Artigo de Bruno Bobone, Presidente da CCIP, na sua rúbrica semanal no Diário de Notícias.
Não conheço o Nuno Melo. Nem sequer posso dizer que conheça muito daquilo que fez ao longo do tempo.
Mas foi com admiração que o vi assumir, no pior momento que uma instituição pode ter, a coragem de dar o corpo por aquilo que foi a sua opção de vida.
Conheci vários casos de instituições que estavam em más condições e em que me envolvi para as recuperar.
Eram organizações com as quais partilhava valores, ideais, responsabilidades e ambições. Por isso aceitei esses desafios.
São sempre momentos de muita preocupação, de muita aflição e de uma enorme solidão.
São momentos em que poucos nos acompanham, em que muitos duvidam, mas em que os que ficam são sempre os melhores.
Tornam-se amigos de uma enorme profundidade, companheiros de uma luta e confidentes das nossas vidas.
É um tempo em que trabalhamos sem saber se chegamos, sem ter qualquer perspetiva de retorno e mesmo colocando em risco a nossa credibilidade.
Depois, se conseguimos devolver a glória a essa instituição, aí ela enche-se de pessoas, torna-se apetitosa e todos nos dizem que era claro que tinha de ser feito.
Provavelmente até acham que nessa altura a liderança já precisa de ser mudada. Que temos de dar lugar a outros e que uma instituição não deve depender de ninguém.
E têm razão.
Mas no momento em que está aflita e destruída, essa mesma instituição depende tão-só daquele que acreditando se dispõe a que tudo corra mal.
Estou, por decisão minha, a deixar a presidência de uma instituição que passou por esse processo.
Chegou a hora de a entregar a todos os que a possam levar por um caminho de sucesso e que a possam fazer melhor do que eu a deixei.
Mas principalmente que a possam deixar ser independente, para que possa continuar a fazer o seu serviço.
Uma instituição com quase duzentos anos que voltou a viver.
É por essas razões que quero deixar aqui expressos a minha admiração e o meu apoio a quem, no pior momento desde a sua criação, decidiu apresentar-se para recriar o CDS.
Num tempo sem dinheiro, sem voz, sem parlamento e sem crédito, Nuno Melo decidiu assumir a responsabilidade de aparecer, dizendo acreditar naquilo em que ninguém mais acredita.
Apostar num partido que caiu de tal modo que os que o podiam ajudar deixaram claro que preferiam sair.
Um partido que tem tudo por refazer.
Tem de voltar a conseguir criar a simpatia dos seus votantes, tem de voltar a ser alternativa credível no pensamento dos portugueses.
Um partido que vale pelos seus valores tanto sociais como económicos. Que defende a pessoa como nenhum outro, promovendo a criação de riqueza sempre com o sentido da sua distribuição.
Um partido que faz falta a Portugal. Que Portugal não pode abdicar de o ter e que os portugueses precisam para refazer esta sociedade, hoje tão fragilizada pela guerra e pela pandemia.
É neste momento de dificuldade e de escassez de apoio que me revejo profundamente nesta atitude do Nuno Melo de se disponibilizar para servir Portugal, os portugueses e o CDS.
Por tudo isto parabéns e boa sorte. Que o trabalho tenha sucesso e que o partido da democracia cristã volte a ser fundamento da nossa sociedade.
Disse-me o Papa que de uma crise nunca se sai só, ou saímos todos ou não sai ninguém.
Por mim, saímos todos.