Artigo de Bruno Bobone, Presidente da CCIP, na sua rúbrica semanal no Diário de Notícias.
Depois de um longo jogo de mentiras, meias-verdades e ameaças chegou a previsível notícia de que a Rússia está a invadir a Ucrânia.
É, de facto, uma muito má notícia em todos os aspetos.
É uma afirmação de desrespeito pela ordem internacional, é um desafio ao equilíbrio das relações internacionais, é um teste à firmeza da posição das democracias ocidentais e é uma mensagem de insegurança e instabilidade para a vida no mundo.
O maior risco está em saber quais são as intenções verdadeiras de quem decidiu enfrentar esta ordem internacional mostrando um total desprezo pela posição dos restantes países - e desconsiderando os prejuízos que terão junto da sua população as sanções económicas que foram prometidas para fazer face a esta tomada de decisão de começar uma guerra.
Em qualquer caso esta decisão de invadir a Ucrânia por parte da Rússia é uma decisão totalmente condenável e inaceitável à vista de todas as convenções internacionais.
Ao contrário da política, as decisões económicas, com exceção das que são controladas politicamente - o caso das sanções -, não tendem a ter em consideração quem é o detentor do direito aos recursos de determinado país.
Aquilo que conta para a economia e para os mercados é quem tem de facto a propriedade dos bens e dos serviços que são trocados a nível internacional.
Nesta perspetiva, o efeito que a guerra pode ter na economia tem mais que ver com o tempo que ela vai demorar do que com quem sairá com o poder nesse país.
Se uma guerra se prolonga, inibe o desenvolvimento da produção, diminui a possibilidade de estabelecer relações comerciais e acaba por eliminar os agentes económicos dessa região dos mercados internacionais.
Por outro lado, se a guerra se faz durante um curto período, a continuidade dos produtos no mercado não é afetada, independentemente de quem é o verdadeiro último beneficiário da venda desses produtos.
É, pois, aqui que se vai definir qual o impacto que esta guerra poderá ter na economia internacional, que por sua vez impactará na economia portuguesa, uma vez que a nossa relação comercial direta com a Ucrânia tem uma expressão muito reduzida.
Ao nível da economia mundial, se a guerra for curta e se for só esta, o efeito será como um pequeno soluço que trará durante um curto período um aumento dos custos de energia e das taxas de juro, paralelamente com um agravamento da inflação, mais motivado pelo medo psicológico dos decisores que evitarão tomar medidas, sem ter em consideração o efeito de uma guerra mais prolongada.
Se a guerra se prolongar, ou se depois desta for tentada uma outra qualquer invasão de outro país, aí sim, estaremos confrontados com uma subida da inflação que passará de conjuntural a estrutural e que afetará de forma muito mais grave a subida dos juros, o aumento dos custos de produção e tudo isto associado a uma diminuição da procura, que resulta também do medo que se cria numa situação como esta.
Daqui resulta que se a situação que estamos hoje a viver terminar num curto espaço de tempo e não trouxer nenhuma ação posterior de guerra, então a preocupação poderá ser apenas de curto prazo e sem um impacto que possa ser letal.
Na hipótese contrária, é bom que as empresas e os seus líderes se preparem para uma nova realidade em que a liquidez se vai tornar muito mais importante e em que o endividamento vai ter um impacto muito mais negativo sobre os resultados das nossas empresas.
Nestas circunstâncias é, na minha perspetiva, fundamental que os países aliados na NATO se preparem para uma reação muito mais forte e efetiva que assegure que as ambições russas sejam contrariadas, que politicamente seja defendida a autonomia e a independência da Ucrânia, para garantir que a economia mundial (e a portuguesa) possa continuar a crescer sem ser confrontada com as dificuldades adicionais que advêm desta crise.
É fundamental que a NATO se imponha assumindo que não dará uma oportunidade à Rússia de avançar nem mais um passo e preferencialmente recuperar a independência da Ucrânia.
A paz conquista-se com coragem, sensatez e visão. Ainda vamos a tempo.