A visita do Presidente Macron aos Estados Unidos fez-se sob o signo da concordância político-militar e estratégica quanto à NATO e à guerra da Ucrânia, mas com o registo dos agravos económicos. A visita deu-se num momento em que há uma escalada na Ucrânia – onde os russos continuam a sistemática destruição das infraestruturas energéticas do país, esperando por esse caminho quebrar a resistência de Kiev.
Os dois líderes, Biden e Macron, reafirmaram a continuação do apoio à Ucrânia, com Biden a revelar a disponibilidade para falar condicionalmente com Vladimir Putin. Uma coisa que Macron não deixou de fazer desde o início do conflito.
O encontro dá-se numa altura em que os Estados Unidos parecem estar a voltar a sua atenção para a área Ásia-Pacífico. O que implica, para o bem e para o mal, que a Europa e o Atlântico, embora úteis, não são agora o mais importante para a América.
Macron, agindo implicitamente como representante da União Europeia, veio secundar a iniciativa do comissário europeu para o mercado interno, Thierry Breton; este, numa inédita manifestação de protesto contra as medidas a implementar pelo Inflation Reduction Act (IRA) da Administração Biden, que em seu entender vão prejudicar gravemente a Europa e os europeus, decidiu boicotar a reunião do Conselho Euro-Americano para o Comércio e a Tecnologia.
A principal queixa dos europeus é que o IRA, com uma provisão de generosos subsídios para os fabricantes de carros elétricos nos Estados Unidos, prejudicará gravemente as indústrias europeias do automóvel. Macron tornou público o protesto surdo e implícito de Breton, afirmando o descontentamento europeu com a política “America First” da Administração Biden que, para minorar as consequências para as empresas e para os cidadãos americanos, não hesitou em fazer das empresas e dos empregos dos europeus as vítimas colaterais do seu proteccionismo.
O Presidente francês foi directo nesta crítica, antes de terminar o seu périplo americano em New Orleans – lugar tradicional da amizade franco-americana, onde se encontrou, em conversa privada, com o bilionário Elon Musk para falar da transição ecológica e do futuro das redes sociais.
Entretanto, no Domingo 4 de Dezembro, Ursula von der Leyen tratou de anunciar a resposta ao IRA americano, apelando em Bruges para uma “política industrial comum europeia” que irá exigir, entretanto, “um novo fundo soberano europeu”. Esta é capaz de ser mais uma carta a dividir e não a unir a Europa, já que a única forma de arranjar recursos comuns será, como foi para a recuperação pós-Covid, pelo endividamento; e os países “fiscalmente sóbrios”, incluindo a Alemanha, não parecem muito pelos ajustes.

