A OPEP, o Ocidente e a Geopolítica do Petróleo

Num quadro político-económico abalado pelas consequências da guerra na Europa - inflacção, agitação social na França e na Alemanha, receio de um alargamento do conflito - e agravado pelas falências de grandes bancos como o Crédit Suisse e o Silicon Valley Bank – a notícia dos cortes de produção decididos pelos países da OPEP, em 2 de Abril, foi a cereja no bolo das más notícias.

Já em Outubro de 2022, contradizendo um pedido da Administração Biden de aumento de produção para baixar os preços, a OPEP tinha anunciado um corte de 2 milhões de barris, a partir de Novembro, o que levou outra vez à subida dos preços o que, para além de piorar a situação dos importadores líquidos da Europa beneficiou a Rússia de Putin que, com a Arábia Saudita é o maior exportador mundial de crude. E demonstrou também como Rihad se afastou nos últimos dois anos de Washington, estando a agir, neste dossier, numa estrita cumplicidade com Moscovo.

Desta vez, ao anunciar os cortes, como uma “medida de precaução” destinada a manter a estabilidade do “mercado energético”, cujos preços têm oscilado desde o início da guerra entre o máximo de 120 dólares/barril e 70 dólares. Na semana de 10/11 de Abril o Brent tem-se fixado pelos 86 dólares e o WTI pelos 82.

O quadro geopolítico em mudança ajuda a explicar esta situação: a partir do surpreendente acordo de Março, Irão-Arábia Saudita, auspiciado e abençoado por Pequim, quebrando uma hostilidade meio século, revela até que ponto o “Ocidente” ou a aliança das democracias euro-americanas se acha fragilizada perante este entendimento que ultrapassa os meros interesses económicos dos grandes produtores.

Num mercado em que os Estados Unidos (11.567.000 bdp), a Rússia (10.503.000) e a Arábia Saudita (10.225.000) representam um terço da produção mundial de 101 milhões de barris, estes novos cortes têm significado, tanto mais que, logo a seguir ao anunciado corte da OPEP, no dia 3 de Abril, foi a vez da Rússia anunciar que iria também reduzir a produção em meio milhão de barris a partir de Maio e até ao fim do ano. Reforçando o já quadro hostil para os Estados Unidos, os ministros dos Negócios Estrangeiros saudita e iraniano Faisal bin Farhan e Hossein Amirabdollahian encontraram-se em Pequim em 6 de Abril, propondo-se, para além da próxima reabertura das embaixadas, “eliminar qualquer obstáculo no caminho da expansão da cooperação “entre Ryihad e Teerão”.

São más notícias para os Estados Unidos e para a ordem internacional liberal, cada vez mais posta em questão. A guerra da Ucrânia e as consequentes sanções à Rússia, até aqui um fornecedor de energia e matérias-primas a bom preço à Europa, acabou por criar, sobretudo pela estratégia norte-americana de converter o conflito num combate das “democracias” contra os “autoritarismos”, a uma situação de bipolarização definida na fórmula “The West against the Rest”. O problema é que “The Rest”, hoje em dia tem mais população, mais recursos naturais e energéticos, que o Ocidente. E que o impacto da guerra, a inflacção dos preços da alimentação e da energia, verão vão progressivamente descontentando as populações. E as democracias, são democráticas por definição e aqui os governos podem perder o apoio popular.

E também aqui surgem, bruscamente, divisões. No regresso de uma visita de Estado a Pequim, o Presidente Macron exortou a Europa, a abandonar a colagem aos Estados Unidos na questão de Taiwan, depois de se ter recusado a entrar numa dicotomia de bloco, dizendo que os europeus não deviam ser “vassalos” dos norte-americanos, mas formar um “terceiro polo”. As reacções americanas oficiais foram diplomaticamente embaraçadas, mas o Wall Street Journal criticou a atitude do presidente francês, distanciando-se da solidariedade atlântica na crise de Taiwan, chamando-lhe “imitador de Charles de Gaulle do século XXI”.

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