria mineira, e assim aumentar as oportunidades de negócio. Os actuais esforços no sentido de combater a corrupção e aumentar o rigor e transparência nas contas públicas deverão ajudar à concretização deste cenário mais positivo.

Brasil

O Brasil passou também por momentos difíceis. Os efeitos da crise económica, aliados a escândalos de corrupção, deram lugar a uma forte instabilidade social e política. O lado mais visível da crise poderá ter sido político, com a possibilidade de aprovação de um impeachment à presidente Dilma Rousseff. Mesmo não se tendo concretizado, a situação política ficou bastante fragilizada.

No entanto, um olhar mais atento à realidade brasileira permite perceber que no terreno as grandes dificuldades são económicas e não parecem ser passíveis de resolução no curto-prazo. As estimativas apontam para uma retracção no crescimento na ordem dos 3% e 1% em 2015 e 2016 respectivamente. Quanto aos anos seguintes, o gigante sul-americano poderá dar sinais de retoma em 2017 e 2018, com o PIB a crescente 2,2% e 2,3%.

Cabo Verde

O panorama político é substancialmente diferente tratando-se de Cabo Verde.

Uma das mais sólidas democracias do continente Africano, com instituições consistentes e um historial de respeito e promoção dos direitos humanos, Cabo Verde tem vindo a construir uma imagem bastante positiva no contexto internacional. O clima de estabilidade política vivido em Cabo Verde dá confiança aos investidores ajudando ao desenvolvimento cada vez maior da sua economia.

Em 2016, apesar de expectativas de aumento do desemprego, da crescente contestação social e do aumento dos níveis de violência em cidades como a Praia ou o Mindelo, o país deverá manter-se política e socialmente estável. A economia cabo-verdiana deverá crescer cerca de 3,65% em 2016, registando-se, assim, um ligeiro aumento relativamente ao ano de 2015, num cenário em que, apesar da contracção do investimento público, o crescimento deverá ser sustentado pelo aumento do consumo e do investimento externo.    

Guiné-Bissau

A situação na Guiné-Bissau ao longo do último ano também não foi a melhor. Depois de um período de retoma económica que se seguiu às eleições de 2014, o país voltou a mergulhar numa crise política, fruto da demissão do governo liderado por Domingos Simões Pereira, em Agosto de 2015, por decisão do Presidente da República, José Mário Vaz.

O clima de instabilidade instalado desanimou investidores, adiando, uma vez mais, a realização do verdadeiro potencial do país. Ainda assim, a Guiné-Bissau terá conseguido crescer cerca de 4,7% (um valor bastante inferior ao registado, por exemplo, em 2011, ano em a economia cresceu 9,4%). Não foi ainda encontrada uma solução viável a médio longo prazo e é natural que o actual – e frágil – equilíbrio político sofra alterações em 2016.

Apesar deste contexto político de incerteza, o país continua a atrair investimento. China mantém o seu interesse na Guiné Bissau, com investimentos nas áreas do turismo, infra estruturas e telecomunicações. Estima-se que em 2016 a economia cresça 4,8%, podendo chegar nos dois anos seguintes aos 5%. Vemos, por isso, que mesmo bastante aquém do seu potencial, as perspectivas são positivas.

Bissau deverá ainda beneficiar da entrada em vigor de uma tarifa externa comum no espaço da CEDAO (em Agosto de 2016), que contribui para a agilização e aumento das trocas comerciais entre os países da sub-região.

Moçambique

Em Moçambique, as dificuldades também se fizeram sentir, neste caso, ainda mais acentuadas pela crise política instalada desde 2014 opondo a RENAMO e o governo da FRELIMO.

Aliado a uma descida do preço do gás natural e do carvão no mercado internacional, o clima de instabilidade política assustou investidores pondo em causa grandes projectos principalmente nos sectores da energia – assentes na exploração de gás e carvão – e da construção de infra-estruturas. Foram muitas as empresas, portuguesas e estrangeiras, a cancelar as suas operações com Moçambique, abandonando este mercado e, assim, comprometendo o ritmo de crescimento do país.     

A persistir o conflito político que ameaça dividir o país, diminuem as perspectivas de crescimento que deverão ficar aquém do seu potencial. Mas a possibilidade de uma negociação que permita chegar a um entendimento quanto a uma solução definitiva e equilibrada entre o poder e a oposição é perfeitamente realizável. Assim, e mesmo perante os desafios actualmente existentes, há espaço para perspectivas mais optimistas quanto ao crescimento do país.

Depois de uma descida do PIB em 2015 – os dados estimados apontam nesse sentido – a economia deverá continuar a crescer a uma média de 8% nos próximos anos, pelo que as potencialidades do mercado moçambicano não deverão ser esquecidas pelos investidores e empresários.

São Tomé e Príncipe

Em São Tomé e Príncipe, é evidente a tensão na relação entre o Presidente da República Pinto da Costa e o Primeiro-ministro Patrice Trovoada, afastado por uma moção de censura da oposição em 2012 e reeleito por maioria absoluta em Outubro de 2014.

Tendo em conta as dificuldades estruturais deste país pequeno e insular, S. Tomé e Príncipe tem crescido a um ritmo assinalável nos últimos seis anos (média de 4,5%) alimentado pelo investimento no desenvolvimento de infra estruturas e pela expansão do sector do turismo. O orçamento de 2016, que conta com o apoio directo da União Europeia e do Banco Mundial, prevê a priorização dos sectores das infra estruturas e saúde.

Prevê-se um crescimento em torno dos 5% já este ano e talvez um pouco em 2017 e 2018. As perspectivas são, por isso, animadoras.

Timor

Geograficamente mais longe, Timor parece também distanciar-se dos grandes holofotes. Apesar disso, a única economia lusófona no Pacífico tem demonstrado uma tendência de crescimento – à qual não serão alheios os recursos energéticos do país – sólido e sustentável. Mesmo que distante de valores de crescimento no início da década (na ordem dos 9%), a economia timorense continuou a expandir-se a uma média de 4,5% ao longo dos últimos quatro anos. Esta tendência de crescimento deverá manter-se em 2016 e anos seguintes: as estimativas apontam para um aumento do PIB em 5% em 2016 e 6% entre 2017 e 2018.  

Apesar das dificuldades e obstáculos, e mesmo perante uma desaceleração em algumas das suas economias, o espaço da lusofonia será sempre de enorme relevância estratégica para o nosso país. Acresce, que momentos de crise para uns podem transformar-se em oportunidades para outros. Os próximos anos poderão assim demonstrar uma certa deslocação de oportunidades às quais as empresas portuguesas deverão estar atentas. Numa altura em que percebemos que economias como os EUA, a Índia, a China e até mesmo a Austrália estão atentas aos mercados lusófonos (o sector agrícola é um caso especialmente visível), não deveremos nós menosprezar as potencialidades de um vasto mercado que é da nossa língua.

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