Artigo de Bruno Bobone, Presidente da CCIP, na sua rúbrica semanal no Diário de Notícias.
De uma crise não se sai sozinho, ou saímos todos ou não sai ninguém e também de uma crise não se sai igual: ou saímos melhores ou saímos piores e para isso os empresários têm trabalho."
É uma parte da mensagem que o Santo Padre me deixou gravar no final desta extraordinária oportunidade que tive de conversar com o representante máximo da Igreja Católica.
É muito importante termos esta consciência em todos os momentos da nossa vida: só ultrapassamos as dificuldades se estivermos juntos e que é nesse tempo que devemos decidir se queremos sair melhores dessas dificuldades.
É no tempo de paz que nos preparamos para a guerra. É nos tempos bons que nos devemos preparar para ultrapassar as crises.
E é por isso que devemos estar todos os dias atentos e focados em criar a união entre todos, para que na crise, que surge quando menos a esperamos, estejamos já unidos e preparados para a ultrapassar.
E podemos sair sempre melhores. Sair melhores quer dizer mais preparados para resistirmos a novas dificuldades, mais dispostos a estar com os outros de maneira que seja mais verdadeira aquela união que nos salva nos tempos difíceis.
Para conseguir essa união temos de ver no outro a pessoa que está à nossa frente, incluí-lo nas nossas decisões, fazê-lo participar na nossa vida, nas nossas dúvidas e nas nossas convicções.
Mas temos também de fazê-lo participar nas nossas dificuldades e nas nossas conquistas, partilhar com ele as nossas angústias e as nossas alegrias.
E tudo isto só é possível se eu considerar o outro como me considero a mim. Somos pessoas.
O Papa Francisco escreveu que a empresa é uma Vocação Nobre. Isto significa que o empresário recebeu essa vocação de ser capaz de juntar os diversos fatores de produção, de forma a criar maior riqueza, que é fundamental à melhoria da qualidade de vida no mundo.
Mas esta vocação nobre, para conseguir ser de facto criadora dessa melhoria, tem de ter um resultado nobre de envolver e incluir todos os que participam na criação dessa riqueza, de forma que possamos, em conjunto e unidos com os mesmos sentimentos, trabalhar mais e melhor na conquista de uma maior criatividade.
Eu tenho uma empresa com 250 anos e sei que a empresa chegou a esta idade apenas porque as pessoas que aí trabalharam foram importantes.
Em dois séculos e meio de vida tivemos muitos momentos bons e muitos outros difíceis.
Passámos guerras e revoluções, crises económicas financeiras e pandémicas e foi exatamente na capacidade de estarmos unidos nessas crises que conseguimos sobreviver tantos anos.
Sem essa união teríamos sido abandonados por todos os que foram fundamentais para as ultrapassar e nunca teríamos chegado até aqui.
Mas também é essa capacidade de unir esforços, competências e interesses que nos leva a conseguir sair das crises melhores e não piores.
Uma crise facilmente pode promover um isolamento sobre mim mesmo.
A necessidade de sobrevivência leva-nos a considerar tratar primeiro de nós próprios e assegurar a nossa sobrevivência e essa tentação é a que nos faz ser pior, fugir à união com os outros e finalmente acabar por não sair verdadeiramente da crise.
Acabamos por seguir com essa crise dentro de nós, sem nos conseguirmos livrar dela. Foi este o desafio que me fez o Santo Padre. Que saiba criar na minha empresa uma nova forma de viver, em que todos participem na sua condução, no seu cuidado e no seu benefício.
Em que todos vivam uma união de vontade baseada numa diversidade de opiniões, em que cada um seja ele mesmo e que não tenha de se anular para levar a empresa por diante, mas que, pela sua diferença, contribua para uma melhor união e uma maior criatividade.