Na reunião de 5 de Outubro, a OPEP decidiu reduzir a produção em 2 milhões de barris/dia. A OPEP+, além dos 13 países membros, inclui 10 produtores associados, como o México e a Rússia.
A medida, que respeita a 2% da produção mundial, é considerada uma bofetada nos esforços do presidente Biden para fazer baixar o preço da energia que está a impulsionar a inflacção nos Estados Unidos. O assunto é da maior importância para Washington, quer internamente – a inflacção é a maior preocupação dos eleitores americanos que, em Novembro, vão votar nas eleições legislativas –, como em termos internacionais, indicando que estes países não seguem as recomendações nem as sanções em relação à Rússia.
O fracasso não foi surpresa, pois na viagem de Biden ao Médio Oriente, a sugestão do Presidente norte-americano, que incluía até um pedido aumento de produção, tinha sido acolhida com muita frieza pelos Estados do Golfo.
Deste modo, está a desenhar-se um cenário de “the West against the Rest”, cenário que não pode deixar de ser preocupante para a causa da NATO e da UE.
Com estas medidas, a OPEP+ parece decidida a apostar num quadro de recessão iminente e proteger os interesses dos países produtores. A decisão foi tomada rapidamente – ao fim de meia hora – sem discussões de maior. É este também o vaticínio do World Economic Outlook Report: Countering the Cost-of-Living Crisis do FMI (Outubro de 2022), que prevê uma inflacção global de 8,8% em 2022.
A guerra na Ucrânia e as suas consequências abalaram as cadeias de produção, elevaram os preços da energia e da alimentação, forçaram os bancos centrais a subir as taxas de juro. É uma conjuntura que pode e deve levar a fenómenos de recessão e de crise das grandes economias e ao aprofundamento na dívida das periferias mais débeis.
Segundo Pierre Olivier Gourinchas, Conselheiro Económico e Director do Departamento de Estudos do FMI, “os riscos acumularam-se” e “prevê-se que um terço da economia global entre em recessão técnica”.
Sendo este o panorama, os cortes anunciados em 5 de Outubro pela OPEP+ e o entendimento Arábia Saudita-Rússia que parecem indiciar, vieram coroar uma avalanche de más notícias.
O ministro Saudita da Energia, Príncipe Abdulaziz bin Salman, justificou o corte de produção pelos receios de recessão – “preferimos prevenir agora do que lamentar depois”, declarou na conferência de imprensa pós-reunião.

