Há uma Alternativa Brics?

Até que ponto, a organização BRICS, inicialmente acrónimo das iniciais em inglês dos países seus fundadores - Brasil, Rússia, Índia, China, South África - não está a caminho de se tornar um clube mais político que económico e o embrião de uma ordem alternativa à ordem internacional liberal, representada pela aliança euroamericana expressa pela União Europeia e pela NATO?

Os sinais vinham-se multiplicando nos últimos anos, sobretudo no quadro da rivalidade China - Estados Unidos. Mas a guerra da Ucrânia e a pressão norte-americana para uma definição das posições dos Estados em relação ao conflito numa linha ideológica, acaba por reforçar, essa progressiva politização da organização.

Este fenómeno da nova divisão ideológica em blocos tem sido por alguns analistas chamado nova Guerra Fria. Na verdade, o que realmente se observa é uma crescente tendência para uma sociedade internacional multipolar, em que não só as potências de primeira ordem, como os Estados Unidos e a China, mas países como o Brasil, a Arábia Saudita, a Turquia e o México, com economias e demografias importantes e com protagonismo regional, se afirmem com políticas internacionais independentes da linha geral ditada pela potência hegemónica.

É o que mostra uma análise atenta das opções seguidas nos alinhamentos em relação ao conflito ucraniano: uma semana passada sobre o início da guerra, na votação da Assembleia Geral das Nações Unidas, a par da maciça condenação da Rússia pelo bloco euro-norte-americano - e do exíguo grupo de Estados clientes pró-Moscovo, como a Síria e a Bielorrússia, o importante foram as 35 abstenções. Donde vieram?

Lá estavam todos os BRICS, com o seu peso populacional e económico - China, Índia, Brasil, África do Sul - mas também poderes asiáticos como o Paquistão e a Indonésia. Aliás, da Ásia, votaram com a Ucrânia apenas o Japão, a Coreia do Sul e Singapura.

Também metade dos países africanos se abstiveram. A interpretação destes comportamentos governamentais e das opiniões públicas leva a crer que, paralelamente ao peso dos interesses nacionais de cada país, na sua dimensão geopolítica e geoeconómica, que parece mais bem servida pelo não-alinhamento, persiste, nas classes dirigentes e em parte da população, o sentimento contra o que consideram os “duplos padrões” ocidentais, na reacção à crise internacional. No Médio Oriente, por exemplo, emerge a memória da segunda guerra do Iraque, enquanto na África se explora a crítica ao colonialismo e na América do Sul as memórias antiamericanas.

Para além da Rússia - que é parte no conflito – os outros fundadores dos BRICS como o Brasil e a África do Sul, têm usado o grupo, como uma alavanca internacional do seu poder nacional; para a Índia é, além de um veículo para o seu papel no “Sul Global”, uma plataforma de diálogo com a China, com quem tem velhas confrontações; a China, que é a mais próxima da Rússia, sente-se como um líder do grupo, e usa-o no seu duelo surdo com os Estados Unidos.

Mas o mais activo do grupo em termos de expressão do conflito com o bloco euro-americano tem sido o Presidente do Brasil, Lula da Silva: Lula recusou-se a condenar a invasão russa; reabriu contactos com a Venezuela de Maduro; apesar das sanções norte-americanas autorizou navios militares iranianos a usar portos brasileiros. Isto no plano político; no plano económico-financeiro tomou a iniciativa, com o seu homólogo argentino Alberto-Fernández de planos para a criação de uma moeda comum sul-americana, funcionando como alternativa ao Dólar americano em pagamentos regionais. E deslocou-se em força à China com uma grande comitiva empresarial.

Todos estes sinais, bem como a ideia de criar um sistema alternativo ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, instituições financeiras dominadas pelo Ocidente, parecem, por enquanto incipientes. Mas em 2014 os BRICS criaram o New Development Bank, com 50 biliões de Dólares de capital. A vontade não deixa de estar presente e ser expressa em palavras e iniciativas pelos dirigentes dos BRICS, e à medida que a guerra e os seus efeitos se prolongarem tais tendências consolidar-se-ão.

E além do mais parecem não faltar candidatos para integrar a organização. Segundo informou a ministra dos Estrangeiros da África do Sul, Naledi Pandor, numa entrevista televisiva, ela já recebeu 12 comunicações de países interessados, entre eles, a Arábia Saudita, a Argentina, o México, o Egipto e a Nigéria.

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