Arquitectura portuguesa de exportação

“Young architects are shaking up Portugal and building on the country’s stellar design reputation…(their) buildings demonstrate an energetic generation who have found creative ways to strive in an uncertain economy.”

Estas são as palavras que introduzem o mais recente artigo da revista digital “The Spaces”, dedicada à arquitectura, design, arte e imobiliário em todo o mundo. No mês de Março, o destaque vai para a arquitectura portuguesa.

Fizemos já referência, em edições anteriores, a uma “nova dinâmica exportadora” a que se assiste em Portugal, alicerçada no investimento tecnológico, na modernização e numa cada vez maior aposta na criatividade e inovação, enquadrada por estratégias de crescimento muito mais orientadas para consumidores e mercados externos. Uma nova dinâmica exportadora que se reflecte, igualmente, na diversificação dos sectores de exportação e, neste sentido, olhámos para o “mobiliário made in Portugal” - que vai conquistando mercados internacionais, afirmando-se pela modernidade da sua imagem e pela qualidade do seu design - para o novo calçado português, que segue as mesmas passadas, para o têxtil e vestuário, para a joalharia e até mesmo para a cortiça como exemplos de sectores que se projectam e afirmam internacionalmente pelo design, conseguindo, através dele, vender mais, mais caro e mais longe.

“The Spaces” parece vir agora alertar-nos para o potencial da arquitectura portuguesa neste mesmo contexto.

O tema em si não constitui novidade, pois não pode deixar de estar associado ao sector da construção, cuja internacionalização se foi tornando uma realidade cada vez mais frequente ao longo das últimas décadas, em grande parte para responder à estagnação do mercado interno, e que hoje é um eixo central na internacionalização da economia portuguesa. Mas ainda que associada, a arquitectura tem, ou deveria ter, um lugar próprio nesta internacionalização.

Nomes como Souto Moura, Carrilho da Graça, Manuel Aires Mateus, entre outros, há muito que levam a arquitectura nacional para fora de portas, mas os últimos anos viram outros seguir-lhes o caminho. Para alguns a prospecção de mercados externos começou antes da crise do imobiliário, mas acentuou-se a partir de 2007-2008 quando os preços do sector colapsaram, com resultados catastróficos para os arquitectos portugueses.

Assim, a par com o sector a construção, também a arquitectura foi procurar novos mercados. Brasil, Colômbia, México, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Marrocos, Argélia, Geórgia, Roménia, Cazaquistão, China, Singapura e Malásia começaram a surgir no radar dos arquitectos portugueses. Qatar e Emirados Árabes Unidos também, sendo hoje uma verdadeira rampa de lançamento para os ricos mercados do Médio Oriente e da Ásia, mas onde ingleses e americanos oferecem uma dura competição.

Assistia-se, neste quadro, a uma crescente projecção externa de ateliers portugueses e para muitos a componente internacional chegou a representar entre 80% a 90% da sua facturação. Planeamento urbano, reabilitação, hotéis, restaurantes, centros de negócio, habitação, museus e até embaixadas passaram a ter assinatura portuguesa. A arquitectura de sustentabilidade era também uma preocupação.

Mas a internacionalização comporta riscos, muitas vezes bastante elevados. Os arquitectos portugueses competem em mercados externos cada vez mais exigentes e onde os níveis de investimento requeridos são muito significativos. Acresce, que muitos gabinetes de arquitectura, principalmente os de menor dimensão, não têm estruturas nem estratégias claramente definidas para exportar os seus serviços. Não menos importante é o risco político de alguns mercados, muitas vezes marcados por culturas bastante diferentes, com parâmetros de qualidade díspares e, por vezes, com uma abordagem projetual também muito distinta. É por isso fundamental uma prospecção cuidada do mercado de destino, de possíveis parceiros locais, para aí conseguir entrar, consolidar e expandir. Ainda assim, muitos têm conhecido sucesso, com cotas de mercado inicialmente ganhas pela apresentação a concursos a expandirem por via de convites à apresentação de projectos.

Mas a retoma do mercado português e o aumento da procura doméstica nos anos mais recentes têm ditado um certo regresso a casa e uma diminuição do volume de negócios no exterior, com a vertente internacional a representar actualmente apenas 40% a 60% da facturação. É cedo para perceber se estamos, ou não, perante um novo el dourado em Portugal. Mas mesmo que assim seja, o novo ímpeto do mercado interno não deve fazer reverter o caminho que vinha sendo percorrido além-fronteiras, tanto mais quanto permanece para ver a sustentabilidade do actual quadro nacional.

A internacionalização da arquitectura portuguesa continua, por isso a ser uma necessidade, e muito ganharia se os seus serviços fossem divulgados estrategicamente e considerados na agenda da diplomacia económica do país, tendo em conta as suas potencialidades.

É importante que seja dada continuidade ao percurso iniciado, projectando no exterior um “modo português” de fazer arquitectura que, fazendo eco de uma arte que há já vários séculos soube internacionalizar-se, se afirme pela sua inteligência, capacidade de saber fazer, pela sua qualidade, versatilidade, carácter inovador e capacidade em assegurar projectos e serviços que possam competir internacionalmente. Os arquitectos agradecem, a economia portuguesa também.

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