que
Artigo de Bruno Bobone, Presidente da CCIP, na sua rúbrica semanal no Diário de Notícias.
Foi há praticamente dois anos que tive a oportunidade de publicamente desafiar Marcelo Rebelo de Sousa a candidatar-se a um segundo mandato. Fui provavelmente o primeiro a fazê-lo e fi-lo exatamente pelas mesmas razões que me levam a escrever - hoje, aqui - este texto.
Durante largas décadas a Europa e o mundo evoluíram no sentido da democracia e da liberdade. A ideia de mudar o acesso ao poder, atribuindo aos atos eleitorais a base desse mesmo poder, era a solução ambicionada pelo mundo para conseguir chegar a um estádio de liberdade e respeito pelas pessoas.
Com este sistema de governação, e confiantes de que este sistema nos permitiria a confiança para nos abrirmos ao mundo, avançámos na globalização. E fizemo-lo sempre baseados no paradigma de sucesso da economia de mercado - o sistema que mais contribuiu para a criação de riqueza.
Contudo, tanto pela habituação ao sistema, pelo comodismo que se instalou através dessa mesma criação de riqueza, como pela clara perda de foco sobre aquilo que é a essência de todas as nossas ações - e que é a pessoa humana -, a verdade é que chegámos a um ponto em que o sistema deixou de nos encantar e passou a ser a razão de todas as frustrações, e como tal condenável.
É em resultado desta sensação de frustração que assistimos ao despontar por todo o mundo de movimentos de contestação que se afirmam contra o politicamente correto e que se tornam muito apelativos, pois geralmente prometem aquilo que as pessoas gostariam de conquistar.
Para combater essas frustrações torna-se fundamental a promoção de projetos que vão ao encontro dos anseios das pessoas que, na sua origem, se fundam em questões que verdadeiramente importa corrigir e melhorar. Contudo, quando associadas aos temas mais populistas, promovem a instabilidade e a imprevisibilidade e acabam por criar situações com as quais não queremos conviver, mas que não poderemos evitar.
Veja-se o caso daquilo que sucedeu nos Estados Unidos: mesmo os mais entusiastas defensores das políticas imprevisíveis de Donald Trump nunca suspeitariam que poderia tudo terminar com um assalto ao Capitólio. Da mesma maneira, os admiradores de Maduro não poderiam acreditar que um país com a riqueza da Venezuela pudesse estar a passar fome, nem que a China voltasse a ter um presidente vitalício.
É neste mundo que temos de ir votar. Ainda que em Portugal o papel constitucional do presidente da República não seja decisivo para tudo mudar nesta matéria, o presidente é a referência do país que queremos e é o garante do tipo de sociedade que pretendemos para o nosso futuro.
E o que eu quero é uma sociedade que se foque na qualidade das pessoas que a compõem, em que todos importam e em que todos têm o direito de ser felizes. Uma sociedade em que o respeito verdadeiro pelas pessoas e pelos seus ideais seja intocável.
Em que as religiões sejam respeitadas pelo que representam para os crentes e em que o bem comum tenha primazia sobre o bem individual.
Uma sociedade em que haja oportunidades iguais para todos, onde haja uma preocupação de criar riqueza, mas que seja sempre criada com o objetivo de ser distribuída com justiça por todos os seus membros.
Uma sociedade e um país em que procuremos todos juntos encontrar um caminho integrador e inclusivo em que produzamos sempre mais pela complementaridade do que pela competição.
Um país em que seja mais importante ser feliz do que ser rico, ajudar do que ganhar, ser pessoa e parte do todo, do que ser só mais um membro de uma fação.
É por tudo isto que acredito que vale a pena Marcelo..