Desde o referendo de 2016, que se saldou numa decisão de saída do Reino Unido (Brexit) da União Europeia (UE), muito se tem escrito sobre os possíveis impactos dessa decisão, não apenas para o Reino Unido (RU), mas também para a Europa, principalmente para as empresas europeias com presença ou interesses no país, tanto por via do investimento, como por via das suas exportações. Grande parte das análises e estudos realizados têm-se focado nos impactos negativos, nos obstáculos e nas dificuldades que tal saída poderá significar. Tivemos, inclusive, oportunidade de referir (em edições anteriores) que, de acordo com alguns desses estudos, Portugal será mesmo o 4º maior Estado-membro exposto ao impacto da saída do RU do bloco comunitário.
Certo é que, desde então, se tem vivido um período de incerteza, de instabilidade política, social e institucional, com reflexos económicos significativos. Assim tem sido desde o início (com o acordo de saída já por três vezes chumbado pelo Parlamento Britânico e com sucessivos adiamentos da data de saída do país da UE) e a actual fase em que o país se encontra vem agravar ainda mais o clima de dúvida e insegurança.

A demissão de Theresa May, numa altura crítica do processo, deixou o RU e a Europa num impasse, sem tão pouco se saber quem iria assumir a liderança do país e encerrar o processo de saída. No seguimento de uma disputa interna dentro do partido, Boris Johnson tornou-se o seu novo líder, tendo já tomado posse como Primeiro-Ministro (PM). Está em curso uma enorme remodelação governamental, vão entrar novas caras no Parlamento, e muitos daqueles que agora rodeiam o novo PM assumem-se como euro-cépticos convictos. São esperadas novas estratégias, mudanças de políticas, até possivelmente no plano económico, um novo ciclo que promete agitar ainda mais um quadro já marcado pela incerteza e desconfiança.
O novo PM prometeu negociar um “novo e melhorado acordo de Brexit”, mas a UE prontificou-se a sublinhar que não está disponível para renegociações. Durante a sua campanha pela liderança do Partido Conservador, Boris Johnson assumiu-se como defensor de uma saída do RU no fim do prazo estipulado (actualmente 31 de Out.), mesmo que isso significasse sair sem um acordo. Posição que, já indigitado, reforçou de forma enfática. Uma saída sem acordo - cenário cada vez mais expectável - poderá gerar turbulência económica significativa e trazer especiais dificuldades para as empresas exportadoras para este mercado.
Mas apesar dos inúmeros desafios e das incertezas levantadas pelo arrastamento do Brexit, o RU continua a ser uma economia vital para a Europa e não deixará de o ser.
O último ano (2018) ficou marcado pela mais baixa taxa de crescimento dos últimos cinco (1,4%). Ainda assim, estamos perante a 5ª maior economia mundial e a 2ª da UE - ultrapassada apenas pela Alemanha - com o seu PIB (2.828,6 mil milhões de USD, 2018) a representar mais de 15% do total do PIB comunitário. Ainda que moderado, em 2019 espera-se um crescimento de 1,2%, permanecendo o país no 2º lugar entre as economias da UE, mas, pela primeira vez na história, sendo ultrapassada, a nível mundial, pela economia indiana.
Trata-se, igualmente, de uma potência comercial incontornável. É o 2º maior exportador mundial de serviços (1º europeu) e o 10º maior exportador de bens (5º europeu). Para o que mais importará às empresas exportadoras portuguesas, este é o 5º maior importador mundial de bens e o 6º maior de serviços (2018), apresentando-se como o 2º maior mercado da União em virtude dos seus mais de 66 milhões potenciais consumidores, grande parte deles com elevado poder de compra. Mais ainda, o país é um dos maiores receptores mundiais de investimento estrangeiro. Em 2017, já com alguns dos efeitos negativos do anúncio de saída a fazerem sentir-se, o RU foi o 3º maior receptor de investimento estrangeiro (em termos de stock).
Esta é uma economia altamente desenvolvida, a 4ª mais competitiva em toda a Europa, dotada de infra-estruturas de elevada qualidade, com um ambiente de negócios desde sempre caracterizado por um mercado forte, aberto, com elevados níveis de inovação e um enorme dinamismo empresarial.
Certamente que muito irá mudar, e serão grandes os desafios pela frente, podendo o novo contexto levar a que muitas empresas procurem reposicionar-se procurando novos mercados. Uma opção estratégica; com sentido. Mas numa altura em também se comemoram os 650 anos da Aliança Luso-Britânica, será igualmente decisivo para muitas das nossas empresas perceber que o RU é, e continuará a ser, um aliado fundamental, um parceiro comercial de enorme relevância, um mercado-chave para as exportações portuguesas de bens e serviços e que, como tal, importará preservar. E mesmo que numa primeira fase se perca alguma cota de mercado, não devemos deixar de aí nos afirmar com produtos de maior valor acrescentado. Não devemos deixar de procurar oportunidades, mesmo num contexto que, numa primeira análise, possa parecer altamente inibidor da nossa dinâmica exportadora. Não tem necessariamente de o ser. Não só subsistem oportunidades a explorar, como o próprio processo de saída poderá criar novas oportunidades. Haverá saber como explorá-las.
FACT BOX: REINO UNIDO
Localização geográfica: Território insular no Noroeste Europeu, entre o Atlântico Norte, o Mar do Norte e o Noroeste da França. Países constituintes: Inglaterra, Escócia; País de Gales e Irlanda do Norte
Capital: Londres
Território: 241.930 Km2 (área terrestre)
População: 65.105.246 em todo o R.U (est. Jul 2018). Países constituintes em % da pop. total: Ingleses (84%); Escoceses (8%); Galeses (5%) e Irlandeses do Norte (3%).
Língua: Inglês e línguas regionais de acordo com os países constituintes
Moeda: Libra esterlina
Ranking Doing Business Report 2019: 9/190 (sem alterações face a 2018 mas -2 face a 2017)
Global Competitiveness Index 2018: 8/140 (-2 posições, 2017)
Index of Economic Freedom-Heritage 2019: 7/180 (+ 0,9 pontos)
PIB taxa de crescimento real: 1,2% (est. 2019, FMI)

