Nas vésperas das eleições americanas de Midterm para o Senado e a Câmara dos Representantes, o presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, fez um apelo aos eleitores e aos eleitos norte-americanos para se manterem unidos no apoio a Kiev.
Estes apelos vêm no seguimento de receios de que uma eventual mudança da maioria no Congresso de Washington possa levar a restrições, financeiras e armamentistas, no decisivo apoio que a Administração Biden tem prestado à Ucrânia na luta contra Moscovo. Estes receios baseiam-se sobretudo nas declarações do líder da minoria republicana nos Representantes, Kevin McCarthy, de que, em caso de vitória, deixaria de haver um “cheque em branco” para Kiev. Sendo natural que McCarthy passe de líder da minoria a líder da maioria, os receios fazem algum sentido.
A ajuda americana – até hoje perto de 20 mil milhões de Dólares (o dobro do conjunto da ajuda europeia) – é vital para Zelensky. Entretanto, nem a declaração de McCarthy nem outros alertas republicanos devem ser interpretados como uma mudança de política em relação à Ucrânia, nem na actual Administração a intransigência em relação ao apoio é tão rígida. Só assim se pode compreender que um leak, provavelmente vindo do State Department, revelando a existência de contactos entre Moscovo e Washington para evitar uma deriva perigosa do conflito, tenha sido divulgado pelo Wall Street Journal.
Trata-se de uma guerra que afecta todos e, numa altura em que os ucranianos melhoraram as suas posições no terreno, há a ideia de que seria bom começar a pensar-se em negociar. Muitos também consideram que a posição de Zelensky de querer que a Rússia devolva tudo à Ucrânia – inclusive a Crimeia – ou de se recusar a negociar enquanto Putin for Presidente é excessiva e maximalista.
Por outro lado, numa perspectiva geopolítica, também se entende, no establishment norte-americano, que a posição em relação às sanções da maior parte dos Estados fora da Europa, nomeadamente dos BRIC, está a deixar o “bloco ocidental” muito isolado; e que grande parte dos países da Ásia, África e América Latina, com fortes relações económicas com a China, vê a posição chinesa como mais “realista” e equilibrada.
Nesta medida, é possível que um efeito dos resultados destas eleições norte-americanas seja reforçar e justificar uma posição mais flexível dos Estados Unidos – e por reflexo da Europa – no que diz respeito à urgência de uma negociação entre Kiev e Moscovo.

