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Ucrânia, uma das economias emergentes de maior potencial no contexto europeu

Neste artigo tem acesso a informação diversificada sobre estes mercados que lhe permite ter uma visão geral sobre este mercado e conhecer as relações que tem mantido com Portugal.

 

 

Um dos maiores países da Europa em termos territoriais e demográficos, uma localização geográfica estratégica no cruzamento de rotas comerciais de e para o continente, um crescimento económico notável, interrompido pela crise de 2008-2009 e pelos circunstancialismos políticos da década de 2010’s, mas que os analistas acreditam poder ser retomado já nos próximos anos, uma mão-de-obra qualificada, uma sólida base industrial, recursos agrícolas de enorme potencial e uma diversidade de oportunidades de negócio, fazem da Ucrânia uma das economias emergentes de maior potencial no contexto europeu.

Esta é, aliás, uma das primeiras ideias a reter: no contexto europeu. Isto porque, a Ucrânia ainda é vista como uma realidade distante e de relativa importância para Portugal. No entanto, este é um país-chave em muito do que acontece na Europa no plano político, económico, comercial e energético e, por maioria de razão, para o nosso país também.

A evolução política do Ucrânia tem sido, aliás, muito marcada pelo jogo de interesses entre a Europa (juntamente com os EUA) e a Rússia, oscilando ora entre uma maior aproximação ao Ocidente, ora um maior alinhamento com o Kremlim. Mas as relações com a UE conheceram um avanço significativo em janeiro de 2016, com a entrada em vigor de uma das mais importantes cláusulas do Acordo de Associação entre a UE e a Ucrânia (ratificado em 2015), respeitante ao livre comércio entre as partes. Um acordo que veio abrir portas a uma melhoria e reforço das relações políticas, económicas e comerciais entre a Ucrânia e os Estados-membros.

O quadro económico do país é outro que deve ser desmistificado.

Entre 2000 e 2007 a Ucrânia cresceu a uma espetacular média de 7,5% ao ano (a 2ª maior entre o grupo das 14 economias europeias emergentes ou em desenvolvimento) até ser atingido pela crise de 2008-2009 que levou a uma forte contração de -15%. Mas os anos seguintes foram de recuperação na ordem dos 4% e 5,5%, em 2010 e 2011, muito acima de importantes economias do bloco europeu. É certo que a crise política de 2014-2015 teve graves repercussões económicas, traduzidas num declínio cumulativo de -16,4% do PIB. Mas o país tem vindo paulatinamente a recuperar desde então (a uma média de 3% ao ano, 2016-2019), em larga medida devido às reformas implementadas depois da subida ao poder (2016) do primeiro governo tecnocrático do país.

Em linha com a conjuntura internacional, 2020 foi um ano de contração para a economia do país, com o PIB a descer -4,2%. Mas as perspectivas são muito optimistas, com os analistas a apontarem um crescimento de 4% já para o ano corrente e que deverá manter-se nos próximos cinco anos.

Com um PIB avaliado em USD 164,593 mil milhões, a Ucrânia surge como a 4ª maior economia emergente ou em desenvolvimento da Europa, apenas atrás da Polónia, Roménia e Hungria, e uma com maior potencial de crescimento num cenário em que consiga dar, de fato, resposta a um conjunto de vulnerabilidades que ainda afetam o país, limitado um maior e mais rápido crescimento.

 

 

Com um potencial de crescimento para os próximos anos entre os 4% e os 5% (consoante as fontes) e face à multiplicidade de oportunidades que o país apresenta, em áreas como a agroindústria, tecnologia de informação, transportes, no domínio aeroespacial e da defesa, entre tantos outros, são muitos os que defendem que a Ucrânia poderia e deveria ser apelidada como a próxima Polónia (por referência ao boom económico, comercial, tecnológico e industrial que o país vem conhecendo ao longo das últimas décadas). No entanto, e apesar da trajetória que a Ucrânia tem feito em circunstâncias extremamente desafiadoras (conflito, anexação, bloqueios comerciais etc.), um maior crescimento e desenvolvimento do país continua fortemente condicionado pelo fenómeno da corrupção e pelo poder de oligarquias instaladas, que em muito prejudicam o ambiente de negócios e as reformas necessárias à sua transformação.

A falta de transparência que caracteriza a ação de muitas instituições fiscais e aduaneiras, elevada burocracia, deficiências no funcionamento do sistema judiciário, com reflexo ao nível da resolução de disputas comerciais, uma carga fiscal elevada, alguma instabilidade política nos tempos mais recentes são outros fatores a considerar e que podem influenciar o risco político e económico do país.

Mas há também oportunidades a considerar.

No setor da maquinaria, desde logo para o setor agrícola. Apesar do país ser um importante produtor agrícola à escala mundial, o setor está subequipado e muita da maquinaria em funcionamento encontra-se desgastada e tecnologicamente atrasada. Entre as necessidades apuradas destacam-se os tratores, as ceifeiras, equipamento de plantação, pulverizadores e distribuidores de fertilizantes e infraestruturas de irrigação.

A indústria alimentar é outra a ter em atenção. Destacamos o segmento dos equipamentos de processamento e embalagem de alimentos. O cumprimento das normas e standards da União Europeia (UE), a expectativa de incremento das trocas com o bloco comunitário e a concorrência que se espera (admitindo-se uma crescente aproximação à UE) tenderão a levar os produtores locais a melhorar a sua competitividade, atualizando e modernizando as suas capacidades de processamento e embalagem. A verificar-se este cenário, poderão surgir múltiplas oportunidades para fornecedores de equipamentos para áreas tão diversas como a produção de gorduras animais e óleos vegetais, processamento de produtos vegetais, de confeitaria e produtos lácteos, processamento de carne e embalagem de alimentos.

O país tem vindo a aumentar os gastos com a defesa, setor que vem conhecendo um impulso nos últimos anos. No entanto, fatores como a corrupção, opacidade no governo/gestão do setor e limitada abertura ao investimento constituem obstáculos a considerar. Ainda assim, face ao aumento da procura interna e à necessidade do país reduzir a sua dependência da Rússia no setor, poderão existir oportunidades em segmentos como componentes para equipamentos de comunicação de rádio e componentes radioelectrónicos, motores para veículos militares e no segmento da ótica.

A indústria de petróleo e gás da Ucrânia tem um lugar central na estratégia nacional de segurança energética do país. O objectivo estratégico de aumento da independência energética – que passará pela diversificação das suas fontes de fornecimento e, mais ainda, pelo aumento da produção nacional de petróleo e gás natural – tenderá a criar oportunidades para empresas que operam na área do fornecimento de equipamentos e tecnologia aplicadas ao setor.

No plano das infraestruturas as oportunidades são múltiplas. Destacamos os transportes e as comunicações, dada a magnitude do Programa TEN-T. Um programa europeu de desenvolvimento de infraestruturas de transporte - consubstanciado numa multiplicidade de projetos tendentes a assegurar a coesão, interconexão, interoperabilidade e acesso a uma rede transeuropeia de transportes (aqui incluídos todos os Estados-membros e todos os meios de transporte) – no qual a Ucrânia deverá ter um papel central, enquanto um dos países-chave para o transporte de mercadorias de e para a UE, face ao posicionamento estratégico do país. Só em relação a infraestruturas ucranianas, o TEN-T inclui 39 projetos, igualmente previstos na estratégia nacional Drive Ukraine 2030, avaliados em quase USD 5,3 mil milhões. O país precisa ainda de um investimento adicional de USD 20 a 25 mil milhões até 2030, em relação ao qual o setor privado terá um papel central.

 

 

Em contraciclo com o que se verificou com muitos outros parceiros comerciais, em ano de retração as exportações portuguesas para a Ucrânia subiram (20,4%), atingindo EUR 30,7 milhões, evidenciando ainda mais fulgor do que em 2019, ano em que já haviam crescido perto de 11%. Uma performance exportadora altamente encorajadora, tanto mais dada a conjuntura negativa no plano das trocas mundiais.
Trajetória diferente tiveram as importações que somando EUR 205,9 milhões caíram -22,6%, depois de em 2019 terem crescido 9,7%. Um quebra que justificou uma descida global das trocas com o país (-18,8%) que se ficaram pelos EUR 236,6 milhões, menos EUR 54,7 milhões do que no ano anterior.

Em 2020, o saldo da balança comercial foi por isso negativo para Portugal, à semelhança do que vem consistentemente acontecendo ao longo da última década.

Com efeito, as relações comerciais com a Ucrânia têm-se caracterizado por um maior peso das importações face às exportações. Os números falam por si. De 2010 para 2020, estas registaram um aumento de 41,8%, enquanto aquelas subiram 74%. Mais ainda, com oscilações entre anos de crescimento e anos de contração de parte a parte, no final as importações vêm crescendo a um ritmo médio também superior (perto de 10% ao ano) ao das exportações (5,5%). Lisboa e Kiev vêm aproximando-se, indubitavelmente: 69% mais trocas do que no início da década! Uma aproximação, porém, que tem beneficiado mais quem compra, do que quem vende. Um quadro facilmente visível no posicionamento do país entre os nossos parceiros comerciais: 35º fornecedor e 70º cliente, entre janeiro e maio de 2020.

Mas há sinais positivos muito claros que importa não descurar. Desde logo, o já referido crescimento das exportações não obstante a conjuntura externa altamente adversa que marcou 2020. Crescimento este, aliás, superior ao registado em contexto pré-pandemia. Igualmente encorajador é o crescimento do número de empresas portuguesas a exportar para o país que mais do que duplicou desde o início da década, contando-se em 343 em 2019.

A madeira e cortiça, as máquinas e aparelhos, os produtos agrícolas e os metais comuns têm sido uma constante (2010-2019) no top 5 do que as nossas empresas exportam para a Ucrânia. Outras exportações importantes, mas que têm revelado mais oscilações, são os minerais e minérios, o calçado e os produtos alimentares. Os dados disponíveis relativos a 2020 (jan-mai) revelam este mesmo quadro, com as máquinas e aparelhos a liderarem as exportações (20,9%), seguidas pela madeira e cortiça (19,5%) e com os metais comuns na 4ª posição com 9,5%. Os restantes lugares do ranking foram ocupados precisamente pelos produtos alimentares (14%) e pelas exportações de calçado (9,4%).

Dentro destes grupos, de destacar o potencial exportador de nichos como as pastas celulósicas e papel, cujas exportações subiram 280% nos primeiros 5 meses de 2020, os plásticos e borrachas (+145,6%), os produtos de padaria e pastelaria, bolachas e biscoitos (+135%), os vinhos de uvas frescas (+66,7%), o café (+19,5%), as peles e couros (23,4%) ou as obras de cortiça natural (57,5%).

Outros exemplos poderiam ser dados, como o aumento das exportações de soro leite ou outros produtos constituídos por componentes naturais do leite que em 2019 registaram uma espetacular subida de 937%, ou dos veículos e materiais de transporte que cresceram quase 400% naquele ano. Exemplos que denotam o potencial de negócios desta economia para as empresas portuguesas que, pese embora alguns constrangimentos conjunturais aos quais a Ucrânia muitas vezes não consegue escapar e que podem influenciar o ambiente de negócios no país, têm conseguido adaptar-se, reinventar-se, continuando a apostar neste mercado.

 

 

Localização geográfica: país situado no leste europeu, entre a Bielorússia (norte), Rússia (norte-este), a Polónia, Eslováquia e Hungria (oeste), a Roménia e Moldávia (sudoeste) e banhado a sul pelos mares Negro e Azov

Capital: Kiev

Território: 579.330 Km2 (área terrestre)

População: entre 43,7 milhões (WFB, est.2021) e 44,4 milhões (Banco Mundial, 2019)

Língua: ucraniano (oficial), russo (uso generalizado/língua regional)

Moeda: grívnia ou hryvnia (UAH)

Ranking Doing Business Report 2020: 64/190 (sem alterações)

Global Competitiveness Index 2019: 85/141 (-2 posições)

Index of Economic Freedom – Heritage 2021: 127/180 (+1,3 pontos)

PIB, taxa crescimento real 2021: 4% (est. FMI)

 

 

A CCIP coloca à sua disposição três formas de abordar o mercado:

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