Os novos horizontes da cortiça portuguesa

Abordámos já o tema da internacionalização através do design, alertando para a importância deste elemento para muitas empresas que querem vender mais, mais caro e mais longe. Nessa altura, fizemos referência à cortiça enquanto exemplo privilegiado de um sector que tem sabido reinventar-se, aliando design, criatividade, modernização e inovação tecnológica, com consequências muito positivas não apenas ao nível da diversificação de produtos de cortiça, como, acima de tudo, da sua internacionalização.

Tanto assim é, que hoje são muitos os que falam do sobreiro como um dos maiores tesouros nacionais e da nova vida que ganha a jóia da coroa - a cortiça - cuja excelência conquista investidores e empresários em todo o mundo, despertando, até, interesse crescente por parte da ciência.

Dados relativos a 2016 mostram que a indústria da cortiça atingiu 937,5 milhões de euros em exportações, o que representou um crescimento de 4% face a 2015. Só as rolhas de cortiça - tradicionalmente o seu grande pilar – foram responsáveis por 72% do total das exportações, valor que denota o peso significativo deste sector no conjunto da indústria. Mas os números nem sempre foram animadores e o sector das rolhas já passou por um período de enorme crise (2000-2009) - em parte, mas não exclusivamente, devido ao aparecimento de vedantes alternativos - com perda significativa de quota de mercado. Todavia, a última década foi de clara recuperação, com as exportações a aumentarem 200 milhões de euros, e aqui as rolhas de champanhe têm um lugar de destaque. Este é um segmento onde a maioria da produção nacional tem como destino os mercados externos. São milhões de garrafas de champanhe que em todo o mundo usam rolhas de cortiça “made in Portugal.” Em 2016, só as rolhas de champanhe representaram 20% do total exportado, com a França, a Itália e os EUA a surgirem no topo dos mercados de destino. A par do champanhe, também o consumo de vinhos espumantes explica a importância destes mercados para as vendas de rolhas portuguesas.

Mas o sucesso da cortiça não se limita a este sector. Em 2016, os materiais de construção representaram 25% do valor registado em exportações, com a cortiça a invadir em força o imobiliário e a habitação.

A área dos transportes é outra onde a cortiça está claramente a dar cartas e com enorme potencial de desenvolvimento, mas não a única. Todos os dias surgem novas ideias e aplicações, com a cortiça a ser aliada à moda – vestuário, calçado, acessórios de luxo, etc. – ao mundo do desporto, à decoração de interiores, reduzindo peso, prolongando a vida dos produtos, reduzindo consumos, tornando ambientes mais acolhedores e “amigos do ambiente”. A mudança nos estilos de vida, actualmente marcada por tendências ambientalistas e mais “eco-friendly” têm igualmente contribuído para a reorientação da indústria da cortiça, uma actividade identificada também pela sua sustentabilidade.

A cortiça ganhou nova vida também na área das energias - onde é usada, por exemplo, em torres eólicas - da química e da farmacêutica, onde também hoje se estuda a sua utilização.

Não menos importante são os sectores aliados às novas tecnologias. Este é um material que chega hoje aos telemóveis, com algumas marcas nacionais a apostarem na utilização da cortiça, conseguindo atingir uma facturação anual de cerca de 5 milhões de euros, em alguns casos com as vendas ao exterior a representarem 95% daquele valor. Por enquanto, a cortiça é usada principalmente no exterior do telemóvel mas, apostando cada vez mais em I&D e no potencial da cortiça como material tecnológico, o objectivo é criar o primeiro telemóvel do mundo feito essencialmente em cortiça. Pese embora limitações de diversa natureza, Portugal tem condições privilegiadas para o desenvolvimento deste segmento de mercado, podendo vir a tornar-se um “major player” nos mercados internacionais. Todavia, entre os especialistas parece consensual a ideia de que o país tem de avançar rapidamente sob pena de ser ultrapassado por mercados concorrentes.

Além dos sectores identificados, existem muitas outras novas aplicações da cortiça que apresentam um elevado potencial de crescimento, também ao nível das exportações, onde Portugal já lidera com uma quota de quase 63% no mercado internacional e com a cidade de Coruche a afirmar-se cada vez mais como capital mundial da cortiça.

A dimensão da internacionalização do sector é notável. Com mais de 90% do que é produzido a ser exportado para mais de 100 países, em 2016 a contribuição do sector da cortiça para o aumento das exportações nacionais foi de 7,5%. Os dados relativos a 2017 (Jan-Set) são encorajadores e apontam para mais uma subida das exportações (4%), atingindo cerca de 750 milhões de euros.
Os números revelam o dinamismo de uma indústria que ganha novos horizontes a cada ano que passa. Para esta trajectória foi essencial a promoção internacional da fileira, pois cedo se percebeu que não bastava fazer bem os nossos produtos, não era suficiente ter uma indústria competitiva que tinha feito um investimento de mais de 500 milhões de euros em 10 anos, com uma verdadeira renovação e remodelação dos seus recursos, nomeadamente, dos seus recursos humanos, hoje, cada vez mais especializados. Foi crucial redirecionar estratégias, repensar e inovar o sector. Os resultados estão à vista.

 

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