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Artigo de Bruno Bobone, Presidente da CCIP, na sua rúbrica semanal no Diário de Notícias.

Na última semana assistimos a uma definição sobre o futuro de um partido que, de uma forma mais ou menos assertiva, representou a direita em Portugal. Não representou toda a direita, e algumas vezes não defendeu aqueles que são os valores de direita, mas foi quem maioritariamente albergou a direita ao longo dos anos.

Desta vez, o PSD decidiu-se por um caminho que o leva definitivamente para o centro e mais ainda para muito perto do centro-esquerda.

Esta opção, que também poderá ter como motivação a procura de um acesso mais rápido ao poder, através de um potencial apoio a um governo socialista sem maioria, estará em parte condicionado por um certo desencanto com a excessiva predominância do tema económico sobre os restantes temas da vida que, por erro e omissão da direita, passaram a dar a ideia de que seriam temas de esquerda, como seja o ambiente, o social e a cultura, levando a uma viragem nesse sentido.

Por outro lado, o CDS entrou também numa crise de identidade, mergulhado numa divisão entre aqueles que se preocupam com a essência dos valores e princípios da democracia cristã e aqueles que seguiam focados na discussão do modelo económico como o objectivo fundamental da política nacional.

Seja qual for a razão, a verdade é que a direita deu um novo passo no sentido da sua divisão aumentando a sensação de vazio de soluções aglutinadoras e alternativas de vitória que permitam galvanizar o apelo ao voto e a acreditar que existe uma solução.

Pelo contrário, aquilo que estamos a assistir é a atomização dessa direita em diversos partidos que defendem soluções parciais e que conseguem os seus apoiantes com base nas preocupações mais imediatas de cada um.

Contudo, a sensação que se vive hoje na direita portuguesa é de alguma orfandade em relação aos seus representantes, não só pela crise que se instalou nestes partidos, mas também pelo trabalho que estes partidos não foram capazes de realizar na defesa dos valores e das convicções que as pessoas que a compõem acreditam.

Seja na área do apoio social, na defesa da vida, na defesa da família, no combate à permissividade, no consentimento de uma censura de esquerda baseada em valores que vão contra aquilo que foi construído ao longo de séculos, no revisionismo da história, a verdade é que o politicamente correto levou estas pessoas a terem que conviver com aquilo em que nunca acreditaram e sem ninguém que os defendesse.

A atomização da direita baseia-se, fundamentalmente, numa procura de projectos que defendam as preocupações mais imediatas de cada um. Conforme a sua própria vivência, cada pessoa foi procurar apoio naqueles que mais força dão aos temas que os afectam directamente.

No entanto, aquilo que sairá desta movimentação é uma continuidade da esquerda que nunca lhes trará os resultados que procuram. Terá que surgir uma solução mais global que permita reunir todas aquelas preocupações num projecto de união que reúna a direita e que lhe permita voltar ao poder.

A direita tem que decidir se quer que essa nova solução seja mais focada numa visão mais moderada ou mais radical, numa solução mais economicista ou mais social ou humana.

E isso vai ser definido pelas convicções daqueles que lançarem este novo projecto de reunir a direita.

Por isso é hoje muito mais importante começar a trabalhar nesse novo projecto do que continuar a batalhar pela vitória de qualquer das suas partes. Quem ganhar uma guerra dentro da direita apenas contribuirá para a dividir.

Só triunfará aquele que hoje tiver a visão de reunir de novo a direita com um projecto que seja inclusivo de todos e de todas as sensibilidades.

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