a importância do regresso ao passado que nunca deixou de ser presente
A par dos sectores, a necessidade de diversificar mercados tornou-se há muito uma evidência para as empresas portuguesas não apenas como estratégia de crescimento nos mercados internacionais, mas também como forma de gestão de risco. Este tem sido um tema bastante debatido entre especialistas, empresários, e uma estratégia apoiada por entidades públicas e privadas no seu esforço visando a crescente internacionalização da economia portuguesa, procurando auxiliar as nossas empresas exportadoras na identificação e entrada em novos mercados que não os tradicionalmente considerados - nomeadamente a Espanha (historicamente o nosso mais importante parceiro comercial), a França, a Alemanha ou o Reino Unido, apenas para mencionar alguns - e aqui parece ter sempre havido consenso em torno da necessidade e urgência em que assim fosse.
Mercados na América Latina, novos parceiros africanos fora da lusofonia, as potencialidades e os níveis de inovação e modernização em alguns mercados do Médio Oriente e até mesmo em geografias mais distantes do sudeste asiático ganharam novo fôlego e relevância na procura por novos mercados de destino para as exportações nacionais. Assim foi, legitimamente, com sentido e com orientação estratégica.
No entanto, os dados mais recentes do INE relativos ao comércio internacional do último ano, e aos quais fizemos já algumas referências no mês de Fevereiro, indicam que foram precisamente os mercados fora da Europa que arrefeceram as exportações portuguesas em 2018. O crescimento de 5,3% das exportações registado no último ano foi claramente inferior à subida de 10% que havia marcado 2017, num abrandamento de ritmo justificado pela diminuição das exportações para os mercados extra-europeus, com destaque para as quedas de mercados como o Brasil e Angola. O aumento das importações foi superior, daqui resultando um crescimento do défice comercial na ordem dos 2.670 milhões de euros.
Se a este quadro de arrefecimento global dos mercados exportadores juntarmos o momento de viragem em curso no quadro da economia e do comércio mundiais - tema que analisámos na edição do passado mês de Fevereiro - marcado, entre outros aspectos (1) por um menor rimo de crescimento de economias com peso sistémico e, como tal, com capacidade para alterar o rumo da economia e comércio mundial, e (2) pela turbulência em alguns mercados emergentes que já teve impacto na confiança, na procura e no crescimento económico, perceberemos que temos pela frente uma nova conjuntura em emergência, geradora de maior incerteza e volatilidade que vai exigir novos cálculos de equilíbrio entre o risco e o retorno. No limite, novos cálculos na escolha dos mercados a privilegiar.
As empresas portuguesas têm, por isso, de estar preparadas para voltarem a readaptar-se a esta nova realidade em formação, o que poderá passar por uma espécie de regresso a um passado que nunca o foi verdadeiramente. Quer isto dizer, virarmo-nos de novo para os nossos parceiros tradicionais, nomeadamente para Espanha, França, Alemanha e para o Reino Unido (aqui com especiais preocupações pelo momento decisivo que se vive no país).
Foram, aliás, os parceiros europeus, com Espanha à cabeça, que no essencial suportaram a subida das exportações no último ano. As compras dos outros parceiros da União Europeia a Portugal subiram 8,1% para 44 mil milhões de euros (o que significa 76% do total). Já as exportações extra-UE caíam 2,7%. Em 2017 as vendas nacionais ao exterior tinham crescido em qualquer uma destas vertentes.
Dos cinco principais clientes fora do espaço comunitário - EUA, Angola, Brasil, Marrocos e China - só as exportações para os EUA é que registaram um crescimento. Ainda assim, não o suficiente para contrariar o quadro geral de decréscimo a que se assistiu.
De acordo com o INE, as exportações portuguesas dentro do espaço comunitário continuaram a ser lideradas pela vizinha Espanha que consolidou, aliás, a sua liderança como mais importante parceiro comercial de Portugal, subindo 5,9% e ultrapassando a fasquia dos 14,6 mil milhões de euros. O crescimento foi ainda mais expressivo tratando-se das vendas à França e à Alemanha que aumentaram 6,6% e 6,3%, respectivamente. No seu conjunto, só estes três mercados respondem por 50% das compras ao nosso país. Mais expressivas ainda foram as exportações com destino à Holanda que somando 2, 47 mil milhões de euros registaram uma significativa subida de 27%, ultrapassando a performance italiana.
Perante este quadro, e não deixando de valorizar a importância da diversificação geográfica dos nossos mercados exportadores além Europa - que foi evidente na sequência da crise do euro e que permanece e permanecerá relevante - voltemos ao papel central do Velho Continente para o comércio internacional português. Os números mostram que assim tem de ser. Ficarão por analisar as principais oportunidades e desafios com os quais as empresas portuguesas poderão ser confrontadas nestes mercados em 2019.

