A Pandemia de Covid-19 é já considerada por muitos especialistas como a pior crise de saúde registada em mais de um século e, até mesmo, uma crise nunca antes vista na História, se considerarmos a natureza globalizada da actual economia e comércio mundial. Com maior ou menor expressão, diferentes graus de intensidade e de extensão dos seus efeitos, numa ou noutra geografia, a recessão económica foi global. No plano das trocas – um dos sectors mais afectados – os efeitos repercutiram-se no potencial exportador e importador das economias. O choque foi por isso sentido tanto do lado da oferta, como da procura, e a contracção acabou por se mostrar sem precedentes, também ao nível do comércio mundial.
Cerca de um ano passado do início da Pandemia, torna-se claro aos olhos de todos que o comércio internacional continuará a estar sujeito, ao longo de 2021, aos seus efeitos e implicações. A capacidade de adaptação, de inovação e, não raras vezes, de reinvenção tanto de empresas, como de consumidores, permitem algum optimismo. Mas para lá dele, o realismo dita a permanência de incertezas. Muitas, certamente muito significativas.
É certo que o início da vacinação permitiu começar a desenhar cenários mais concretos de reabertura e recuperação das economias. Foram, aliás, vários os indicadores que espelharam o aumento dos níveis de confiança dos mercados. Mas a pandemia está ainda longe do fim. Desde logo, porque muito está dependente dos programas de vacinação em massa. Não entraremos no debate em torno da sua (in)eficácia.
Chamaremos apenas a atenção para as dúvidas que surgem e riscos que persistem face à escala daqueles processos e ao tempo necessário para a sua, senão completa, pelo menos consequente implementação.
Se o pretendido é atingir os 60% a 70% da população mundial vacinada (leia-se, imune), é improvável, dizem os especialistas, que os efeitos dos programas de vacinação sejam sentidos globalmente antes do terceiro ou quarto trimestre do ano. Economia e comércio, vão continuar a ressentir-se.
- De forma unilateral ou enquadrados em agrupamentos regionais, os países adoptaram um conjunto de medidas, muitas delas também sem precedentes, para conter a crise e mitigar os seus efeitos sociais e económicos. Sucede, porém, que muitas das medidas tomadas (e que se exigiam) poderão ter consequências altamente preversas para a saúde, desta feita, das finanças públicas, agravando os níveis de endividamento das economias - muitas, já altamente endividadas! Cenários inicialmente admitidos de uma forte recessão seguida de uma recuperação acentuada, embora ainda possíveis para algumas economias, são agora considerados altamente improváveis para outras. Os mais atentos a estes temas facilmente perceberão de que lado da barricada umas e outras cairão. As diferentes capacidades de recuparção das economias e os seus distintos horizontes temporais, são também motivo de dúvidas e incertezas que não se esbatem perante o optimismo que anima algumas projecções. Economia e comércio, vão continuar a ressentir-se.
Muitos outros exemplos poderiam ser dados. Não podemos fazê-lo, cingidos ao curto-espaço. Mas acreditamos que os anteriores são suficientes para perceber que, ao contrário do presente texto, os impactos da Pandemia não vão cingir-se ao curto-prazo. Quanto aos efeitos no plano do comércio internacional, bastará reter que é provável que assistamos a ajustes tanto mais pronunciados, quanto maior for a duração da pandemia. Análises técnicas que aqui não se justifica desenvolver assim o demonstram. Pensar o comércio internacional ajustado apenas a 2021 – i.e. admitindo-se o melhor dos cenários de retoma em força até 2022 – seriam muito boas notícias.
- O Brexit e o acordo União Europeia-Reino Unido (em vigor desde as 23h00 de 31 de Dez. 2020), a política externa comercial da nova administração Biden (em exercício desde Jan.2021), e os acordos comerciais que têm vindo a ser negociados pela China, bilateralmente ou em blocos regionais (o caso do Regional Comprehensive Economic Partnership envolvendo a ASEAN e outros, e que se espera entrar em vigor ainda em 2021), são outros desenvolvimentos geradores de incertezas e que poderão afectar sobremaneira a evolução do comércio internacional em 2021.
- o que esperar das exportações portuguesas neste contexto?
De acordo com previsões anunciadas pelo INE no passado mês de Janeiro, as empresas portuguesas esperam um crescimento de 5,2% das exportações para parceiros da UE, e de 4,4% das exportações para fora do espaço comunitário. Conjugando os cálculos, a expectativa global de crescimento é de 4,9%. Um valor que reflecte um claro aumento de confiança face a 2020, ainda assim, abaixo dos valores pré-pandemia. Significa isto que, a verificarem-se estas projecções, o valor das exportações de bens em 2021 corresponderá a um nível 12,8% inferior ao total das exportações atingido em 2019. Uma recuperação é certo, mas ainda longe de onde estavamos quando a Pandemia chegou. As empresas vão mais longe e apontam para perspectivas de crescimento em alguns casos ainda mais significativas em categorias económicas específicas: máquinas e seus acessórios, fornecimentos industriais, material de transporte etc.
Perspectivas animadoras, certamente alicerçadas em análises competentes, e reveladoras de um esforço de recuperação por parte das nossas empresas que importará sempre apoiar. Não obstante, não será de mais relembrar o imperativo de conjugar optimismo, certamento necessário, com cautela. As incertezas são ainda muitas. Algumas, seguramente tão mais significativas quanto mais dependerem de conjunturas e factores externos que escapam à acção e controlo das empresas exportadoras portuguesas. Posto isto, quanto ao que esperar de 2021? Esperaremos sempre o melhor! Procuraremos ajudar para que assim seja.

