A indústria agroalimentar tem sido a grande revelação nos últimos anos no que se refere ao crescimento das exportações. Para isso, muito contribuiu a modernização e inovação no sector, bem como o desenvolvimento de uma estratégia visando a divulgação no exterior do que de melhor cá se faz.
Durante muitos anos, a indústria agroalimentar esteve voltada apenas para o mercado interno, com algumas incursões em mercados externos visando essencialmente a satisfação da procura por parte dos nossos emigrantes. Era uma situação que traduzia também a crise em que o sector se encontrava e a falta de inovação que o caracterizava.
Hoje, embora haja ainda muito a fazer por comparação com outros países europeus, este sector reinventou-se por completo, afirmando-se no panorama nacional como um dos mais dinâmicos e com maior vocação para a exportação. A qualidade dos nossos produtos, aliás, tem vindo a ser reconhecida um pouco por todo o lado, através da atribuição de prémios e alargamento dos mercados.
As exportações de produtos agroalimentares, que têm vindo a crescer continuamente nos últimos anos, viram o seu volume aumentar 7,8% em 2013, sendo que para este ano as previsões apontam para um crescimento em torno dos 2,5%, com vendas que ultrapassarão os 4,25 mil milhões de euros. Contudo, se estes números são muito animadores, a verdade é que as exportações do sector têm de duplicar para se alcançar um equilíbrio relativamente à balança comercial do sector, o que tem sido apontado como um objectivo pelo Governo português. A taxa de cobertura das importações pelas exportações do sector agroalimentar, que era de 53,3% em 2011, é hoje de 60%.
Para estes bons resultados das exportações agroalimentares portuguesas muito contribuiu a descoberta de novos mercados fora da Europa, a que tradicionalmente se dava pouca atenção e que cresceram 11%. Embora os países europeus, e nomeadamente Espanha (que se encontra em primeiro lugar, comprando 36% dos produtos portugueses), continuem a ser os nossos principais clientes, nos últimos anos começaram a aparecer novos e importantes mercados como África do Sul, Angola, Brasil, EUA e Rússia (agora afectado pelo embargo aos produtos europeus).
A Ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, tem vindo a dar grande ênfase à necessidade de as empresas do sector se virarem para a internacionalização e para a importância de continuar a "incorporar matéria-prima nacional" nos produtos que comercializa.
Os produtos agroalimentares nacionais têm uma grande potencialidade para a exportação dada a sua qualidade e variedade, bem como o facto de se poderem enquadrar na chamada dieta mediterrânica que tem vindo a gozar de crescente aceitação a nível mundial. Trata-se, contudo, de um mercado muito competitivo e que exige dos nossos empresários a capacidade de acompanharem a cada vez maior exigência do sector em termos de inovação e qualidade.
Embora haja produtos tradicionais que têm apresentado taxas de crescimento das exportações muito atractivas, como o azeite (30%), os produtos transformados, como o tomate (17%) ou o vinho (2,5%), a verdade é que se torna necessário apostar no marketing e na criação de marcas que possam fidelizar os clientes, área em que ainda há muito a fazer.
Esta questão leva-nos, porém, a um problema que tem afectado esta indústria em Portugal e que tem que ver com o facto de ser um sector com grandes assimetrias, caracterizado por algumas grandes empresas, nacionais ou estrangeiras, que sabem promover as suas marcas no exterior e, um grande número de pequenas ou micro empresas que tem tido muita dificuldade em se mostrar lá fora e em conseguir assegurar a produção necessária à satisfação continuada das encomendas. Há, assim, que promover a criação de parcerias entre as empresas para que possam melhorar a qualidade dos seus produtos, criar marcas e divulgá-las internacionalmente. Para apoiar a concretização destas metas, a Câmara de Comércio tem organizado missões empresariais e visitas a feiras do sector, como por exemplo à Prowein (Dusseldorf) e à Anuga (Colónia).
Refira-se que países como o Reino Unido têm na sua indústria agroalimentar o maior sector industrial do país e em contínuo crescimento, para o que muito contribuiu uma política de apoio à internacionalização das suas empresas e exportação dos seus produtos. São exemplos que devem ser seguidos por países como o nosso que tem já diversas marcas ou sectores com bastante projecção no exterior, como pode ser o caso do vinho do Porto ou o das conservas.
Os produtos que em 2013 apresentaram um maior crescimento nas exportações foram as gorduras e óleos, com destaque para o azeite; as preparações de carne, peixe; crustáceos e moluscos; preparações à base de cereais ou leite e resíduos das indústrias alimentares, designadamente alimentos para animais.
Assim, importa referir mais uma vez que, para estes resultados das exportações do sector continuem a melhorar, torna-se necessário apostar crescentemente na criação de marcas, no aumento da qualidade e da imagem e, na oferta de um produto diferenciado cujas encomendas possam ser sempre garantidas.

