
Marrocos. Mercado privilegiado para as empresas portuguesas.
Neste artigo tem acesso a informação diversificada sobre este mercado que lhe permite ter uma visão geral sobre esta geografia e conhecer as relações que tem mantido com Portugal.
Primeiro parceiro de Portugal na região do Magreb, com € 1,133 mil milhões de bens transacionados em 2021, o que representou 52% de todo o comércio desenvolvido com os países do Norte de África – a grande distância da Argélia, nosso mais importante fornecedor da região em virtude dos hidrocarbonetos –, Marrocos tem vindo a afirmar-se nos últimos anos como mercado privilegiado para as empresas portuguesas, quer pela sua capacidade de absorção das nossas exportações, quer pela sua recetividade ao nosso investimento.
Desde há muito uma referência para Portugal, desde logo no plano económico e comercial, a relevância do país para a internacionalização da economia portuguesa tem-se tornado cada vez mais evidente. A proximidade geográfica, um clima de maior estabilidade política, social e económica, e níveis mais altos de competitividade quando comparado com os seus vizinhos do Magreb, são alguns dos fatores que explicam a relevância crescente do país para as nossas empresas.
Quinta maior economia africana (USD 131,465 mil milhões, 2021, FMI), o país colhe hoje os frutos da adoção ao longo das duas últimas décadas de importantes reformas económicas e mudanças políticas, que tiveram um impacto muito positivo no ambiente de negócios no país e na sua capacidade de atração de investimento estrangeiro, abrindo-se cada vez mais ao exterior. Uma abertura que se fez também sentir no plano comercial, destacando-se o crescimento muito satisfatório das exportações, para o qual contribuíram os acordos comerciais celebrados com mais de 50 países, entre eles o bloco comunitário europeu. Em 2020 (último ano para o qual há dados oficiais disponíveis a nível mundial, ITC), Marrocos surgiu como o 3º maior exportador africano, apenas ultrapassado pela África do Sul e pela Nigéria, no último caso em virtude do peso esmagador que o setor petrolífero ocupa na economia (e nas exportações) do país. O mesmo não acontece com Marrocos.
Estamos perante uma economia bastante diversificada que, embora historicamente assente na exploração dos seus recursos naturais como os fosfatos, recursos agrícolas e recursos piscatórios, soube também desenvolver a sua indústria transformadora, nomeadamente ligada ao sector têxtil (onde impera a produção de couro) e ao processamento de alimentos, assim como o setor do turismo, hoje central na economia do país. A par dos setores mais tradicionais, Marrocos apostou igualmente no desenvolvimento de setores emergentes como as energias renováveis, montagem eletrónica, setor automóvel, e aeronáutica: áreas em forte expansão e que prometem ser as bases de um contínuo desenvolvimento e modernização desta economia.
Ainda que sem valores de crescimento excecionais ao contrário de alguns dos seus vizinhos africanos, a estabilidade macroeconómica do país é um dos seus trunfos. Marrocos cresceu a uma média de 3,5% nos dez anos anteriores à eclosão da pandemia de Covid 19 que empurrou o país para a recessão (-6,3%), interrompendo a trajetória de crescimento que vinha sendo traçada. Foram vários os setores afetados, particularmente a hotelaria e atividades conexas ao setor do turismo, assim como algumas indústrias exportadoras locais. No entanto, a rápida reação do Reino ao surto pandémico, quer a nível sanitário, quer económico, ajudou a mitigar os efeitos económicos e sociais causados pelo vírus.
Os últimos dados do FMI (abril 22) apontam para uma espetacular recuperação em 2021 na ordem dos 7,2%. O crescimento deverá ser mais modesto ao longo do ano corrente (1,1%), com um Outlook mais positivo para os anos seguintes, na ordem dos 4,5% em 2023, mantendo-se estável, em torno dos 3,1%, até 2027.
Estabilidade política e crescimento económico são dois dos principais vetores de análise dos investidores na ponderação das suas estratégias de internacionalização. Marrocos preenche estes dois requisitos. No entanto, o país não está isento de riscos e o seu posicionamento geográfico, nomeadamente a proximidade a alguns países da região do Sahel – marcada por uma violência crescente em grande parte associada a fenómenos de radicalismo religioso e expansão jihadista – aconselha uma monitorização do quadro securitário regional.
As relações historicamente tensas com o seu vizinho direto, a Argélia, permanecem um fator a considerar, tanto mais depois do corte de relações com Rabat, anunciado unilateralmente por Argel em agosto de 2021, que veio contribuir para uma escalada daquelas tensões, e que poderá ter consequências negativas no plano da cooperação energética entre os dois países, no quadro do “Euro-Maghreb gas pipeline”, com as consequências daí decorrentes para a Europa e para as empresas que operam no setor.
Apesar de alguns riscos, o país tem conseguido manter a estabilidade necessária ao crescimento do seu mercado, cada vez mais dinâmico, inovador e atrativo para empresas do mundo inteiro interessadas nas oportunidades que o país tem para oferecer. Oportunidades que deverão ser ainda mais potenciadas pelo Novo Modelo de Desenvolvimento (le Nouveau Modèle de Développement), projeto estratégico publicado em abril de 2021.
No quadro do referido projeto merecem destaque os setores alimentar, agrícola e agroindustrial e a sua modernização, recorrendo a tecnologias que garantam a sustentabilidade dos recursos que servem de base ao seu desenvolvimento. Ainda no que respeita ao setor alimentar, destacamos, pelas necessidades de importação que têm vindo a ser registadas, o setor das bebidas – setor em significativo crescimento devido à alteração dos hábitos de consumo dos marroquinos, à melhoria dos circuitos de distribuição e ao turismo de massas.
A transição energética e o desenvolvimento sustentável são outra das áreas-chave do projeto, onde se esperam grandes desenvolvimentos. O país procura soluções de sustentabilidade, tecnologias de gestão de recursos e seu aproveitamento, com especial atenção à área dos recursos hídricos. São várias as empresas portuguesas que podem dar cartas na área das energias renováveis e soluções de eficiência e sustentabilidade energética.
O setor da Educação (e investigação) é outro que se pretende desenvolver, sobretudo na área do treino vocacional e especializado.
A Saúde é mais uma das áreas focadas e para as quais já havíamos alertado. A mais recente aposta na industrialização do setor da saúde, com destaque para o domínio dos medicamentos e produtos de saúde (nomeadamente dispositivos médicos) poderá igualmente traduzir-se em oportunidades de negócio para as empresas portuguesas.
Um outro objetivo estratégico prende-se com a necessidade de uma maior ligação e proximidade intrarregional, o que continuará a passar pelo desenvolvimento e construção de infraestruturas que permitam uma maior mobilidade e interconectividade entre as diferentes regiões do país. Continuam, por isso, a existir várias oportunidades de negócio na área da construção civil, equipamentos e materiais de construção, mas também no setor da transformação digital. O desenvolvimento das telecomunicações e das TIC são outras das grandes apostas que certamente se traduzirão em oportunidades de negócio e investimento que não deverão escapar às empresas portuguesas.
Considerado desde há muito um setor estratégico para a economia do país, o Turismo continua a apresentar oportunidades de negócio a explorar, assim como todas as outras atividades que lhe são conexas: lojas, restauração, imobiliário, mobiliário, arquitetura etc.
O dinamismo do setor privado é pedra de toque transversal a todas as áreas contempladas e ele não será cabalmente desenvolvido sem a participação e investimento estrangeiro.
A par das oportunidades de negócio apresentadas, no plano geopolítico e geoestratégico, Marrocos deve ainda ser considerado (já não apenas) uma porta de acesso a alguns mercados do Norte de África como, hoje em dia também, a um leque de tantos outros mais a sul, fruto da aposta estratégica que o país tem feito nos anos mais recentes no sentido uma maior integração regional no todo africano. Com os olhos postos na África subsariana, Marrocos tem vindo a procurar afirmar-se como hub de ligação ao resto do continente. Uma reorientação estratégica com reflexos práticos bastante visíveis na criação de grandes zonas francas como a de Tânger e Kenitra, o alargamento do porto de Tanger Med, ou até mesmo o seu regresso à União Africana em 2017.
Depois da contração verificada em 2020, fruto do contexto de pandemia, que no caso do relacionamento comercial com Marrocos ditou uma quebra tanto das exportações (-12,5%) como das importações (-8,4%), o último ano ficou marcado não apenas por uma forte recuperação das trocas, mas, acima de tudo, por ter sido um ano recorde no comércio bilateral com o país.
Pela primeira vez na história foi ultrapassada a barreira dos mil milhões de euros: um crescimento de 40% face a 2020 e de 23,7% face a 2019. Entre vendas e compras, em 2021 transacionaram-se mais € 217 milhões do que em 2019. É por isso possível dizer que o comércio bilateral com Marrocos não só está de boa saúde, como está mais forte do que nunca. Crescendo a uma média anual de 11,2% ao longo da última década, os valores atingidos em 2021 representam um crescimento de 175% face aos valores registados em 2010.
Embora no último ano as importações tenham subido mais do que as exportações (44,7% vs. 38,6%, respetivamente), esta performance não foi suficiente para inverter a balança comercial, tradicionalmente excedentária para Portugal. Com € 867,977 milhões em bens vendidos, as exportações continuaram a suplantar as importações que somaram apenas € 264,812 milhões. Uma tendência que deverá manter-se, a julgar pelo ritmo médio de crescimento das exportações que permanece acima do das importações: 12,2% vs 9,5%, respetivamente. (2011-2021).
Uma trajetória que se traduz numa maior preponderância de Marrocos enquanto nosso cliente do que enquanto nosso fornecedor, ocupando, em 2021, o 11º e o 32º lugares nos respetivos rankings. Mas talvez mais expressivo ainda, seja o posicionamento do país no contexto dos nossos mercados africanos de exportação, onde Marrocos surge como o nosso 2º maior cliente em toda a África, apenas ultrapassado por Angola, e representando 24% do total das nossas exportações para o continente. Trata-se, por isso, de um mercado-chave para as nossas empresas, 1 448 das quais exportavam para o país em 2019 (último ano para o qual há dados oficiais disponíveis).
Em linha com os anos mais recentes, em 2021, as nossas exportações com destino a Marrocos foram lideradas pelos metais comuns (24,7%), produtos minerais (15,8%), máquinas e aparelhos e material elétrico (12,5%), material de transporte (11,5%), e pelos plásticos e suas obras (7%). O peso destes 5 grupos de produtos no total das nossas exportações é muito significativo: 71,6%. Embora não integrando este top 5, deverão ser destacados, pelo aumento expressivo das exportações face a 2019, e consolidado em 2020 pese embora a conjuntura adversa, as exportações de: gorduras e óleos animais (+ 578,6% acumulado); animais vivos e produtos do reino animal (+235,6%); produtos do reino vegetal (+104%); e os produtos das indústrias químicas (+102%). Grupos de produtos que vêm evidenciando especial potencial exportador que deverá ser analisado pelas empresas portuguesas que operam nestas áreas.
Nota: A CCIP vai realizar uma Missão a Marrocos: Evento Alimentar, Bebidas e Turismo, de 6 a 10 de junho de 2022.
Localização geográfica: Norte de África/Magreb, entre o Atlântico Norte (a Oeste) e o Mar Mediterrâneo (a Norte) e com fronteira com a Argélia (a Este) a região do Saara Ocidental (a Sul) e os territórios espanhóis de Ceuta e Melila.
Capital: Rabat
Território: 446.300 km2 (área terrestre)
População: 36,911 milhões (2020, Banco Mundial))
Língua: árabe (oficial), línguas berberes (Tamazight oficial) e francês (língua da diplomacia, da política e dos negócios)
Moeda: Dirham Marroquino (MAD)
Ranking Doing Business Report 2020: 53/190 (+7 posições)
Index of Economic Freedom – Heritage 2022: 97/177 (-4,1 pontos)
PIB taxa de crescimento real 2022: 1,1% (est. FMI)
A CCIP coloca à sua disposição três formas de abordar o mercado:
Peça a sua proposta através dos contactos internacional@ccip.pt | +351 213 224 067

