A revolta dos agricultores

No princípio de Fevereiro, Bruxelas, a capital da União Europeia, de onde emanam as leis e os fundos, foi invadida por milhares de agricultores: a maioria eram belgas, mas também havia um grande contingente de franceses; e ainda de holandeses, alemães e italianos.

Tinham vindo nas suas máquinas – mais de 1300 tractores – e acampado ali na praça do Luxemburgo, sob um grande cartaz:

“Free the Farmers! Stop Free Trade”

Os agricultores em protesto significa, numa classe de produtores tradicionalmente conservadores e tranquilos, que estão à beira do desespero. Segundo o Eurostat, em 2020 havia 9.100 000 explorações agrícolas; destas, mais ou menos um terço, cerca de 3.000 000, ficam na Roménia; a seguir à Roménia vem a Polónia, com 1.300 000 (15%), a Itália com 1.100 000, e a Espanha com 900.000.

Cerca de 95% destas explorações são familiares, no sentido que mais de 50% dos trabalhadores pertencem à família proprietária. A França é a grande excepção, com um significativo número (42%) das suas 400.000 explorações agrícolas não familiares.

Também, sempre segundo a Eurostat, dois terços destas propriedades têm menos de 5 hectares; 7,5% têm mais de 50 hectares; a média andará pelos 17 hectares.

As razões da cólera dos agricultores têm a ver essencialmente com as consequências económicas e sociais da chamada “Agenda Verde”, que têm efeitos colaterais sobre os custos de produção. Também a quebra dos subsídios e, acima de tudo, um mercado desregulado que importa de países extra-europeus, com regulamentos desiguais, a preços baixos, numa concorrência desleal.

A queixa é que Bruxelas impõe políticas desligadas da realidade e com dogmatismo. Os agricultores alemães dizem que, a não serem apoiados financeiramente, vão subir os preços dos alimentos entre cinco e dez por cento. Neste propósito foram apoiados pelos suíços; mas os agricultores da Polónia, da Roménia, da Eslováquia, da Hungria e da Bulgária pensam o mesmo e queixam-se das importações ucranianas de cereais, favorecidas por uma isenção aduaneira que termina em Junho.

Ursula von der Leyen fez promessas em Setembro passado, mas não houve nem seguimento, nem consequência. Verdade que é um sector muito dependente de apoios e subsídios. Em matéria de subsídios, aliás, os suíços são impressionantes, com 70% dos rendimentos provenientes de dádivas do Estado. A média na União Europeia é 29%, mas a Noruega com 82% e a Finlândia com 93%, estão à cabeça dos subsídio-dependentes.

Perante as ameaças e acções dos agricultores, que até agora têm contado com a simpatia e o apoio do resto da população, os governos têm vindo a ceder, pelo menos parcialmente. Assim, o governo francês, através do novo primeiro-ministro Gabriel Attal, anunciou medidas que incluem:

  • 150 milhões de euros de apoios sociais e discais aos criadores de gado;
  • Apoio à negociação dos agricultores com os industriais e a grande distribuição;
  • Suspensão do plano de reduções dos pesticidas.

Os agricultores têm uma arma poderosa, quase uma “bomba atómica”, o poder de paralisarem a circulação rodoviária, bloqueando as estradas com tractores e máquinas agrícolas. Têm sabido, até agora, calcular o uso e abuso desta arma, medindo bem a necessidade de pressionar e reintroduzir alguma normalidade na Agenda climática de Bruxelas, mas, ao mesmo tempo, não pôr em causa a popularidade e simpatia de que gozam entre a população em geral.

Mas, para já, conseguiram a suspensão de algumas medidas mais radicais de Bruxelas; e conseguiram, como sublinhava um editorial do Le Figaro, introduzir alguma calma nos entusiasmos “verdes” da Presidente da Comissão.

Ser Associado da Câmara de Comércio significa fazer parte de uma instituição que foi pioneira do associativismo em Portugal.

 

Os nossos Associados dispõem do acesso, em exclusividade, a um conjunto de ferramentas facilitadoras da gestão e organização das respectivas empresas.