Empresas portuguesas resistem à crise em Angola!

Terminou, no passado dia 4 de dezembro, a 36ª edição da Feira Internacional de Luanda (FILDA), que teve lugar na Zona Económica Especial (ZEE) Luanda-Bengo, este ano sob o tema “A tecnologia como suporte ao desenvolvimento do agronegócio e da indústria”. Considerado o maior evento comercial de dimensão internacional em Angola, a FILDA é apresentada como oportunidade para entrar no mercado angolano, ou consolidar presenças já aí estabelecidas, funcionando como plataforma privilegiada para o reforço das relações comerciais com parceiros angolanos.

Na edição que agora terminou, contaram-se 558 expositores de 15 países, tendo Portugal sido o país mais representado, através de uma participação conjunta de empresas dos setores de construção civil, metalomecânica, turismo, agroalimentar e tecnologias de informação e comunicação. A seguir a Portugal, a China foi a segunda maior presença no certame.

Sendo difícil calcular o retorno do investimento dos expositores, tanto mais quanto esse retorno tendencialmente não é imediato, uma coisa parece certa: não obstante as dificuldades por que passa, são muitas as empresas portuguesas que continuam a acreditar no mercado angolano. De outro modo não se explicaria a aposta e a presença esmagadora no evento.

As relações entre Portugal e Angola conheceram algumas dificuldades nos anos mais recentes, principalmente a partir de 2015, quando a quebra do preço do crude prejudicou sobremaneira a economia angolana (excessivamente dependente do petróleo), principalmente nas suas relações com o exterior. Perante um quadro económico-financeiro muito difícil, a falta de negócios e os obstáculos à expatriação de capitais, foram centenas as empresas portuguesas que abandonaram o mercado e quase metade deixou de exportar ou reduziu drasticamente as suas exportações para o país.

Mas Angola permanece um mercado no qual, a par de uma muito longa ligação histórico-cultural, se radicam importantes interesses portugueses nos domínios financeiro, industrial e comercial, implicando muitos milhões em investimentos e exportações, pelo que, à semelhança do passado, Angola é, e será sempre, um parceiro estratégico vital para a economia e comércio de Portugal.

Trata-se do nosso 3º mais importante parceiro comercial e o 2º maior cliente em todo o continente africano, com mais de € 667,5 milhões em bens exportados entre janeiro e setembro deste ano. Embora longe dos números do passado, são mais de 5.000 as empresas que exportam para o país, onde estão presentes cerca de 1000 empresas com capital português, e onde vivem e trabalham cerca de 135.000 portugueses.

Apesar da debilidade do quadro económico-financeiro, Angola permanece um mercado promissor pelo potencial de crescimento que apresenta. A desde há muito falada necessidade de reconversão desta petroeconomia, tornou-se, nos últimos anos, ainda mais urgente, e as dificuldades vividas em virtude da pandemia vieram reforçar este imperativo estratégico.

O país está a fazer um esforço de diversificação da sua economia que vai dar frutos e as empresas portuguesas poderão ter um papel central na transformação do país, num processo onde as oportunidades se multiplicarão, e não deixarão de ser aproveitadas por investidores de todo o mundo. Portugal precisa de estar atento. Estará?

Em matéria de investimento, Portugal permanece o 2º maior investidor no país (quer em número de propostas, quer no seu valor), a seguir à China. Mas em matéria de comércio, durante longos anos o 2º maior fornecedor de Angola, em 2019 Portugal foi ultrapassado pela França. Damos o alerta!

Neste processo de reconversão da economia, a agricultura deverá ter uma posição central. A Angola pré-independente era, sobretudo, uma economia agrícola e agroindustrial que a guerra civil aniquilou: repô-la em funcionamento irá requerer grandes investimentos e grandes recursos em termos de capital financeiro e humano.

O governo de João Lourenço pretende complementar a atenção dada à dinamização do sector primário com um ambicioso plano de privatização de cerca de 200 empresas públicas, a executar faseadamente até 2022, tendo o Banco Mundial sido convidado para consultor estratégico da operação. Encontrar os recursos, internos e externos, para o cumprimento deste programa, parece ser agora a prioridade económica do poder, que terá que ser articulada com reformas financeiras e fiscais que garantam a estabilidade monetária e de repatriamento dos investimentos.

É certo que o caminho a fazer é longo, e não será um caminho sem percalços e possivelmente com alguns recuos de quando em quando. Mas o caminho faz-se caminhando e há transformações já em curso.

As empresas olham de forma moderadamente otimista para os próximos dois anos, mas tendencialmente mais animadora no médio e longo prazo. Espectativas que não serão alheias à mudança estrutural a que fazemos referência. O Outlook avançado por vários organismos internacionais vai no mesmo sentido. Em recessão desde 2016, espera-se que a economia angolana comece a recuperar a partir do ano que se avizinha e de forma mais consistente nos anos seguintes.

A par da agricultura e da agroindústria, os setores da pecuária, das pescas e das florestas, a construção - principalmente tratando-se de infraestruturas, com destaque para as águas dada a grande potencialidade de Angola neste domínio -, a indústria transformadora, os transportes e a distribuição de energia, as TICs, encontram-se entre outros onde se esperam mudanças no país. A FILDA foi disto uma mostra muito clara.

A presença portuguesa pode ter sido predominante. Mas num país onde o interesse estratégico português é tão forte e profundo, mais do que na feira, é preciso reforçar a presença de Portugal no país e no mercado. Alemanha, França, Itália, Egito, Eritreia, EUA, Japão, Rússia e Turquia estão na corrida. Uma corrida onde não interessa ficar nos últimos lugares, a bem das nossas empresas, da nossa economia, a bem de Portugal.

 

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