As relações comerciais com Angola são tradicionalmente muito expressivas, com o país a ocupar uma posição de relevo entre os parceiros comerciais de Portugal: 8º maior cliente e 13º fornecedor (Jan-Set, 2018). Trata-se, inclusive do 2º maior mercado de destino das nossas exportações fora do espaço europeu (apenas ultrapassado pelos EUA), o 1º entre os mercados africanos e entre os parceiros da lusofonia. Este é, indubitavelmente, um mercado estratégico para Portugal.
Ainda assim, as trocas entre os dois países têm passado por algumas oscilações, entre períodos de crescimento e outros de clara retracção. Depois de quatro anos de grande dinamismo que marcaram o início da década - particularmente acentuado em 2011 e 2012 com um crescimento das trocas na ordem dos 40% - os anos mais recentes têm sido de contracção, em média de -22,1% entre 2014 e 2017, neste último ano tendo-se atingido um valor de comércio acima dos 2.066 milhões de euros, o que representou um quebra de 10,6% face a 2016. Quebra justificada por uma forte descida das importações (-65,6%), que no total não chegaram a atingir os 279 milhões de euros. As compras a Angola têm vindo a diminuir continuamente, tendo esta sido a maior em quatro anos sucessivos de quebra. Aliás, nos últimos dez anos, nunca houve uma descida das importações tão acentuada como a registada em 2017. Porém, dados relativos a 2018 (Jan-Set) revelam uma possível inversão desta tendência, com as importações a aumentarem em mais de 310% face a igual período do ano anterior.
O ano de 2017 foi bem mais favorável do lado das exportações. Depois das fortes quebras de 2015 e 2016 (-33,9% e - 28,5%, respectivamente), com cada vez menos empresas portuguesas a exportarem para Angola - de 9.431 em 2014 para 7.464 em 2015 e 5.513 em 2016 - o ano de 2017 foi de recuperação, com as exportações a subirem 19%, somando um total de 1.787,2 milhões de euros. Valores que se traduziram num saldo comercial favorável ao nosso país, à semelhança do que vem acontecendo ao longo da última década.
O incremento registado em 2017 deveu-se, também, a um maior número de empresas que voltaram a exportar para o país (5.838), ainda assim, menos 40% do que há dez anos atrás. As matérias têxteis, os metais comuns, os produtos de vestuário, os plásticos e borrachas, bem como os instrumentos de óptica e precisão mostraram-se sectores particularmente pujantes. Mas houve também empresas que aproveitaram o potencial exportador de sectores como o da madeira e da cortiça, dos minerais e minérios, do calçado, ou mesmo em nichos como os óleos de soja, as construções e suas partes (de ferro, ferro fundido e aço), vinhos de uvas frescas e entre o grupo dos medicamentos.
Os dados disponíveis relativos a 2018 (Jan-Set), revelam que, em termos absolutos, as exportações para Angola continuaram a ser dominadas pelas máquinas e aparelhos (24,5%), seguidas pelos produtos agrícolas (14,4%), produtos químicos (12,2%), alimentares (10,7%) e pelos metais comuns (9%), numa estrutura em tudo idêntica à de 2017. No entanto, não poderá ser ignorada uma diminuição nas exportações em todos estes grupos, quando comparado com igual período do ano anterior. Ainda assim, deverá ser igualmente notado que o clima político instalado com o novo Executivo de João Lourenço e a sua agenda de governação têm gerado, mesmo que com cautela, maior confiança nos empresários e investidores. Uma mudança que se espera vir a sentir-se também em Portugal, com as exportações com destino ao país a ganharem novo folego, dadas as oportunidades apresentadas pelo mercado angolano.

