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Artigo de Bruno Bobone, Presidente da CCIP, na sua rúbrica semanal no Diário de Notícias.

Estamos a caminho de um momento importante para a nossa democracia. As eleições de 30 de janeiro poderão redefinir o espectro político da direita portuguesa.

Por um lado, temos os partidos tradicionais com uma redefinição de lideranças e com uma crise de identidade que vai levar a algum reposicionamento dos seus eleitores.

Por outro, os novos partidos, que surgiram com soluções mais radicais em alguns temas, tornam-se apelativos para quem se não revê na imagem actual daqueles partidos e assim tornam-se o porto de abrigo desses eleitores descontentes.

Na minha perspectiva estas eleições não têm, para a direita portuguesa, uma oferta motivadora e credível que seja suficiente para justificar uma nova escolha: uns porque estão descaracterizados e outros porque não apresentam uma solução global para a sociedade, mas tão só para uma parte dos problemas.

Para mim uma sociedade tem que se basear nos seguintes princípios e valores:

- Os princípios do Bem Comum, do Destino Universal dos Bens, da Subsidiariedade, da Participação e da Solidariedade;

- Os valores da Verdade da Liberdade e da Justiça.

Preconizo uma sociedade baseada na Pessoa e que defende o direito à vida, o direito a viver numa família unida e num ambiente moral favorável ao desenvolvimento da própria personalidade, o direito a maturar a sua inteligência e liberdade na procura e no conhecimento da verdade, o direito a participar no trabalho para valorizar os bens da terra e a obter dele o sustento próprio e dos seus familiares, o direito a fundar uma família e a acolher e educar os filhos segundo as suas convicções e o direito à liberdade religiosa, entendida como direito a viver na verdade da própria fé e em conformidade com a dignidade transcendente da pessoa.

Isto significa que acredito numa sociedade tolerante e inclusiva, respeitadora da liberdade de todos e que acredita na pessoa humana e no seu desenvolvimento sempre na busca de felicidade.
Acredito numa economia de criação de riqueza destinada a ser partilhada por todos através de uma sociedade participativa em que todos são parte e todos são beneficiários.

Acredito num salário digno e na inclusão e participação de todos na empresa.

Acredito numa economia social de mercado, numa economia de liberdade, mas com intervenção social para evitar os desajustes que se têm verificado no Mundo.

Acredito no direito à propriedade privada, mas sempre na perspectiva da sua contribuição para o bem comum.

Acredito na preservação da natureza ao serviço da humanidade.

Não acredito na permissividade que tem substituído a tolerância e sou completamente contrário ao politicamente correcto.

Por tudo isto, porque sou cristão e democrata, sou democrata cristão.

E, apesar de ver que quem defende a democracia cristã no nosso país tem andado mais distraído com a discussão do "quem" antes do "o quê", acredito que é fundamental manter uma referência desta forma de pensar e desta forma de viver. E isso só será possível se se mantiver um partido com estas referências.

Hoje discute-se lideranças e quem defende melhor estes princípios e valores, mas eu preocupo-me mais em defender esses valores, independentemente de quem vai estar a defendê-los.
Se quem hoje lá estiver não for capaz outro virá para o tentar. Mas se esse partido acabar, esse outro não terá como o fazer.

Também já outros tentaram e falharam, também muitos que podiam ter lá estado não o fizeram. Hoje não é o futuro, mas é o momento para o preparar.

E eu não quero um futuro sem democracia cristã.

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