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Artigo de Bruno Bobone, Presidente da CCIP, na sua rúbrica semanal no Diário de Notícias.

Para nós portugueses é sempre um orgulho termos alguma coisa em que somos os melhores do Mundo. Temos épocas melhores e outras piores, mas, de quando em vez, lá vamos tendo os nossos motivos de orgulho.

Depois de termos tempos em que o nosso maior orgulho era a maior mesa de pratos lavados, na ponte Vasco da Gama, outros tempos em que o que nos destacava era o maior deficit nas contas públicas. E houve ainda outros que nos presentearam com grandes feitos, como Eusébio, Amália, Carlos Lopes, Durão Barroso, Salvador Sobral, Marisa, o Euro 2016, António Guterres e Cristiano Ronaldo.
Hoje temos um novo destaque mundial. A vacinação!

Ora, estava eu precisamente a desfrutar do meu orgulho de português, no sábado passado, com a televisão ligada à espera de ver a entrada triunfal do nosso Cristiano (nosso, naturalmente, porque me coloca no topo do Mundo sem que eu nada tenha feito para o conseguir...) que, com uma velocidade superior aos seus adversários e uma presença de espírito de quem não envelhece, marcou só e mais nada os dois primeiros golos da sua equipa, quando muito surpreendido me dei conta de que nas bancadas estava uma multidão de adeptos que, imaginem os despudorados, estavam desmascarados!

Pensei que das duas uma, ou estava a ver o canal história ou... então não é que os doidos dos ingleses, que não têm nem por sombras a competência "vacinadora" das nossas instituições, estavam a viver uma vida normal. Então não querem lá ver que não há ninguém naquele país que possa mandar prender quem se atreve a tirar a máscara?

Nós, por cá, ao menos temos o bom senso de andar de máscara posta, em muitos casos até quando estamos sozinhos num automóvel... não vá o bicho ter alguma nova estirpe que seja mais dado à condução.

Felizmente essa noite li nas notícias que o governo britânico iria voltar a repensar a sua decisão quanto às máscaras e que voltaria a ser provável a sua utilização em algumas situações de ajuntamentos. Lá descansei...

E não é que no dia seguinte lá vem o primeiro-ministro inglês que, não só não diz nada sobre as máscaras, mas ainda afirma que não vai ser exigida a apresentação do certificado de vacinas para entrar em nenhum lugar? Como é que eles vão ser capazes de prejudicar os restaurantes e os bares se não os obrigarem a enxotar os clientes com todas aquelas questões de saber sobre a nossa vida privada, sem que tenham qualquer competência para o fazerem?

E a sensação de controlo constante sobre as nossas vidas que se perde porque não estão sempre a tentar condicionar-nos?

No meio de toda esta minha confusão de sentimentos vem a notícia de que também nós iríamos ter o nosso "Freedom Day". Uma "freedom" muito relativa. A partir de segunda-feira já não seria obrigatório usar máscara ao ar livre.

Mas atenção, tanto os comentadores televisivos como a liderança da DGS, com uma saudade evidente do seu poder de mandar em nós, recomendavam a todos que, apesar de não ser obrigatório era muito recomendável manter a sua utilização. No fundo, a ideia de uma burka sanitária que, já não sendo necessária, sempre mantém o povo debaixo de controlo.

Está bem de ver que somos de facto muito mais inteligentes que os nossos aliados ingleses, que provavelmente só por muita sorte têm vivido sempre muito melhor que nós e que prezam a liberdade como se fosse uma religião e que com pragmatismo sempre seguem uma estratégia compreensível para todos os seus cidadãos, por respeito por eles próprios.

Já nós não. Somos muito mais capazes de destruir as nossas próprias decisões e de confundir os nossos cidadãos com ordens e contra ordens, tentando sempre não perder a possibilidade de controlar cada pessoa. Como dizia um velho amigo: "A censura, afinal, é de esquerda".

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