Portugal na rota dos negócios da China

- uma via de dois sentidos - 

marcelo-rebelo-de-sousa-na-china

No seguimento da visita oficial a Lisboa do Presidente chinês, Xi Jinping, no final de 2018, foi a vez de o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa se deslocar à República Popular da China (China), numa visita oficial de três dias, entre 29 Abril e 1 de Maio. O Presidente português fez-se acompanhar por uma delegação parlamentar, composta por cinco deputados em representação dos respectivos grupos parlamentares, pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, do Ambiente e Transição Energética, e pelo Secretário de Estado da Internacionalização. Fez parte da agenda presidencial, o encontro com alguns dos maiores exportadores portugueses para o mercado chinês.

De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, os dois países estão a trabalhar com sucesso no sentido de “converter uma relação de séculos de amizade, de conhecimento e de colaboração, numa realidade viva, virada para o futuro.” Mais ainda, para o Presidente português, este “estreitamento das relações políticas”, com tradução num maior nível de cooperação, deverá significar a passagem de uma parceria estratégica (estabelecida em 2005) para um diálogo estratégico, constante, que fará subir de patamar político as relações luso-chinesas.

Do outro lado, também a China parece apostada em reforçar a cooperação bilateral com Portugal em todos os sectores, aprofundando um relacionamento que, aos olhos de Pequim, e notoriamente, tem “avançado sem sobressaltos”.

A China é já um dos principais investidores no mercado nacional, com destaque para a energia, banca, seguros, saúde e, mais recentemente, no sector da tecnologia, com milhares de milhões de euros aplicados, numa lógica que tende a favorecer o investimento financeiro, a compra de empresas estratégicas, ou posições accionistas nessas empresas, em detrimento do “investimento no terreno”, da instalação de novas empresas, geradoras de novos postos de trabalho. De sublinhar, ainda, que os chineses lideram também o investimento através dos “vistos gold”, programa lançado em 2012 que angariou um total de mais de 4 mil milhões de euros, na maioria através da compra de imóveis. No entanto, do outro lado da equação, são ainda muitos os sectores chineses fechados, ou com grandes limitações, à entrada de investimento externo.

No plano comercial, a China é actualmente (Jan-Fev 2019) o nosso 16º maior cliente e o 6º mais importante fornecedor, enquanto no último ano Lisboa foi o 61º cliente de Pequim e o seu 67º fornecedor. As importações de bens oriundas do mercado chinês ultrapassaram os 2.350 milhões de euros, significando isto uma subida de 14,6% face a 2017, ao mesmo tempo que as nossas exportações desceram quase 22% para os 657,8 milhões de euros. O resultado foi um saldo da balança comercial negativo para Portugal, no seguimento do que vem sendo registado nos últimos anos. Uma tendência que deverá manter-se, uma vez que as importações têm vindo a crescer a um ritmo maior do que o das exportações. Estas últimas têm, aliás, vindo a diminuir. Em termos absolutos, este desequilíbrio é ainda mais evidente. De 2014 para 2018, as exportações portuguesas para a China caíram 21,7%. Já as importações aumentaram quase 47%.

Numa altura em que o Presidente português enfatiza o “salto qualitativo” que está a ser dado nas relações bilaterais com a China, importará perceber de que modo isso poderá traduzir-se num maior equilíbrio da parceria estratégica entre as partes que, até ao momento, parece favorecer o lado chinês.

No plano do discurso, Xi Jinping fala em “abrir continuadamente” o mercado chinês e receber produtos de qualidade de todo o mundo, sublinhando que a China está disposta a importar mais produtos agrícolas, bens acabados/de consumo final e serviços competitivos. Mas há questões a fazer: até que ponto? Em que medida? E como responderão os investidores e as empresas exportadoras portuguesas.

 

Entre os principais grupos de produtos exportados para a China no último ano constam os veículos e outros materiais de transporte, as pastas celulósicas e papel, os minerais e minérios, as máquinas e aparelhos e os produtos alimentares. Mas em todos estes sectores houve quebras e em alguns casos bastante significativas (entre os 30% e os 50%). É por isso fundamental diversificar as nossas exportações, de modo a mitigar os riscos decorrentes destas grandes flutuações.

Mas a diversificação exige-se também pela expansão da classe média chinesa. Alguns estudos apontam para que em apenas 5 anos este grupo passe dos actuais 300 milhões para 600 milhões de pessoas, cujo rendimento disponível será tendencialmente maior e cujas ambições, hábitos e padrões de consumo também começam a mudar. Crescem os grupos com maior capacidade de compra e apetência para o consumo de bens importados que consideram de melhor qualidade. Um crescimento exponencial, uma mudança de paradigma, que não pode deixar de ser visto como uma janela de oportunidade para retalhistas e empresas de bens de consumo.

Em 2018, os sectores das matérias têxteis, do calçado, das peles e couros e dos produtos químicos foram os que mais aumentaram as vendas para a China. Mas existem outros com grande potencial ainda por explorar. Do retalho, à saúde, passando pela tecnologia, por vários sectores de consumo pessoal, como o vestuário/moda, o mobiliário, em muitos casos no segmento de luxo, são várias as oportunidades e os nichos para empresas portuguesas à procura do “negócio da China”.

Mas também há negócios menos óbvios que registam sucesso. O café é um caso a ser estudado, com empresas portuguesas a venderem para um mercado onde apenas 8% da população é consumidora do produto. Mas em 1.400 milhões de habitantes, aquele valor representa 112 milhões de consumidores. A dimensão do mercado compensa.

 

A China está a mudar, a entrar numa nova fase, onde se espera um maior grau de abertura, principalmente num contexto em que o consumo tende a tornar-se o principal motor do crescimento económico do país, em detrimento das exportações e do investimento público.

 

Não faltarão competidores e concorrência, mas num quadro de maior aproximação e reforço das relações luso-chinesas, é vital que o entendimento político a que se assiste tenha expressão prática do ponto de vista económico e comercial, numa relação que também beneficie as empresas, as exportações e a internacionalização da economia portuguesa. A rota está a ser traçada, os passos estão a ser dados, mas a via tem de ter dois sentidos.

 

Ser Associado da Câmara de Comércio significa fazer parte de uma instituição que foi pioneira do associativismo em Portugal.

 

Os nossos Associados dispõem do acesso, em exclusividade, a um conjunto de ferramentas facilitadoras da gestão e organização das respectivas empresas.