Em 2019 o mundo vai crescer, mas menos. Para onde exportar? Em que mercados investir? Qual o sentido da internacionalização das empresas e da economia portuguesa? Quais os seus limites? Estas são algumas das questões que importa analisar a cada ano que começa e, talvez mais ainda, quando tudo indica estarmos perante um momento de viragem no quadro da economia e do comércio mundiais. Não abordaremos, neste mês de Fevereiro, todas estas questões. Tentaremos apenas dar um contributo para esta reflexão.
Depois da tendência generalizada de crescimento à escala global registada em 2017, com alguns analistas a apontarem, até, um pico de crescimento - na sequência da recuperação da economia mundial que se seguiu ao período de crise iniciado em 2008-2009 - o último ano parece ter sido de estabilização, tendo voltado a acentuar-se as clivagens económicas e as disparidades nos ritmos de crescimento entre as diferentes geografias. A par da evolução do PIB nas diferentes regiões, existem outros indicadores que sugerem estarmos, de facto, no final de um ciclo de crescimento global, que tem à cabeça a desaceleração dos três grandes blocos económicos mundiais - EUA, China e UE, responsáveis por mais de 62% do PIB mundial e mais de metade dos fluxos comerciais (importações e exportações).
Parece certo que os três blocos vão continuar a crescer, embora a um ritmo mais lento, o que, por si só, não deixará de ter repercussões no todo da economia mundial. Mas no caso concreto dos EUA, o risco de recessão está a aumentar, sendo já vários os analistas que avançam a possibilidade de recessão técnica a partir de 2020/21. Quadro pouco animador tratando-se de um mercado de mais de 329 milhões de consumidores, para onde exportam mais de 3 200 empresas portuguesas num volume total de vendas superior a 2,671 mil milhões de euros (Jan-Nov 2018) e que figura como o 5º maior cliente de Portugal.
A estas mudanças acrescem outras preocupações como o aumento do proteccionismo, as tensões geopolíticas entre os EUA e a China, o regresso do cepticismo relativamente à Europa - sublinhando-se questões como o processo de saída do Reino Unido da UE, os problemas orçamentais em Itália, o clima de tensão em Espanha, o futuro político na Alemanha, não apenas em virtude da popularidade em declínio da coligação no poder, mas também face às incertezas do que será uma Alemanha pós- Angela Merkel, o que isso significará para o futuro do projecto europeu - e a turbulência em países emergentes que também já prejudicaram a confiança, a procura e o crescimento económico em diferentes medidas.
Este final de ciclo traz consigo um conjunto de incertezas políticas e macroeconómicas que tenderão a aumentar a volatilidade dos mercados e a desacelerar o consumo e os resultados das empresas nos tempos que se avizinham. Um quadro que poderá sentir-se um pouco por todo o mundo. Portugal não será excepção.
Sabemos da importância da internacionalização como uma das principais estratégias das empresas portuguesas para potenciar o seu crescimento e, em alguns casos, assegurar a sua sobrevivência no contexto da crise que assolou o país e perante um mercado interno estagnado. Conhecemos os bons resultados alcançados. Em 2008, o número de empresas exportadoras rondava os 54 000. Dez anos depois, aquele número tinha subido para 60 577. No mesmo período, o peso das exportações passou de cerca de 30% para 44% do PIB. Entre analistas, empresários e uma multiplicidade de stakeholders, o objectivo é atingir os 80% do PIB dentro de alguns anos.
No entanto, os dados recentemente divulgados (Fev. 2019) relativos a 2018 sugerem uma quebra nas nossas exportações. É certo que se verifica um aumento de 5,3% no quadro geral, mas este valor revela uma desaceleração face à subida de 10% que marcou 2017. Acresce, que em Novembro as vendas ao exterior diminuíram 8,7% face a igual período do ano anterior. Em termos trimestrais, a diminuição foi de 1%, algo inédito nos últimos dois anos. De acordo com alguns estudos, as próprias empresas exportadoras perspectivam uma desaceleração nas suas expectativas de exportação para este ano de 2019.
Perante estes números e face ao quadro mundial inicialmente apresentado, será possível pedir mais à internacionalização da economia portuguesa? A forte dependência do país face ao exterior coloca as nossas empresas exportadoras numa situação particularmente sensível face aos factores externos apresentados. Ainda assim, é possível fazer mais. Deve ser feito mais!
Algumas pistas.
É necessário continuar a apoiar e incrementar os esforços de internacionalização das empresas portuguesas, principalmente das PMEs e, sobretudo, numa lógica de apoio à diversificação de produtos e de mercados. A maioria das empresas exportadoras (78%) ainda exporta apenas para um único mercado. É necessário alterar este quadro, até como forma de redução de risco.
Igualmente importante é a crescente integração das nossas empresas nas cadeias de valor internacionais, apostando também na exportação de produtos importados, depois de lhes ser acrescentado valor.
Objectivo para o qual será imperativo investir em ligações infra-estruturais e em plataformas logísticas, assim actuando sobre factores que ajudem a diminuir o carácter periférico da economia portuguesa.
Apostar na investigação e desenvolvimento é outro dos caminhos, continuando a alimentar aquilo que em artigos anteriores apelidámos de “uma nova dinâmica exportadora”. Dar continuidade a esta dinâmica - assente na criatividade, na inovação, na modernização, no investimento tecnológico, na diferenciação de produtos e serviços e fazendo uso dos instrumentos da transformação digital - para nos posicionarmos e concorrermos nos mercados mais desenvolvidos e com altos níveis de exigência.
Em significativo crescimento, também o turismo deve ser pensado de forma estratégica, i.e., como instrumento potenciador das exportações nacionais, associando à divulgação de destinos regionais, a promoção de produtos locais - caracterizadores da cultura nacional - feitos embaixadores da marca Portugal.
Finalmente, e fazendo eco dos alertas de alguns especialistas e investigadores, seria altamente benéfico reconhecer a importância do conhecimento, das competências e da experiência internacional que muitos dos emigrantes trazem consigo aquando do seu regresso ao país de origem - enquanto um conjunto de valências essenciais nos processos de empreendorismo internacional - através de políticas adequadas para os atrair e acolher.
O ano que agora começa não se avizinha o mais fácil para as nossas empresas exportadoras. É por isso ainda mais premente continuar a apoiá-las, ajudando-as a encontrar possíveis soluções para velhos e novos desafios.