Produtos farmacêuticos de base, preparações farmacêuticas, equipamento de radiação e electromedicina, instrumentos e material médico-cirúrgico. De acordo com fontes do sector, nunca antes se exportou tanto do que de melhor se produz em Portugal nesta área.
Passados os primeiros seis meses de 2019, o balanço feito era já então altamente positivo e fazia antever um ano-recorde em matéria de exportações do sector. No final do primeiro semestre de 2019 as exportações em saúde tinham atingido os 694 milhões de euros, o que representava um crescimento de 7,5% face a igual período de 2018. Os dados recentemente avançados pelo INE relativos à totalidade do ano apontam para um aumento de 14,5%, atingindo-se um novo recorde de 1,5 mil milhões de euros em exportações. O melhor resultado de sempre da indústria. Números que traduzem o dinamismo do sector da saúde em Portugal e a sua crescente importância para a economia nacional.
No seu conjunto, a saúde representa um volume de negócios anual na ordem dos 30 mil milhões de euros, com um valor bruto acrescentado de cerca de 9 mil milhões, abrangendo aproximadamente 90 mil empresas e proporcionando 300 mil postos de trabalho. A evolução do sector da saúde em Portugal tem sido notável ao longo das últimas décadas e a exportação de produtos e serviços médicos e/ou associados tem sido um vector-chave do desenvolvimento e crescimento a que se vem assistindo.
As empresas portuguesas são hoje internacionalmente reconhecidas pelos elevados padrões de qualidade dos seus produtos e serviços, cada vez mais procurados por consumidores e mercados externos. Os números comprovam-no. Entre 2008 e 2018 as exportações nacionais em matéria de saúde mais do que duplicaram, registando um aumento de 106% no período considerado. Os resultados do último ano vieram apenas comprovar o sucesso da aposta que vem sendo feita pelas empresas nacionais no sentido da sua crescente internacionalização e consolidação da sua presença em mercados externos.
Mas para muitos, os números agora atingidos não são suficientes e há potencial e capacidade para ir mais longe. Ultrapassar a barreira dos 2,5 mil milhões de euros em exportações até 2025 é o objectivo estabelecido no “Pacto de Competitividade e Internacionalização” (PCI). Uma meta em direcção à qual o sector parece bem posicionado para atingir.
O objectivo estratégico final é fazer de Portugal um player cada vez mais competitivo no cluster da saúde, desde a investigação, concepção, desenvolvimento e fabrico de produtos e serviços ligados à saúde, até à sua posterior comercialização, com uma aposta muito clara em nichos de mercado e de tecnologia selecionados, procurando atingir os mais sofisticados, exigentes e mais relevantes mercados internacionais.
Através do PCI pretende-se dar um passo importante para alcançar este desígnio.
Trata-se de um acordo assinado em Março do último ano, entre o ministério da Economia e o Health Cluster Portugal – Polo de Competitividade da Saúde (HCP), no qual, além da meta estabelecida em matéria de exportações, foram inscritos outros objectivos estratégicos que reflectem o carácter transversal do plano concebido. Por exemplo, triplicar o valor dos ensaios clínicos realizados em Portugal, dos actuais 50 para os 150 milhões de euros. Alargar também em três vezes o universo de doutorados a trabalhar em empresas da saúde, passando dos 250 para os 750 efectivos.
Com efeito, o aumento das exportações é apenas “a ponta do iceberg”, ou a expressão mais facilmente perceptível, de um esforço mais vasto e verdadeiramente interdisciplinar que extravasa em muito qualquer estratégia de internacionalização a nível meramente empresarial/comercial. Ele envolve instituições de investigação e desenvolvimento, universidades, hospitais e, naturalmente, o tecido empresarial, nomeadamente, empresas da indústria farmacêutica, das áreas da biotecnologia, tecnologias médicas, serviços etc.
Também aqui os progressos são positivos. De acordo com o HCP, a produção científica nacional associada ao cluster da saúde aumentou 89% entre 2008 e 2015, com um número crescente de doutorados em ciências da vida ou da saúde. Contrariando o fenómeno de brain drain que caracterizou o universo da investigação científica nacional durante décadas, Portugal tem hoje um ecossistema de I&D vibrante e inovador e na sua base encontra-se um sistema de ensino de elevada qualidade, formador de milhares de profissionais qualificados nas áreas da medicina, enfermagem, terapia e reabilitação, engenharia médica, tecnologias de diagnóstico e terapêutica, ciências biomédicas, farmacêuticas etc.
Os resultados deste esforço conjunto de desenvolvimento e afirmação de um cluster nacional da saúde começam a surgir e o aumento das exportações do sector é disto um sinal evidente. Neste domínio, será agora necessário, mais do que nunca, perceber quais as barreiras que subsistem a uma maior internacionalização do sector – principalmente ao nível dos serviços médicos, onde o fenómeno da internacionalização é mais recente quando comparado com a internacionalização de produtos – que mercados-alvo devem ser priorizados… Acima de tudo, uma estratégia nacional integrada que permita alargar competências e capacidades no domínio da inovação, para produzir mais, melhor, e exportar. Exportar saúde.

